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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Diferentes formas de pedir

 

Não sendo uma das ruas principais, ainda assim está movimentada. É uma zona de comércio, de bancos, e local de passagem para quem trabalha e, como por vezes eu, tem que se dirigir aos diversos serviços públicos.

Há os habitantes, os estudantes que tiveram alguma hora livre, alguns turistas, mães a passear os filhos, os reformados e os desempregados.

E há, hoje, um novo ocupante. Já não é a primeira vez que vejo esse mesmo homem sentado naquela rua com uma lata à frente. Vi-o a primeira vez há uns meses. Vi-o mais tarde quando passei por lá com a minha filha. E hoje.

Não tenho por costume dar esmolas a ninguém. Nunca sei se estão ali porque precisam ou se, na verdade, se fazem de coitadinhos mas têm mais que eu. Tão pouco me dou ao trabalho de ouvir as suas histórias, sejam elas verdadeiras ou não. Sou apenas mais uma que passa, que faz de conta que não vê. Mas, com a noção de que, para algumas dessas pessoas a quem a vida e crise não deixaram alternativa, e a quem ainda resta alguma dignidade, será o seu último recurso.

No entanto, não pude deixar de constatar, ao pensar um pouco mais no assunto, que nem todos encaram o acto de pedir esmolas da mesma forma. De facto até poderia, de certa forma, enquadrá-los por grupos:

 

Os criativos – aqueles que têm, ou descobrem um talento especial para alguma coisa, e fazem uso disso. Talvez porque assim conseguem chamar a atenção de quem passa, porque consideram que o dinheiro que lhes dão é mais merecido dessa forma, porque gostam de se entreter, e entreter os outros, porque lhes dá prazer e satisfação retribuir, de alguma forma, a ajuda que pedem;

 

Os derrotistas ou passivos – limitam-se a estar, como se não tivessem mais esperança na vida, caídos a um canto, à espera que alguém repare neles;

 

Os cobardes ou fracos – “escondem-se” atrás de um qualquer animal de estimação para conseguirem a atenção das pessoas através do mesmo/ “escondem-se” atrás de uma grave doença para sensibilizar as pessoas;

 

Os “vendedores” – de calendários, de pensos rápidos ou outra coisa qualquer que possa interessar ou ser útil às pessoas;

 

Os “pedintes” – que vêm ter connosco a pedir uma moedinha ou um cigarrinho (são poucos os que pedem ou aceitam comida em vez de dinheiro);

 

Os ameaçadores – existem alguns que, mesmo não ameaçando abertamente, conseguem que lhes seja facultado aquilo que querem (normalmente acontece em estabelecimentos comerciais, em há uma espécie de negócio – as pessoas preferem dar alguma coisa para que se vão embora e não arranjem problemas);

 

Os arrumadores – que se vêem quase a cada esquina e que, para quem conduz e precisa de um lugar para estacionar, acabam por ser úteis.

 

Assim de repente não me ocorre mais nenhum, embora possa haver ainda mais formas de pedir o mesmo. O que não deixa de ser triste, quando os casos são reais…