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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Grandes perdas levam a grandes mudanças?

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Será?

A vida ensina-nos, ou tenta mostrar, em diversas ocasiões, que não nos devemos prender ao que quer que seja.

Porque nada é eterno. 

Nada permanece para sempre.

 

E, ao longo da vida, são várias a perdas que vamos tendo.

Umas, maiores.

Outras, mais insignificantes.

Em qualquer uma delas, a vida tenta fazer-nos ver que, até nas grandes perdas, podemos ter a oportunidade para grandes mudanças. 

 

Sim, há perdas que nunca se poderão "compensar". 

O que perdemos, nem sempre é substituível.

Por vezes, era mesmo único.

 

E sim, nem sempre dá para recuperar o que perdemos.

Mas dá para recomeçar, recriar, inovar, actualizar, seguir em frente, e ver as coisas de uma nova perspectiva.

Quem sabe aquilo que tínhamos não nos prendia e, ao perder-se, liberta-nos para algo diferente, e melhor?

Quem sabe não era, exactamente isso, o que precisávamos?

Da guerra...

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A guerra…

Procurei, calmamente, escapar dela.

Eu.

A minha família.

Os meus amigos.

E todos aqueles que aqui estavam, tranquilamente, a viver a sua vida.

 

Não a antevi. Não a percebi.

Para falar a verdade, nem sequer a concebi. Não a imaginei.

E, no entanto, parece que ela estava implícita.

Nas entrelinhas que não vi.

Nas letras pequeninas que ignorei.

 

Falava-se disso, é certo.

Mas acontecer mesmo, não acreditava.

Não queria acreditar.

Até ao dia em que aconteceu.

E percebi que era real.

 

A guerra…

Procurei, racionalmente, contorná-la.

Tentei esconder-me. Mas não o consegui fazer.

Arrisquei enfrentá-la. Afinal, sou forte.

Mas ela fintou-me.

E avisou-me do que me esperava, se continuasse.

 

A guerra…

Procurei, seguramente, afastar-me dela.

Deixando tudo para trás.

Anos de vida. De lutas. De conquistas.

Tudo o que tinha construído. Alcançado.

Não havia tempo.

 

A guerra…

Procurei, apressadamente, salvar-me. E aos meus.

Com o receio, a angústia, e a tristeza a inundar-me.

Com a sensação de perda. De fracasso. De luto.

De lágrimas nos olhos. O coração, nas mãos, apertado.

E uma dor no peito, impossível de descrever.

 

A guerra…

Porque é que, simplesmente, não nos deixam?

Porque é que, simplesmente, não nos respeitam?

Porquê, nós?

Sempre os mesmos.

Os que ficam. Os que partem. Os que já nada podem fazer.

 

A guerra…

Procurei, desesperadamente, fugir dela.

Mas, por mais que fuja, ela persegue-me.

Nenhum lugar é seguro.

Mesmo que assim o creia.

Sinto que não passa de uma ilusão.

 

Mesmo quando me dizem que está tudo bem.

Que estou em segurança, e já não corro perigo.

Sinto que, a qualquer momento, uma bomba pode rebentar.

Um míssil pode cair.

A morte me pode levar.

 

A guerra…

Procuro ter fé. Ter esperança.

Acreditar que o pior já passou.

Que já não corremos perigo.

Mas não passou.

Porque os traumas ficam para sempre.

 

Os traumas.

As marcas.

O medo.

A destruição à nossa volta.

O que se perdeu, e já não se recupera.

 

Perde-se a liberdade.

Perde-se a inocência das crianças.

Perde-se a alegria.

Perde-se a segurança.

Perde-se um povo.

 

A guerra…

Procuro, deste lado, acreditar que vai acabar.

Com um sentimento de gratidão.

Por ter tido a oportunidade de sobreviver.

Ou, quem sabe, desolação.

Por ter perdido os meus, pelo caminho.

 

Do outro lado, os que ficaram de livre vontade.

Para defender a nossa terra.

Ou foram obrigados a ficar.

Para lutar nesta guerra.

Com as armas que têm, e que não têm.

 

A guerra...

Espero, um dia, regressar.

À minha terra. Ao meu país. 

Ter tempo para recomeçar a vida, que ficou suspensa.

Até lá, resta rezar para que mais nenhum inocente sofra.

Nesta guerra que nunca quisémos. E nunca pedimos...

Pieces of a Woman, na Netflix

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Pieces of a Woman aborda a gestação, o momento do parto e a perda de um filho, com as implicações que esse acontecimento refletem em cada um dos pais, família mas, sobretudo, do ponto de vista da mãe.

Aquela que viu o seu corpo transformado ao longo dos meses. Que sentiu todas as dores. Que pôs a sua filha no mundo. Que a teve nos braços e experimentou minutos de felicidade para, logo a seguir, a perder, e o seu mundo desmoronar.

Aquela cujo corpo continua a comportar-se como se houvesse um bebé para alimentar e cuidar.

Aquela a quem todos olham com pena, a quem querem consolar, muitas vezes, sem qualquer tacto. Aquela a quem são exigidas determinadas reacções e acções, sem lhe perguntar o que ela realmente sente e quer, ou precisa.

 

Sou mãe.

Tenho uma filha.

Não quero sequer imaginar a dor de a perder.

Não será mais fácil para quem perde os seus filhos poucas horas depois de nascerem, do que seria para quem com eles teve oportunidade de conviver e ver crescer.

Por isso, não consigo imaginar a dor de Martha. Mas seria normal que, enquanto mãe, me sentisse solidária com a sua dor.

Pois, por muito boa que tenha sido a actuação da protagonista, ela não conseguiu despertar a minha empatia.

“Estive” com ela no momento do parto. Identifiquei-me. Quase senti as dores como ela mas, a partir daí, foi-me totalmente indiferente no resto do filme.

 

Toda a história do filme tem, por base, um parto caseiro.

Por opção do casal ou, talvez, mais de Martha que, como vimos, não tinha muita vontade de abdicar do parto no aconchego do seu lar, para ter a sua filha num hospital.

Não condeno a sua escolha.

Sei, por experiência própria, como pode ser stressante, e ficar marcado como uma má experiência, um parto na maternidade, quando não existe privacidade, quando não conseguem (ou não querem) perceber as nossas dores, a necessidade de ter alguém ao lado, o facto de, uma coisa que é normal para quem lá trabalha, ser especial para quem o vive na pele, sem ser encarada e tratada como apenas um número, alguém fraco que só sabe gritar e queixar-se. Como pode ser invasivo, quando decidem levar avante procedimentos sem questionar a grávida. Quando, para terem menos trabalho e preocupações, e “despacharem o serviço”, decidem dar uma “ajudinha” da qual muitas mães preferiam abdicar, se lhes fosse perguntado.

E é por isso que algumas grávidas preferem ter os seus filhos num ambiente familiar, de forma o mais natural possível, rodeadas de quem lhes quer bem, vivendo o momento de forma tão tranquila quanto possível.

 

Mas…

Um parto num hospital, será, à partida, mais seguro. Se houver algum problema, estão no sítio certo. Existem os meios, e uma equipa de profissionais. Poupa-se tempo, por vezes precioso. E o transporte desnecessário de casa até ao hospital.

Isso não significa que o desfecho fosse diferente.

Por mil e uma razões, a bebé poderia estar, à partida, condenada. Poderia ter havido, como há tantas vezes, erros médicos no parto, na vigilância, no acompanhamento, no procedimento de expulsão.

No entanto, fica sempre a dúvida se não teria sido diferente…

Não sei se Martha, de alguma forma, se culpa por ter insistido nessa escolha, e ter resistido quando a parteira lhe falou da ambulância e do hospital. Ou por achar que há algo de errado com o seu corpo e, por isso, não conseguiu salvar a filha. Talvez se culpe, e seja por isso que não quer iniciar um julgamento contra a parteira que a assistiu. A sua mãe, certamente, fá-lo. E como não pode julgar a filha, decide virar-se para a parteira, a quem acusa pela morte da neta.

 

Penso que outro dos motivos para não ter criado empatia com Martha, é o facto de ela se mostrar, aparentemente, tão indiferente, tão fria, tão controlada, sem exteriorizar qualquer emoção, ainda que ela exista, e a esteja a corroer por dentro. 

Ao mesmo tempo que não quer saber de quem também está a sofrer.

Sim, uma mãe é uma mãe. Mas porque tem a dor do pai que ser tão desvalorizada, como se não se pudesse comparar à dor de uma mãe? Como se o pai fosse incapaz de sentir, de sofrer. E de compreender.

Como disse há dias, num outro post, perante uma desgraça, ou a família se une, ou desmorona.

Aqui, começou a desmoronar-se, sem retorno.

Eventualmente, Martha conseguirá, algum dia, juntar os seus pedaços, e seguir em frente.

 

Achei o filme demasiado longo.

Achei que poderia ser melhor explorado. 

Não me emocionou.

Não cativou.

Não marcou.

E não o veria novamente.

Nunca estaremos preparados para a morte

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É aquilo que de mais certo temos na vida.

Sabemos que chegará. Sabemos que nada a impedirá.

Mas, ainda assim, nada, nem ninguém, está preparado, nem nos prepara, para quando ela chega.

Porque, o momento em que estivermos totalmente preparados para ela, será o momento em que já nos conformámos, em que perdemos a esperança, em que baixamos os braços e deixamos de lutar.

 

Por isso mesmo, nunca estaremos preparados para a morte dos nossos entes queridos.

Como os nossos pais.

Pai, é pai. Mãe, é mãe. São eternos, no nosso pensamento.

Estarão sempre lá para nós, tal como nós, para eles. Aguentam tudo, são valentes, são rijos, são sobreviventes. São o nosso apoio, o nosso abrigo, os nossos conselheiros.

Por vezes são chatos, rabujentos, dão trabalho, dão-nos preocupações. Mas não o fazemos tantas vezes, também nós, enquanto filhos?

E, no entanto, não deixamos de os amar, e eles a nós.

Por isso, por muito que a vida nos vá dando indícios de que as coisas estão diferentes, de que as probabilidades estão a aumentar, de que o tempo está a fugir pelos dedos, de que algo se pode aproximar, ignoramos, fingimos não ver, ou acreditamos, sinceramente, que é apenas um mau pensamento, numa má fase, e que tudo voltará a ficar bem.

A morte dos meus pais é algo que, felizmente, ainda não me surge muito no pensamento. Penso sempre que ainda têm muitos anos pela frente.

 

Mas já vi muitos pais, e mães de pessoas que me são próximas, ou nem tanto, deixarem este mundo. Muitas vezes, cedo demais. Para alguns, já seria um desfecho previsível. Para outros, nem tanto.

E, seja em que circunstância for, nunca é fácil. É sempre um choque, uma sensação de punhalada, de vazio, de inconformismo.

Podemos tentar confortar, de todas as formas que conseguirmos, os filhos e familiares que ficam, mas nenhum gesto ou palavra, por mais sincera e sentida que seja, apaga a dor da perda.

Só quem passa por isso, saberá.

O mais próximo que tive de alguém a falecer na família, foi a minha tia e madrinha. E custou-me, na altura.

Mas mãe, é mãe. E pai, é pai. É diferente.

 

O maior consolo, para um filho que perde uma mãe, ou um pai, é saber que, em vida, esteve sempre lá para eles. Que não deixou nada por dizer. Nem por fazer.

Que viveram e partilharam os melhores momentos que poderiam ter vivido, e partilhado.

Acreditar que, onde quer que estejam, estarão bem. Que já fizeram o que tinham a fazer neste mundo, e agora resta-nos continuar o seu legado, até chegar a nossa vez. 

E que um dia, quem sabe, se reencontrarão.

 

Hoje, soube que partiu a mãe de uma blogger desta plataforma, com quem tenho uma relação meramente virtual, mas que já considero de amizade - a Joana.

Este texto é dedicado a todos aqueles que já perderam os seus pais e, especialmente, para a Joana, a quem desejo muita força, neste momento tão triste para si e para a sua família.

 

Um beijinho, Joana! 

Um abraço apertado, e muita força e coragem

 

Como perder totalmente o interesse num programa

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Fui uma fiel seguidora, nos últimos anos, do programa The Voice Portugal.

Conseguiu manter-me ligada a ele a cada domingo à noite, mesmo quando no dia seguinte acordava cheia de sono para ir trabalhar.

Nenhum outro programa me tinha feito mudar de canal e trocar. Até este ano...

 

 

Sim, este ano, ainda comecei a vê-lo, apenas para constatar que o programa (tal como provavelmente a maioria deles) está viciado, esgotado, sem nada de novo: as mesmas injustiças, os mesmos discursos, as mesmas desculpas esfarradas, os mesmos interesses, e um objectivo que é tudo menos aquele que apregoa.

Aos poucos, comecei a optar por assistir ao Casados à Primeira Vista, e gravar o The Voice para ver mais tarde. Mas nem me dou a esse trabalho. O pouco que vou vendo e lendo, permite-se ficar por dentro do que se passa, e acentuar mais a pouca vontade em perder tempo a segui-lo.

 

 

Mudem os apresentadores, mudem os mentores, mudem a dinâmica, sejam genuínos e espontâneos, e talvez voltem a conquistar audiências.

Aliás, acho que qualquer programa do género (incluindo o Casados à Primeira Vista, que já soa mais a encenação) teriam a receita de sucesso na novidade, aliada à espontaneidade. Porque é isso que mais agrada ao público.

Até lá, será sempre a diminuir, até acabarem de vez com o programa.