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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Histórias Soltas #27: O último dia do ano

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Aqui estou...

No último dia do ano.

Sem companhia.

Mas, nem por isso, só.

Por opção. Pelas circunstâncias.

 

Porque, por vezes, é necessário estar connosco próprios. Sem mais ninguém.

Reflectir.

Ou desligar.

Ouvir os nossos pensamentos.

Perceber os nossos sentimentos.

E, nem sempre, no nosso dia a dia, o podemos fazer.

Sem interferências.

Sem ruído.

 

Não é que não goste de companhia.

De festa.

De música, dança e celebração.

De dar as boas vindas ao novo ano.

É só que, muitas vezes, a realidade leva a melhor sobre a esperança e os desejos para o novo ano.

Chegamos a um ponto em que percebemos que, por mais que queiramos ou esperemos que o novo ano seja sempre melhor que o anterior, nem sempre (poucas vezes) isso acontece.

Ou, então, talvez não consigamos, verdadeiramente, perceber, apesar de tudo, as pequenas coisas boas que fazem valer a pena. A sorte que, apesar de tudo, temos a agradecer.

Mas acredito que, também isso, faz parte de nós.

Os dias em que acordamos felizes, bem dispostos, cheios de energia.

Os dias em que o mau humor chega para ficar.

Os dias em que estamos tristes sem qualquer motivo aparente. Ou apenas nostálgicos, sem sabermos bem de quê.

Mas a verdade é que essa melancolia está dentro de nós. 

Os dias em que a ansiedade nos consome, por tudo em geral, e nada em particular.

 

É assim que me tenho sentido...

Nestes últimos dias...

Neste último dia...

 

Este ano não foi fácil. 

E sei que, daqui a pouco, este ano vai ficar para trás.

Adormeço, despedindo-me dele.

Acordarei num novo ano.

Mas nada irá mudar.

Ou, pelo menos, não para já.

Será só mais um dia...

 

E, ainda assim, representa tanto...

Um novo dia.

Um novo ano.

O "virar da página".

Uma nova esperança...

 

Quando conversar se torna difícil, resta o silêncio

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Não que eu seja muito dada a conversas mas, quando é algo que me interessa, ou sobre o qual posso dar a minha visão, a minha opinião, ou questionar, gosto de conversar com os outros.

Mas gosto, quando é uma conversa saudável. Quando todos podemos ter opiniões ou visões diferentes. Quando cada um respeita o outro. Quando é possível trocar ideias e pensamentos de forma pacífica.

No entanto, cada vez mais noto que, com algumas pessoas isso, simplesmente, não é possível.

Porque não admitem outra linha de pensamento que não a exposta por elas. Porque ficam chateadas por estarmos a levantar questões que não têm de ser colocadas. Porque, para elas, não faz qualquer sentido estarmos a desviar da "linha recta" por elas traçada, e enveredar por outros caminhos, que não o único por elas sugerido.

Então, aquilo que poderia ser uma conversa normal, torna-se uma guerra inútil, uma discussão desnecessária.

E, sendo assim, quando conversar se torna difícil, cansativo, stressante e desgastante, resta o silêncio...

 

 

 

Há dias que nos inspiram!

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Há dias que nos inspiram.

Inspiram a mudar. 

A fazer.

A tomar a iniciativa.

A querer mais, e melhor.

Há dias em que nos sentimos cheios de energia, e vontade, e entusiasmo.

Há dias em que achamos que podemos tudo!

 

E, depois, há outros, que nos bloqueiam, deitando tudo isso pelo cano abaixo.

 

Há dias em que me decido a fazer uma limpeza geral à casa.

Em mudar as cortinas.

Em substituir o que está estragado.

Em tirar aquilo que não faz falta.

Em dar um destino a tanta roupa e brinquedos que lá tenho desde que a minha filha era pequena.

Em ver se dou um rumo ao meu futuro livro, encalhado há mais de 3 anos por falta de ideias (ou por ideias a mais que não sei bem como conjugar).

A fazer uma mudança.

Porque mudança gera mudança.

E, quem sabe, não leva a outras mudanças.

 

Depois, porque nada disto chegou a ser posto em prática no momento, vêm dias em que perco esse entusiasmo, trocando-o pelo comodismo, pela preguiça, pelo apego.

Olho para as coisas que ía despachar, e percebo que não as quero despachar, voltando a pô-las no mesmo sítio.

Olho para a despesa que vou ter, e penso que pode esperar, ficar para depois, quando der mais jeito financeiramente.

Começo a recear a mudança, e a acreditar que é melhor ficar tudo como está. Porque até não está mal.

Falta a paciência, e a imaginação.

Falta garra, e energia.

E, em vez de "pegar o touro pelos cornos" e pôr mãos à obra, acabo sentada num sofá, a fazer tudo menos aquilo que pretendia, adiando indefinidamente as acções.

Esperando por outros dias, que me voltem a inspirar, e me levem para lá dos pensamentos e ideias, que nunca se chegam a concretizar.

 

Mais um dia...

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Outro dia…

Mais um dia…

É assim, todos os dias. Um após o outro.

Sempre iguais… Sempre diferentes…

Acordo. Olho para o lado. E só então me lembro que, agora, já não estás lá.

Estou sozinho.

Levanto-me. É madrugada. Toda a gente dorme. Eu, não. Porque o corpo já não quer mais continuar deitado.

Mais um dia me espera.

Faço o que tenho a fazer.

 

E, depois, já não há nada para fazer.

A não ser ficar a olhar para esta casa vazia.

Para o silêncio. Que só é interrompido pelo eco dos meus pensamentos, e da minha voz.

Que vida esta é a minha, agora, sem ti?

As horas demoram a passar. Ainda falta tanto para me deitar…

E, mais uma vez, perceber que, também nesse momento, estarei só.

 

Por companhia, tenho apenas a televisão que, às tantas, já aborrece de tão repetitivos que são os programas.

Já não tenho olhos para os livros.

Já não tenho pernas para os passeios.

Sou livre, mas sinto-me encarcerado.

Estou vivo, mas sinto que uma parte de mim morreu contigo. 

 

Por vezes, tenho companhia familiar. Distraio-me.

Afasto os pensamentos. Afasto a dor. Afasto as memórias.

É bom. Faz-me bem. Sinto-me abençoado, e agradecido. Mas não é suficiente.

A vida dos outros não pára. Nem eu quereria isso.

Mas a minha vida estagnou. Num tempo diferente.

Que não acompanha os demais. Nem tão pouco espero que os demais abrandem, para me acompanhar.

Não penso em morrer. Mas também não me sinto viver.

 

Estou só.

Horas e horas de solidão.

E, então, está na hora.

Deito-me.

Um último pensamento para ti. 

Adormeço.

Até ao dia seguinte.

Outro dia.

Mais um dia…

 

 

 

À deriva...

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Por vezes, sem nos darmos conta, acordamos um dia e sentimo-nos à deriva.

À deriva num imenso mar, sem terra à vista.

À deriva num imenso deserto, ou numa extensa floresta, onde não vislumbramos um único abrigo.

O nosso porto seguro, que sempre ali esteve, não existe mais. Desapareceu.

E nós, ficamos sem referência. Sem orientação.

 

Damos aos braços, para nos mantermos à tona. Mas não sabemos para onde nadar...

Caminhamos, porque de nada adianta ficar no mesmo sítio. Mas não sabemos para onde ir...

Remamos, mas não vislumbramos nada além de água...

Está tudo ligado mas, ainda assim, é como se um dos interruptores se tivesse desligado. E uma parte de nós deixasse de funcionar.

 

É provável que, neste desafio de resiliência e sobrevivência, venhamos a encontrar um novo porto seguro. Diferente do anterior, mas igualmente seguro.

É provável que, com o tempo, nos venhamos a adaptar a esta nova forma de viver. À mudança. Às circunstâncias.

 

É expectável que o tempo volte a pôr-nos a funcionar em "modo manual" mas, até lá, é como se nos tivessem colocado em "piloto automático".

Vivemos, mas não por inteiro.

Sentimos, mas apenas pela metade.

E o que quer que digamos, ou façamos, parece sair forçado. 

Porque tem que ser. 

Mas sem a vontade e o entusiasmo de antes.

Sem a energia de outrora.

 

Sentimo-nos à deriva...

E talvez nos deixemos levar pela corrente, pela maré...

Talvez nos deixemos levar pelo vento...

Talvez nos deixemos guiar por pontos imaginários...

Só para chegar a algum sítio, algum lugar...

Para poder descansar. E recuperar forças. 

 

Até que consigamos discernir entre ficar, ou partir, para outras paragens.

Com energia renovada, e pelo próprio pé.