Pieces of a Woman aborda a gestação, o momento do parto e a perda de um filho, com as implicações que esse acontecimento refletem em cada um dos pais, família mas, sobretudo, do ponto de vista da mãe.
Aquela que viu o seu corpo transformado ao longo dos meses. Que sentiu todas as dores. Que pôs a sua filha no mundo. Que a teve nos braços e experimentou minutos de felicidade para, logo a seguir, a perder, e o seu mundo desmoronar.
Aquela cujo corpo continua a comportar-se como se houvesse um bebé para alimentar e cuidar.
Aquela a quem todos olham com pena, a quem querem consolar, muitas vezes, sem qualquer tacto. Aquela a quem são exigidas determinadas reacções e acções, sem lhe perguntar o que ela realmente sente e quer, ou precisa.
Sou mãe.
Tenho uma filha.
Não quero sequer imaginar a dor de a perder.
Não será mais fácil para quem perde os seus filhos poucas horas depois de nascerem, do que seria para quem com eles teve oportunidade de conviver e ver crescer.
Por isso, não consigo imaginar a dor de Martha. Mas seria normal que, enquanto mãe, me sentisse solidária com a sua dor.
Pois, por muito boa que tenha sido a actuação da protagonista, ela não conseguiu despertar a minha empatia.
“Estive” com ela no momento do parto. Identifiquei-me. Quase senti as dores como ela mas, a partir daí, foi-me totalmente indiferente no resto do filme.
Toda a história do filme tem, por base, um parto caseiro.
Por opção do casal ou, talvez, mais de Martha que, como vimos, não tinha muita vontade de abdicar do parto no aconchego do seu lar, para ter a sua filha num hospital.
Não condeno a sua escolha.
Sei, por experiência própria, como pode ser stressante, e ficar marcado como uma má experiência, um parto na maternidade, quando não existe privacidade, quando não conseguem (ou não querem) perceber as nossas dores, a necessidade de ter alguém ao lado, o facto de, uma coisa que é normal para quem lá trabalha, ser especial para quem o vive na pele, sem ser encarada e tratada como apenas um número, alguém fraco que só sabe gritar e queixar-se. Como pode ser invasivo, quando decidem levar avante procedimentos sem questionar a grávida. Quando, para terem menos trabalho e preocupações, e “despacharem o serviço”, decidem dar uma “ajudinha” da qual muitas mães preferiam abdicar, se lhes fosse perguntado.
E é por isso que algumas grávidas preferem ter os seus filhos num ambiente familiar, de forma o mais natural possível, rodeadas de quem lhes quer bem, vivendo o momento de forma tão tranquila quanto possível.
Mas…
Um parto num hospital, será, à partida, mais seguro. Se houver algum problema, estão no sítio certo. Existem os meios, e uma equipa de profissionais. Poupa-se tempo, por vezes precioso. E o transporte desnecessário de casa até ao hospital.
Isso não significa que o desfecho fosse diferente.
Por mil e uma razões, a bebé poderia estar, à partida, condenada. Poderia ter havido, como há tantas vezes, erros médicos no parto, na vigilância, no acompanhamento, no procedimento de expulsão.
No entanto, fica sempre a dúvida se não teria sido diferente…
Não sei se Martha, de alguma forma, se culpa por ter insistido nessa escolha, e ter resistido quando a parteira lhe falou da ambulância e do hospital. Ou por achar que há algo de errado com o seu corpo e, por isso, não conseguiu salvar a filha. Talvez se culpe, e seja por isso que não quer iniciar um julgamento contra a parteira que a assistiu. A sua mãe, certamente, fá-lo. E como não pode julgar a filha, decide virar-se para a parteira, a quem acusa pela morte da neta.
Penso que outro dos motivos para não ter criado empatia com Martha, é o facto de ela se mostrar, aparentemente, tão indiferente, tão fria, tão controlada, sem exteriorizar qualquer emoção, ainda que ela exista, e a esteja a corroer por dentro.
Ao mesmo tempo que não quer saber de quem também está a sofrer.
Sim, uma mãe é uma mãe. Mas porque tem a dor do pai que ser tão desvalorizada, como se não se pudesse comparar à dor de uma mãe? Como se o pai fosse incapaz de sentir, de sofrer. E de compreender.
Como disse há dias, num outro post, perante uma desgraça, ou a família se une, ou desmorona.
Aqui, começou a desmoronar-se, sem retorno.
Eventualmente, Martha conseguirá, algum dia, juntar os seus pedaços, e seguir em frente.
Achei o filme demasiado longo.
Achei que poderia ser melhor explorado.
Não me emocionou.
Não cativou.
Não marcou.
E não o veria novamente.