Um "eu" perdido
Olho para o meu "eu", que deixei para trás há uns meses.
Já não me identifico muito com ele.
Observo o meu "eu" de um passado recente, muito diferente do anterior.
No entanto, também não me revejo nele.
O meu "eu", do presente, está perdido.
Entre aquele que não quer voltar a ser, e aquele que tem dúvidas de conseguir voltar a ser.
Ainda assim, está mais perto de se voltar a fechar, do que abrir.
E isso nunca é bom.
Se o pudesse comparar com algo, seria com um gato.
Não com todos, claro.
Com aqueles a quem sabe bem serem acariciados, ou mimados, mas não em demasia.
Aqueles que, quando passa da fase em que sabe bem, para aquela em que já é demais, retribuem com uma arranhadela, ou uma dentada, estabelecendo um limite, e afastando.
O meu "eu", do presente, está perdido.
Entre as dúvidas que se vão infiltrando, os pensamentos contraditórios que se vão acomodando, os sentimentos confusos que nele vão habitando.
Entre a esperança, e a desconfiança.
Entre a realidade, e uma sabotagem mental à mesma.
Diria o meu "eu" imaginário, resolvido e assertivo, que devo viver a vida, e entregar-me aos momentos, sem receios. Porque, se sair magoada, isso nada tem a ver comigo, mas com quem me magoar.
No entanto, também esse "eu" me diria que, se estiver numa situação em que não me sinta confortável, então, é porque não é boa para mim.
Há que sair dela. Eliminar esse desconforto, que não levará a lado nenhum.
Mas o meu "eu" real, continua perdido.
Como se ainda esperasse a poeira assentar. O mar acalmar. O nevoeiro dispersar.
Para pensar, e perceber, com clareza, que rumo seguir.