Desafio de Escrita do Triptofano #9
E tudo a chama queimou...
Corda:
Porque insistes em queimar-me?
Vela:
Porque é a única forma de perceberes que eu estou aqui. De me sentires. De olhares para mim.
Corda:
Eu sei que estás aí. Eu sinto-te. E vejo-te.
Talvez não da forma que queres. Com a frequência que queres.
Vela:
Hum...
Pois não me parece.
Sinto que a única forma de virares a tua atenção para mim, é quando a minha chama te atinge.
Corda:
E o que esperas de mim, com essa chamada de atenção?
Vela:
Que percebas que estou aqui. Que faço parte da tua vida.
E que te aproximes mais de mim.
Porque quanto mais foges, e mais te afastas, mais a minha chama aumenta, e se estica para te alcançar.
Ainda que, com essa atitude, eu me torne mais pequena, e perca um pouco de mim.
Corda:
Lamento, mas não consigo compreender a tua perspectiva.
O que acontece é que, aos poucos, muito lentamente, vais-me queimando.
Com o tempo, vou perdendo a cor. Vou escurecendo.
Dia após dia, vou enfraquecendo com a tua chama e, a qualquer momento, posso quebrar.
E quando eu quebrar, quando me partir, não terás mais como me queimar.
Terás que procurar outra corda.
Ou, então, arder em vão, sozinha, até que a chama se extinga...
Texto escrito para o Desafio de Escrita do Triptofano
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