Os "rejeitados da vida"
Alguns de nós, humanos, temos tendência para querer ajudar os "coitadinhos", os "rejeitados da vida".
Pessoas com problemas que achamos que podemos solucionar.
Com coisas mal resolvidas que, estupidamente, nos convencemos que conseguimos desemaranhar.
Com feridas que julgamos poder curar.
Com revoltas que julgamos conseguir apaziguar.
Com mágoas que acreditamos que, por magia, faremos desaparecer.
Aquelas pessoas que nos fazem crer que ninguém as entende.
Que ninguém gosta delas.
Que são umas sofredoras.
Que toda a vida tiveram azar, e nada lhes corre bem.
Temos até, uma predisposição inata para nos conectarmos com elas.
Com tanta gente à nossa volta, parecem um íman que nos atrai.
E, do alto da nossa vaidade, bondade ou ingenuidade, sei lá, pensamos que podemos fazer a diferença.
Que somos aquela pessoa que vai melhorar as suas vidas. Que os fará mais felizes. Que, connosco, irão mudar.
Eu também sou (ou era) um pouco assim.
Mas, à medida que os anos vão passando, cada vez tenho menos paciência. Cada vez mais me convenço que só nos estamos a enganar a nós próprios.
Há pessoas que, simplesmente, não querem ser ajudadas. Nunca vão mudar.
Cada um é como é.
Então, o que acontece é que, em vez de as trazermos para cima, são elas que nos puxam para baixo.
E, em vez de as "consertarmos", são elas que nos destroem.
Pois que se lixem todos.
Acreditamos tanto que podemos ajudar que não percebemos que não fazemos milagres.
É como procurar as ondas do mar numa piscina que nunca as terá.
Por mais que tentemos que aquelas águas se movam, ondulem, não fiquem estagnadas, nunca serão ondas naturais.
E, se não deixarmos de bater em pedra dura, arriscamos a, quando menos esperarmos, tornarmo-nos nós os coitadinhos.
Eu sei que nem toda a gente é assim e que, de facto, há pessoas que merecem uma oportunidade mas, a determinado momento, levam todas por tabela.
Porque percebemos que a verdadeira oportunidade, não são os outros que a têm que dar. Tem que vir da própria pessoa.
E, se ela não estiver disposta a isso, nada, nem ninguém, terá esse poder.