Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Devem, os médicos, julgar os seus pacientes?

Apontar dedo Foto stock gratuita - Public Domain Pictures

Para mim, os médicos deveriam informar, esclarecer, aconselhar, ajudar...

... mas, em momento algum, julgar.

Infelizmente, ainda se veem médicos a julgar e condenar os pacientes por não seguirem aquilo que, para eles, faz sentido.

Um médico que diz ao doente "Teve covid, foi bem feito! Eu bem disse para levar a vacina." é um bom profissional? Isto é coisa que um médico deva dizer?

 

A par com este tipo de julgamentos está, também, a arrogância de alguns médicos.

Sabemos que o tempo deles é escasso, têm muitos doentes para atender, e que muitos pacientes abusam e falam de tudo e mais alguma coisa.

Mas, logo à partida, cortar a palavra do paciente porque aquilo é a consulta da especialidade "x", e não é para falar de outros problemas, é mau.

Até porque, sem ouvir, o médico não sabe se aquele problema ou queixa que o doente ia referir, não estaria, de alguma forma, relacionado com o da especialidade em que está a ser seguido.

 

Esta semana fui com o meu pai a uma consulta de nefrologia.

O médico, a determinado momento, perguntou que medicação o meu pai estava a tomar.

Com tantos comprimidos que toma, ele não se lembrava dos nomes dos medicamentos. Então disse "Agora assim de repente não sei."

E o médico: "Não sabe? Alguém tem que saber." Isto, dito em tom de reclamação. Como se fosse um crime. 

Lá respondi que era a medicação que constava do processo. Ele consultou e imprimiu a lista, que disse que tem que andar sempre com o meu pai.  

Ora, isto até pode ser senso comum, até pode ser algo básico, mas a verdade é que na família, felizmente, ninguém tinha estado, até agora, em situações como esta. E o médico também nunca o mencionou antes, nas outras consultas a que fomos.

 

Entretanto, fez mais algumas perguntas, e às tantas disse-lhe que não lhe sabia dizer. Até porque o meu pai confunde algumas coisas, e eu nem sempre estou com ele.

Mais uma vez, a arrogância e o julgamento "Ah e tal, do que eu lhe disse aqui há 4 meses lembra-se, mas disso já não. Está bem."

E passado uns minutos: "A pergunta continua em aberto. Estou à espera de uma resposta."

 

Entretanto, viu as análises e informou que o meu pai, para já, está estável.

Com os rins a funcionar a apenas 25%. 

E perguntou ao meu pai o que queria da vida. 

Entregou-nos um monte de informação sobre hemodiálise, ou medicação, as duas alternativas viáveis para o meu pai, e o respectivo consentimento, para assinar, e perguntou se queria decidir já ou se precisava de tempo para pensar.

Sentimo-nos pressionados, como se ele quisesse uma decisão dessas tomada na hora, como quem escolhe que roupa vai vestir naquele dia.

Perguntei-lhe, então, qual a urgência, uma vez que tinha acabado de informar que ele estava estável.

"Ah e tal, estou a ver que não percebeu o que eu disse." Pois, não posso entender o que ele ainda não disse!

Só então é que explicou que, para além de ter essa informação registada no sistema, caso a situação agrave, é necessária toda uma preparação, no caso da hemodiálise, que tem que ser feita previamente, uns meses antes de começar. Mas que, a qualquer momento, pode mudar de ideias.

 

Por fim, e num discurso de "nós é que sabemos, e não erramos, mesmo que nem sempre acertemos", disse ao meu pai que tudo aquilo que mandam fazer, e os medicamentos que prescrevem, é para ajudar o doente, mas que, por vezes, têm efeitos negativos.

E que o doente é livre de fazer ou não fazer, tomar ou não tomar, mas que o médico está ali para fazer o melhor que pode.

 

Enfim, desde a primeira vez que não fui à bola com o médico, e a opinião mantém-se.

Agora, só tenho que levar com ele em Fevereiro do próximo ano.

 

 

 

 

Os médicos podem/ devem mentir aos pacientes?

Resultado de imagem para médicos desenho

 

Deve um paciente saber a verdade sobre a sua situação clínica, ainda que esse paciente seja apenas uma criança?

É legítimo os familiares de um paciente, pedirem a um médico que omita/ minta a esse mesmo paciente?

Quanto de altruísmo ou de egoísmo está presente nesse pedido?

 

Por vezes, tentamos proteger tanto, que não percebemos que aqueles que queremos proteger não vivem dentro de uma bolha, que não são parvos e sabem pensar por si, e perceber quando nos dizem a verdade ou nos mentem.

Por vezes, as nossas acções visam aquilo que achamos que é o melhor para os outros mas, no fundo, é aquilo que é o melhor para nós próprios.

 

"Ah e tal, não vai aguentar!", "Vai ser pior saber", "Se não souber, não sofre.".

 

Mas, quem somos nós para dizer o que os outros querem, o que vão pensar ou como vão reagir, decidindo por eles em algo que diz, acima de tudo, respeito a eles?

 

Coloco-me no lugar do paciente e, por mais que me custasse, iria querer sempre que me dissessem a verdade, nua e crua, do que fingirem que estava tudo bem, quando tudo e todos à minha volta agiam em sentido contrário às palavras, denunciando-os. 

Até porque o facto de omitirem só leva a que seja mais fácil, para eles próprios, lidar com o sofrimento deles. Se não virem o sofrimento dos outros, não sofrem ainda mais.

Estando eu doente, não tenho o direito de saber? Correndo riscos, não tenho o direito de ser informada? Estando com os dias contados, e a vida por um fio, não tenho direito a fazer a minha própria despedida, à minha maneira?

É eticamente correcto os médicos, a pedido de alguém ou por sua própria autoria, ocultarem a real situação clínica do paciente?

E quando transpomos isto para uma criança? Mudará alguma coisa? Ou continuará a ter os mesmos direitos?

 

Colocando-me no lugar de familiar, nomeadamente, mãe, quereria eu que a minha filha soubesse a verdade? Estaria ela preparada para isso? Saberia eu própria lidar com essa verdade, e com os eventuais estragos que ela pudesse fazer à minha filha? Ou pediria ao médico que lhe mentisse, tal como eu, para que ela continue a ter uma vida normal, sendo que nunca o será?

Lá está, mais uma vez, percebo que, não querendo que a verdade seja dita, estaria a aliviar-lhe os últimos momentos da sua vida mas, sobretudo, a aliviar-me a mim, enquanto mãe, de lidar com as frustrações, negações, conformismo, depressão da minha filha, a somar às minhas. Nesse sentido, é altruísmo para com a minha filha, ou egoísmo da minha parte?

 

Conseguiria eu levar a farsa até ao fim, sem me denunciar? É pouco provável e, como já referi, as crianças não são parvas. Acho que, em qualquer caso optaria, por mais difícil que fosse, pela verdade.

 

E enquanto médica? Posso eu mentir a um paciente, seja ele qual for, sobre o seu estado de saúde? Que os pais não tenham coragem, ou queiram esconder/ proteger, é com eles. Mas como profissional de saúde, como devo agir?

Com uma verdade esmagadora, ou com uma mentira piedosa?

 

Psiquiatria e psicologia - as eternas rivais!

 

Uma vez pedi à minha médica de família para me encaminhar para consultas de psicologia. Ela achava que eu precisava era de comprimidos!

Recusei. Tentou convencer-me de que, se o que eu precisava era de alguém para conversar, podia fazê-lo com as minhas amigas. Insisti.

Com pouca vontade, lá me encaminhou. E foi o melhor que fiz!

Alguns médicos, entre eles alguns psiquiatras, não enviam os seus pacientes aos psicólogos. Porquê? Porque confiam no poder da medicação e dão pouca importância à acção psicoterapêutica.

Alguns, como a minha médica de família, pensam mesmo que a psicoterapia é uma perda de tempo.

De facto, a psiquiatria considera-se superior à psicologia embora, para o bem dos pacientes que delas precisam, devessem caminhar juntas.

Em vez disso, disputam pacientes, prejudicando a sua evolução. 

Os psiquiatras, através dos antidepressivos e tranquilizantes, penetram no mundo onde nascem os pensamentos, onde surgem as emoções. Este poder pode ser muito útil mas, se mal usado, é capaz de controlar, em vez de libertar os pacientes.

Os medicamentos produzem efeitos mais imediatos. A psicoterapia produz efeitos mais duradouros. Sãos duas ciências que se complementam.

O que acontece é que, como em tudo na vida, apostamos mais na resolução dos problemas, do que na sua prevenção. Até porque a resolução é muito mais lucrativa!

As indústrias farmacêuticas investem em pesquisas de novas drogas que actuam no cérebro humano para tratar as doenças psíquicas. E é nesse caminho do adoecimento psíquico da humanidade, que a indústria farmacêutica se prepara, silenciosamente, para se tornar a mais poderosa do mundo. Essa indústria precisa de uma sociedade doente para continuar a vender os seus produtos. Nunca se venderam, como agora, tantos tranquilizantes e antidepressivos! 

Em vez disso, seria mais importante investir em medidas preventivas, em melhorar a educação, desenvolver a arte de pensar das crianças, educar a auto-estima, diminuir o stresse social e combater a miséria física e psíquica.

Mas isso não rende dinheiro, e é à volta dele que tudo gira nos dias que correm! 

Quando a decisão é nossa

Faz hoje nove anos que morreu a “Fofinha” - a minha gatinha!

Foi lá para casa pequerrucha, com apenas dois meses, e desde então muitas foram as aventuras que vivemos.

Desde pequena que se habituou a dormir comigo – o meu pai tirava-a de lá, e ela voltava!

Costumo dizer que, em termos de personalidade, era muito parecida comigo, meiguinha quando queria, e para quem queria, mas também “brava e feroz”, como me chamou a minha filha no outro dia!

O que ela mais adorava era estar ao meu colo, brincar com os meus cabelos e ocupar o meu lugar na cama quando eu me levantava para ir para a escola! Parecia uma autêntica criança, com a cabeça na almofada e toda tapada. Pelo menos podia estar à vontade, porque durante a noite, enroscava-se nas minhas pernas e, se eu por acaso a incomodasse, arranhava-me e ia embora, mas dali a pouco lá estava ela outra vez!

Dar-lhe banho, cabia ao meu pai, equipado a rigor e com luvas, porque ela detestava a água, e era uma autêntica guerra! Assim que terminava, era vê-la sair disparada com os pelos em pé, e lavar-se ela própria à sua vontade!

As vacinas eram outro martírio – até o próprio veterinário tinha medo de segurá-la!

Esteve comigo desde os meus nove anos, e eu adorava aquela gatinha selvagem, mas que trouxe alegria a todos lá em casa.

Até que um dia ela ficou doente, e no estado em que estava não havia nada que se pudesse fazer por ela.

A cada dia ela piorava, notava-se que já não era a mesma, estava debilitada, só se sentia bem deitada e, muitas vezes, nem assim. Era evidente que sofria, tinha dores, e nós apenas podíamos assistir, impotentes.

Foi nessa altura que o meu pai sugeriu que talvez o melhor fosse abatê-la, para lhe evitar mais sofrimento.

E eu, claro, fiquei revoltada com tal absurdo (porque para mim o era). Como é que o meu pai podia pensar em tal coisa? Em matar a minha gata que há tantos anos estava connosco? Será que ele não gostava dela tanto quanto eu? Será que não se sentia mal só de pensar em cometer tal crime?

Por muito que o meu pai me explicasse que era o melhor para a Fofinha, que ia acabar de vez com o sofrimento dela, que a morte era certa e não havia mais nada que pudéssemos fazer, e por isso mesmo mais valia antecipar-lhe o destino, eu simplesmente não conseguia compreender.

Infelizmente por um lado, mas felizmente por outro, uns dias mais tarde ela acabou mesmo por falecer. E acreditem ou não, foi um peso que me saiu de cima – o peso de ter que tomar aquela decisão que o meu pai esperava!

Sim, era apenas um animal. Mas para mim, seja qual for o ser vivo, racional ou irracional, não há distinção.

É um assunto bastante delicado e polémico, em que há vozes a favor e contra, em que há argumentos de peso para ambos os pratos da balança.

Não me cabe a mim julgar quem pende para um lado ou para o outro – só quem vive e passa por esse tipo de situações sabe o que sente e aquilo que a sua consciência lhe diz. Tenho a certeza que, qualquer que seja a decisão tomada, será sempre difícil. E mexe com muitos valores éticos e morais.

No caso da minha gata, talvez se ela falasse, fosse tudo muito mais simples. Poderia dizer-nos o que ela própria desejava.

É o que acontece com a eutanásia – em que o paciente pede voluntariamente para morrer. Mas, mesmo sendo aplicada só a pedido dos pacientes, há sempre aqueles que não têm capacidade para decidir, como crianças ou pessoas mentalmente incapazes. E nesses casos, quem decide por eles?

Em Portugal, esta prática, pela qual se abrevia a vida de um doente crónico e incurável, num estado de imenso sofrimento físico e psíquico, de forma controlada e assistida por um especialista, facultando uma morte sem sofrimento, é ilegal.

Pelo contrário, na Holanda, há já alguns anos que o parlamento aprovou a lei, e esta entrou em vigor.

Aí, parece que os médicos obedecem a regras rigorosas, e os processos são fiscalizados por comissões, compostas por um médico, um jurista e um especialista em ética, sendo que a eutanásia só pode ser realizada pelo médico que acompanhe de perto o estado de saúde do doente em questão, e sempre depois de ouvida uma segunda opinião de outro médico. No caso de menores, o consentimento é dado pelos pais. E para aqueles que não tenham expresso essa vontade, por escrito, quando chega o momento da verdade, quem decide por eles?

Continuo a preferir acreditar que os avanços da medicina vão permitir a todos aqueles que algum dia se encontrem nestas circunstâncias, viverem sem grande sofrimento até que a morte natural aconteça.

Mas se isso não for possível, espero nunca ter que vir a tomar essa assustadora decisão, entre a vida e a morte…