Mais um dia...
Outro dia…
Mais um dia…
É assim, todos os dias. Um após o outro.
Sempre iguais… Sempre diferentes…
Acordo. Olho para o lado. E só então me lembro que, agora, já não estás lá.
Estou sozinho.
Levanto-me. É madrugada. Toda a gente dorme. Eu, não. Porque o corpo já não quer mais continuar deitado.
Mais um dia me espera.
Faço o que tenho a fazer.
E, depois, já não há nada para fazer.
A não ser ficar a olhar para esta casa vazia.
Para o silêncio. Que só é interrompido pelo eco dos meus pensamentos, e da minha voz.
Que vida esta é a minha, agora, sem ti?
As horas demoram a passar. Ainda falta tanto para me deitar…
E, mais uma vez, perceber que, também nesse momento, estarei só.
Por companhia, tenho apenas a televisão que, às tantas, já aborrece de tão repetitivos que são os programas.
Já não tenho olhos para os livros.
Já não tenho pernas para os passeios.
Sou livre, mas sinto-me encarcerado.
Estou vivo, mas sinto que uma parte de mim morreu contigo.
Por vezes, tenho companhia familiar. Distraio-me.
Afasto os pensamentos. Afasto a dor. Afasto as memórias.
É bom. Faz-me bem. Sinto-me abençoado, e agradecido. Mas não é suficiente.
A vida dos outros não pára. Nem eu quereria isso.
Mas a minha vida estagnou. Num tempo diferente.
Que não acompanha os demais. Nem tão pouco espero que os demais abrandem, para me acompanhar.
Não penso em morrer. Mas também não me sinto viver.
Estou só.
Horas e horas de solidão.
E, então, está na hora.
Deito-me.
Um último pensamento para ti.
Adormeço.
Até ao dia seguinte.
Outro dia.
Mais um dia…