Quando "a folha" está demasiado riscada...
Por vezes, a folha está riscada demais para que consigamos escrever o que quer que seja nela.
Já tantas vezes foi escrita, riscada, reescrita, aproveitando-se o que ainda ia sobrando em branco, que chega a um ponto em que já não dá para muito mais.
Já tantas vezes foi usada, dobrada, amachucada, desdobrada, alisada, que está demasiado marcada, e velha, para que a escrita ainda saia como se desejaria.
Deixa-se de perceber o que quer que nela estivesse.
Deixa-se de ter vontade de ainda aproveitar qualquer espaço, por mais pequeno que seja, porque se sabe que não dará para escrever muito.
Já serviu, um dia. Foi desenrascando. Mas, agora, não tem salvação.
Escrever numa folha nova?
Em branco?
Começar do início?
Seria o ideal.
Mas já não há força, nem vontade, para escrever uma nova história.
Até porque, o mais certo, seria acontecer o mesmo à nova folha.
Por isso, vai-se mantendo a velha.
Aquela que já conhecemos. A que já estamos habituados.
Mesmo que já só se guarde de recordação.
Que já não dê para acrescentar nada de novo.
Que já não tenha solução...