Dois anos
Acordo ao som do telemóvel. É segunda-feira e está na hora de acordar.
Tacteando pela cama, lá consigo desligar o despertador. Abro os olhos mas volto a fechá-los.
A cabeça pesa-me, os olhos ardem-me, o coração dói-me. Mal tenho forças para me levantar...e, no entanto, sei que não posso ficar na cama.
Com dificuldade, faço um esforço para me dirigir até à cozinha, por entre tonturas e picadas no estômago.
Não me apetece falar, não me apetece ver ninguém.
Hoje deveria ser um dia feliz! Deveria...mas não está a ser.
Hoje, eu e o meu namorado, celebramos 2 anos de namoro! Dois anos de luta para chegarmos até aqui, apesar de tudo aquilo que já passámos.
Mas agora há que avançar, que evoluir, que tomar decisões.
Sabia que este dia chegaria mais cedo ou mais tarde. Há já algum tempo que sinto "armas" à minha volta, apontadas à minha cabeça, à espera que eu tome uma atitude.
Há muito que passou a fase de o fazer livremente, e parece que a fase do ultimato também. Agora é o tudo ou nada.
Mas eu tenho medo, muito medo...E pior que lutar contra os outros, é lutar contra nós próprios.
Não preciso que ninguém me fale do assunto, porque eu penso nele constantemente. Não preciso que ninguém me diga que estou a arranjar desculpas, porque eu sei que são. Não preciso que ninguém me diga que está na hora, porque sei que está. Não preciso que ninguém me diga que estou sempre a adiar, porque eu sei perfeitamente que é a verdade.
Mas é, simplesmente, difícil para mim. Tenho este feitio, de me dar por derrotada ainda antes de começar a guerra. De não lutar por nada por medo. De pensar que não vou estar à altura do desafio, que não vou conseguir e vou acabar por estragar tudo.
Não tenho objectivos, não luto por aquilo que quero, sou insegura. Ninguém quer uma pessoa assim.
Eu tento, muitas vezes, pensar de forma positiva, ser optimista, avançar sem medos. Mas parece que, por cada passo que dou para a frente, recuo dois. Avanço novamente, mas o medo faz-me parar. Tento dar o passo, aquele decisivo, mas as pernas tremem, e acabo por dizer para mim própria que talvez amanhã consiga. Ou depois de amanhã...Ou depois de depois de amanhã...Mas as pernas não deixam de tremer...
Porquê? Porque é que não consigo? Porque é que sou assim? Não sei...Só sei que sou...
E ninguém está a conseguir fazer nada para me ajudar, pelo contrário. Só me lembram a cada dia que eu não posso ser assim, só me fazem sentir mais culpada. Mais do que eu já me sinto.
Talvez seja uma forma de ajuda, eu ouvir a verdade a todo o instante. A verdade que a minha própria consciência faz questão de martelar a cada minuto.
Talvez seja uma forma eficaz de me fazer andar, só para não ter que ouvir mais nada nem ninguém. Talvez resulte...
Se fizer aquilo que esperam de mim, já não me sinto culpada por ter desapontado alguém. Por estar a destruir os sonhos de alguém. Por estar a estragar o momento de alguém...
Quando estamos fragilizados, acabamos por fazer tudo só para diminuir a culpa, para que quem está ao nosso lado se sinta bem...
Claro que depois, nos sentimos um lixo, ainda destruímos mais a nossa auto-estima...
Hoje deveria ser um dia feliz!
Mas não consigo olhar para o amor da mesma maneira - o amor não me está a deixar feliz, está a atirar-me para o fundo do poço, para a linha da frente, para o precipício...
E não me resta outra coisa a fazer senão deixar-me cair...Já me sinto morta por dentro, talvez com sorte não morra por fora...