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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Outono antecipado

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É Verão, mas parece que estamos numa espécie de Outono antecipado.

As árvores já estão a mudar de cor.

As folhas, ajudadas pelo vento, já começam a cair.

O chão, está totalmente coberto, em tons de amarelo e castanho.

 

As temperaturas estão bem mais frescas.

Os dias, parecem mais pequenos.

À noite, em casa, em vez da habitual bebida fresca, já apetece o chá quentinho.

Já sabe bem a manta, enquanto vemos televisão.

 

Acredito que ainda virão dias quentes, a relembrar que o Verão só se despede em Setembro.

Quem sabe, até, venham na próxima estação, só para contrariar.

Até porque, cada vez mais, as estações são mais um nome, que uma realidade.

A verdade é que neste momento, a aproveitar as férias de Verão, sinto-me em pleno Outono!

 

Gostar de alguém à distância

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Poderá, a distância, invocar sentimentos que, depois, na presença do outro, se desvanecem?

Pode, a distância, levar-nos a sentir coisas que a proximidade aniquila?

É possível gostar-se mais de alguém, quando esse alguém está longe, do que quando está perto de nós?

Será possível duas pessoas darem-se melhor, ou serem mais compatíveis, quando afastadas uma da outra?

Talvez sim.

 

Porque, quando há distância entre duas pessoas, há conversas, há diálogo, há expectativas, há planos que se imaginam. 

Há uma maior comunicação, um maior "à vontade" para exprimir aquilo que se sente.

Há um romantismo e uma idealização de como será quando ambos estiverem juntos. De como as coisas vão acontecer. De como vai ser bom matar saudades. O que vão fazer. Como vão aproveitar os momentos.

 

No entanto, mal a distância dá lugar à proximidade, tudo muda.

Fica-se com a sensação que, afinal, não se gosta assim tanto.

Seja porque as coisas não aconteceram, exactamente, como seria de esperar.

Ou porque, com a proximidade, vem tudo aquilo que mina um relacionamento - a perda de autonomia e de espaço pessoal, os atritos da convivência, a rotina, a saturação, o assumir que tudo é garantido.

De certa forma, é como se a presença física repelisse, em vez de atrair.

 

A propósito desta questão li, no outro dia, uma frase:

"A ausência diminui as paixões medíocres e aumenta as grandes, assim como o vento apaga velas e alimenta fogos." - François de La Rochefoucauld.

 

Talvez.

Mas também é certo que a paixão, qualquer que seja a sua intensidade, é um estado que não dura para sempre. Pelo contrário, é apenas uma fase breve, de transição. 

Assim, o que acontece quando ela chega ao fim?

 

Creio que gostar à distância é sempre gostar pela metade. É sempre uma relação incompleta.

E, como tal, como pode ela satisfazer, ou resultar a longo prazo?

Fica sempre a dúvida se se gosta mesmo da pessoa, ou daquilo que idealizamos dela.

Se se quer uma relação verdadeira, ou a relação que imaginamos na nossa mente e que, depois, na prática, nem sempre corresponde à realidade.

 

 

Nem sempre a perspectiva reflecte a realidade

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A perspectiva que temos sobre algo, é apenas isso - uma perspectiva. A forma como interpretamos determinada situação, acção ou sentimento.

Não significa, obrigatoriamente, que seja essa a realidade.

Pode ser.

No entanto pode, também, ser muito diferente.

 

Temos uma tendência a interpretar as coisas baseando-nos, por vezes, na nossa própria forma de pensar, de agir, de encarar as coisas, de mostrar o que sentimos.

Pior - queremos, muitas vezes, que as pessoas ajam de acordo com o nosso próprio código, como se não houvesse outra forma, igualmente válida, de se estar na vida.  

Mas existe.

 

E, da mesma forma que gostamos, ou desejamos, que a nossa forma de ser e estar seja aceite ou compreendida, sem interpretações erradas do nosso comportamento, pelos outros, devemos tentar compreender e aceitar a dos outros. 

Alargar os nossos horizontes.

Olhar por outras perspectivas.

"Pela noite dentro - Contos e Outros Escritos", de José da Xã

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Comecei a ler este livro e foi, quase, como voltar atrás no tempo.

A uma outra vida, da qual pouco sabia, a não ser por algumas histórias que o meu pai foi contando e, recentemente, pela leitura do seu livro.

A uma outra realidade, de há muitas décadas.

A um Alentejo (no caso do meu pai), onde a única coisa que esperava os jovens era a vida no campo. Com tudo o que tem de bom. E de mau.

A dureza, o trabalho árduo, a pouca instrução académica, uma certa pobreza.

A vergonha, disfarçada pela dignidade. 

A míngua, disfarçada pela simplicidade.

Os modos, por vezes algo abrutalhados, relevados pela sinceridade, simpatia e hospitalidade.

A coscuvilhice, perdoada pela união e entreajuda entre vizinhos. Afinal, todos se conhecem. Para o bem, e para o mal. Todos sabem da vida um dos outros. Todos falam uns dos outros. Mas, quando é preciso, estão lá.

O retrato de um povo que, embora trabalhe de sol a sol, e esteja dependente daquilo que a terra lhes dá, também é capaz de levar a vida com uma curiosa calma, satisfazendo-se com pouco, e dando valor às pequenas coisas.

Destaco a descrição, em muitos destes contos, da força das mulheres. Da sua capacidade de resiliência, e de como conseguem ultrapassar as dificuldades.

E a lealdade dos animais, para com os humanos com quem criam laços, e de alguns humanos, para com os seus animais, que consideram amigos ou, mesmo, família.

 

E "Os Felícios"?!

O que me diverti com eles!

De repente, o leitor salta do campo, para a cidade. De outros tempos, para a realidade actual.

A era das tecnologias, onde impera o vício das redes sociais. Os olhos permanentemente colados a um ecrã de telemóvel.

Os Felícios são uma crítica social. Uma espécie de sátira ao que observamos, em algumas famílias e na dinânimica entre cada um dos membros dessas famílias, hoje em dia.

O retrato dos jovens de hoje: dos seus interesses, das suas prioridades. E o dos adultos, por vezes tão ou mais imaturos que os jovens.

Ainda assim, é possível perceber que os Felícios preservam, apesar de tudo, o espírito de união de uma verdadeira família, que é coisa que se vê cada vez menos.

Acredito que "Os Felícios", e os seus caricatos episódios dariam, por si só, um livro autónomo e muito divertido!

 

Obrigada, José, pelo miminho, e pela oportunidade de ler estas histórias!

Parabéns à Olga pela ilustração da capa!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Adolescência

a série de que todos falam

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Acho que posso afirmar, sem andar longe da verdade, que esta é a série do momento!

Aquela de que todos falam, que todos comentam, sobre a qual todos têm algo a dizer.

E, opinião quase unânime, uma excelente série.

Que todos deveriam ver: pais, filhos, alunos, professores.

E que até chegou ao parlamento britânico, reacendendo o debate acerca da influência, nos jovens, das redes sociais.

 

Quanto a mim, digo-vos que comecei a ver a série e, a meio do segundo episódio, desisti!

Não estava a cativar nada, não me estava a passar mensagem nenhuma. Em bom português "uma grande seca". 

Qualquer coisa era bem vinda, e me distraía daquilo que estava a fazer um esforço para ver.

 

Não sei se por, no fundo, nada daquilo ser uma novidade para mim.

Oiço muitas pessoas dizerem que é um choque de realidade, um soco no estômago.

Mas, a verdade, é que vemos situações do género a toda a hora. Cada vez mais adolescentes perdidos, influenciados de forma negativa pelas redes sociais, vítimas de bullying, da crueldade dos seus pares.

E sim, como se costuma dizer, até "no melhor pano cai a nódoa".

Os pais fazem o melhor que podem (os que fazem) com aquilo que têm. Também a sua vida não lhes permite, mna maioria das vezes, um maior acompanhamento dos filhos. E, ainda que assim fosse, não podem controlá-los a todo o instante. Saber o que lhes vai na cabeça. Prever as suas acções.

Claro que, quando há cumplicidade, diálogo, compreensão, abertura e disponibilidade, tudo pode ser diferente. Mas não é uma garantia absoluta. 

E, também, nas melhores famílias, pode acontecer aquilo que nunca, ninguém, pensaria.

Por outro lado, os pais podem exercer, eles próprios, mesmo sem o saberem, uma influência negativa nos filhos. Seja pela exigência em relação a eles, e eles, pelo receio de desapontar, ou envergonhar.

Todas as fases são complicadas, e a adolescência não é excepção. Aliás, incidentes, crimes, começam a ser cada vez mais frequentes até na infância.

Portanto, como dizia, nada isto é surpresa ou novidade.

 

Mas, como sou teimosa, e porque queria ver aquela que, para mim, é uma das cenas mais bem conseguidas da série - a conversa de Jamie com a psicóloga - recomecei a ver, de onde tinha parado.

A série começa a melhorar para o final do segundo episódio, o que ajudou a terminar de vê-la (até porque são só 4 episódios).

 

E só vos digo: uma vénia para a interpretação de Owen Cooper e Erin Doherty!

Sobretudo, para Owen que, com apenas treze anos, fez um trabalho fenomenal no seu primeiro papel, na sua primeira cena gravada.

 

Quanto à história em si, Jamie é um rapaz de 13 anos acusado de assassinar uma colega de escola, esfaqueando-a até à morte.

Não percebi o porquê de todo aquele aparato policial para deter o rapaz, como se se tratasse de um bandido extremamente perigoso, de um qualquer cartel de droga, ou algo semelhante. 

Sim, é um assassino. Mas também é apenas um jovem. Que estava em casa, com a sua família. Assustado.

 

Por outro lado, é fácil perceber a "culpa" que, um acontecimento como este, gera em todos ao redor.

Nomeadamente, no Inspector Bascombe que, de repente, perante tudo o que presencia na escola, decide aproximar-se do seu enteado, tentando estar mais presente, percebê-lo melhor.

É um começo, sim. É positivo.

Mas não é isso que o vai levar, de uma hora para a outra, a tornar-se o melhor amigo, o confidente. Não é de um momento para o outro que vai conseguir perceber toda a complexidade dos jovens, dos seus problemas, das suas interações, dos seus receios, das suas dinâmicas, e do que os leva a cometerem determinados actos.

 

Posto isto, pode-se dizer que "Adolescência" é mais um alerta, mais uma chamada de atenção, mais uma oportunidade de reflectirmos sobre aquilo em que o mundo se está a transformar.

Nos jovens que estamos a criar, a educar, nesse mesmo mundo louco. Em toda a rede de suporte e apoio (ou falta dela) que os (e nos) empurra para determinados caminhos.

Mas, como digo, não é a única.

 

A culpa?

Essa pode ser de todos, em geral. E não é de ninguém, em particular.

No fundo, morre solteira.

É a dura realidade dos nossos dias, reflectida, mais uma vez, no ecrã e na ficção.