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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Eu não vou às JMJ, mas elas vêm até mim!

JMJ-2023.jpg 

 

O conselho era unânime: mantenham-se afastados da confusão, evitem idas a Lisboa!

Mas a verdade é que nem precisamos de ir a Lisboa, nem às JMJ, que elas vêm até nós.

É certo que Mafra não fica assim tão longe, mas não pensei que, de repente, fossemos "invadidos" por tantos jovens.

 

Ontem, à hora de almoço, passei por um grande grupo que, reunido em círculo, faziam uma espécie de jogo, ritual ou lá o que fosse, numa língua que não me apercebi qual era. Mas que faziam barulho, faziam.

Hoje, estava a ir para o trabalho de manhã e, a subir a mesma rua que eu, iam também dezenas de peregrinos, a maioria jovens, em vários grupos.

Provavelmente, iriam para algumas actividades.

Desta vez, apercebi-me que muitos eram espanhóis e italianos.

 

A minha filha também confirmou que ontem, tanto o supermercado onde trabalha, durante o dia, como o McDonald's, à noite, estavam a abarrotar de peregrinos. Sobretudo, espanhóis.

Alguns foram, inclusivé, à sua loja.

 

A mim não me diz muito este evento.

Prefiro passar bem ao lado dele.

 

Mas parece que, a par com os peregrinos que vêm para, realmente, participar nas Jornadas Mundiais da Juventude, há outros que se aproveitam da maré para outros fins.

Para já, as JMJ estão a ficar marcadas pelos 195 peregrinos que não chegaram ao destino, e por outros tantos, a violarem os torniquetes de segurança para aceder às plataformas dos comboios no Cais do Sodré.

E ainda vamos para o segundo dia...

A fé dos que ficam

 

A propósito do acidente em Cernache, Coimbra, que envolveu vários peregrinos da zona de Mortágua, que se deslocavam a Fátima, e que tirou a vida a 5 deles, afirmava uma familiar, consternada com a triste notícia:

"Deus existe? Não deve existir, porque se existisse não deixava isto acontecer!".

Por sua vez, o pároco que se disponibilizou para dar apoio aos familiares das vítimas, explicou que é difícil as pessoas aceitarem. E perceberem que estes peregrinos, que se encontravam a caminho de Nossa Senhora de Fátima, mais não fizeram que seguir o seu caminho, mas até ao Senhor!

Ora, para quem acredita em Deus, esta poderá ser uma forma de consolo, de resignação, de aceitação. Acreditar que a vida é uma breve passagem e que os que partiram se encontram agora num lugar melhor, junto a Deus, para onde, um dia, todos iremos.

Mas, mesmo entre aqueles que acreditam, a dúvida pode surgir. É, sobretudo, nestas alturas que as crenças tendem a sofrer abalos, que a existência de um Deus justo e bondoso pode ser questionada e posta em causa.

Como fica a fé dos que cá ficam, ao ver os outros partir?

Cá em casa, temos opiniões totalmente distintas. O meu marido acredita em Deus. Eu não.

Muitas vezes ele me diz: "Se Deus não existisse, não estaríamos cá hoje, depois do acidente. Se Deus não existisse, as dificuldades por que passei não teriam sido ultrapassadas. Deus está sempre comigo. Connosco. Mesmo que não acredites nele."

E eu contraponho: "Como posso acreditar que existe um Deus - bondoso, justo, omnipresente, protector - quando vejo tantos inocentes morrer à fome, morrer nas guerras, morrerem com as mais variadas doenças, em acidentes estúpidos, e até mesmo em peregrinações para mostrar a sua devoção e fé.

Quando vejo crianças (e adultos) inocentes serem violadas, agredidas, mal tratadas, assassinadas, por humanos sem escrúpulos, que continuam cá a gozar a sua vida.

Como posso acreditar num Deus que permite que isso aconteça, sem nada fazer, levando inocentes e deixando cá quem não merece?"

Há que diga: "Ah e tal, não é Deus que faz as guerras, que cria as doenças e mata as pessoas. É o Homem"!

Pois têm razão, sim senhor. Talvez o único erro de Deus tenha sido o de criar o Homem. Porque, onde está o Homem, está o perigo.

Mas se não podemos acusar Deus pelo que de mal acontece neste mundo, porque deveremos então, atribuir-lhe os créditos pelo que acontece de bom?

Na vida existem as forças do bem e as forças do mal. Estão em constante luta e nem sempre vence quem deveria. Quer-me parecer que Deus está sozinho na luta, contra vários adversários, porque por cada suposta vitória, há uma dúzia de derrotas no mundo!

"Ah e tal, a vida é só uma passagem. Se partiram, é porque já cumpriram a sua missão aqui, e vão agora para outras mais importantes".

Mas quem pode afirmar, com certeza, que assim é?

E se assim for, porque é que, por vezes, até os mais crentes se revoltam perante essa verdade incontestável que lhes tentam impingir e fazer acreditar, questionando Deus, desestabilizando a sua fé?