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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Quem procura, acha!

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Sempre ouvi dizer.

E foi por isso que hesitei em marcar consulta com a minha médica de família.

Porque não sabia se queria mesmo encontrar alguma coisa, ou ficar sem saber e deixar andar, em total desconhecimento.

Só que a necessidade levou a melhor.

 

Quando aquilo que sentimos começa a afectar toda a nossa rotina, toda a forma como vivemos o dia-a-dia, e acções tão básicas e fundamentais como respirar, então só há um caminho.

A primeira vez que tive estes sintomas, foi em plena pandemia, corria o ano de 2021.

Nessa altura, queixei-me à médica mas, lá está, naquele momento tinha passado, e ela pensou que eu tivesse tido covid.

 

Desde então, volta e meia, os sintomas voltavam, passavam, voltavam de novo, até que ficaram de vez.

Cansaço fácil, fraqueza, dores musculares (pernas e costas), a sensação de que todo o meu sistema imunológico está enfraquecido e, sobretudo, dificuldade em respirar. Mesmo quando estou sentada, ou deitada. Sem fazer qualquer esforço.

O receio de faltar o ar enquanto durmo, e não acordar.

Dor no peito, e tosse se acelerar um pouco o passo.

 

Fiz exames.

Foi detectado um bloqueio incompleto no coração. A vigiar. Pode causar alguns dos sintomas.

Foi detectada anemia, por falta de ácido fólico e vitamina D3. Esta última, cuja recomendação é apanhar sol, não se pode aplicar no meu caso, porque corro o risco de voltar a ter cancro da pele. Portanto, os próximos meses serão a tomar suplementos. Esta anemia pode causar alguns dos sintomas que apresento.

Quanto às alterações da transferrina e saturação, cujos valores poderiam sugerir talassemia, algo que bate certo com alguns dos sintomas, foram desvalorizadas como sem importância.

 

Foi detectado um aumento da tireoide, o que pode justificar alguns dos sintomas, pelo que terei que fazer novos exames, para perceber o que é ao certo esse aumento.

 

Foram detectadas algumas estriações fibrótico-cicatriciais apicais e dos lobos superiores nos pulmões. A médica diz que não é nada de especial, que são resquícios, e que deve ter sido algo que já veio de nascença (confesso que achei isto estranho e estou inclinada a pedir uma segunda opinião). Porque, é certo, a internet nem sempre é confiável e leva a diagnósticos errados. Mas penso que cicatrizes nos pulmões são consequência de algo que foi ocorrendo ao longo da vida, provocado por inflamações ou condições, e não são algo a menosprezar. Para além de que justificam alguns dos sintomas.

E, sempre que pesquiso, vai dar a duas palavrinhas não muito simpáticas e assustadoras - fibrose pulmonar.

 

Para além do que já referi, tenho um desvio do septo nasal. Algo que sempre tive. Pode agora estar a provocar efeitos que antes não se manifestaram. Não acredito que seja disso. Mas vou fazer mais um exame.

Como calhou numa altura em que, ao que parece, apanhei uma rinite (depois de uma conjuntivite - eu bem digo que o meu sistema imunológico está nos mínimos), foi-me receitada cortisona nasal.

Esta rinite triplicou a minha dificuldade em respirar, e o cansaço, pelo esforço que tenho de fazer para ter ar.

 

Escusado será dizer que, nestas últimas semanas, tenho andado KO, a tentar manter-me activa, a tentar que me afecte ao mínimo, mas a fazê-lo a um ritmo a que não estou habituada.

Tudo muito mais devagar. Com muito mais calma.

Uma coisa de cada vez. 

Com muitas paragens entre tarefas, enquanto caminho ou, até mesmo, enquanto como porque, como digo lá em casa "ou como, ou respiro"!

E a tentar respirar fundo a cada passo, a cada movimento, como se tivesse corrido uma maratona.

 

Vou, então, fazer mais uns exames.

E continuo a aguardar que me chamem para fazer uma espirometria, e avaliar a função pulmonar (tendo em conta que a médica pediu marcação sem urgência, não será tão cedo).

 

Tendo em conta que a médica de família está prestes a aposentar-se, pareceu-me que ela está pouco ralada porque, provavelmente, quando eu lá voltar, já não será com ela.

Até porque já não estava a aceitar marcações.

Por isso, ainda não sei quando, e a quem irei mostrar os exames e, caso seja necessário, quando e quem me irá encaminhar para alguma especialidade.

 

Até lá, o maior objectivo é continuar a respirar como conseguir.

Natureza: pequenos detalhes de um dia banal

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Percorremos, frequentemente, os mesmos caminhos. E pensamos que já nada de novo têm para nos surpreender.

No entanto, a natureza está sempre a surpreender-nos!

 

 

 

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No passeio onde passo quase diariamente, seja para ir para a paragem do autocarro, seja a caminho das compras, deparei-me no fim de semana com esta imagem, a fazer jus à expressão "crescer como cogumelos".

 

 

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Já no "caminho encantado", que liga a zona onde moro à estrada que dá para o cemitério, encontrei estas folhas verdes num muro.

 

 

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No sentido oposto, e em direcção ao ecoponto onde diariamente coloco o lixo, as folhas das árvores já nos lembram que é Outono.

Desafio de Escrita do Triptofano #11

Fugir à normalidade

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A caminho de uma gala solidária

 

Anacleta: Pablito, não queres fazer um desviozinho?

Pablo: Não posso, menina. Tenho instruções para a levar, sem demoras, à gala de beneficência.

Anacleta: Chato! Não te cansas de fazer sempre o mesmo? De ser assim tão certinho?  

Pablo: É o meu trabalho, menina. Se não o fizer bem feito, sou despedido. E se for despedido, não tenho como sustentar a minha família.

Anacleta: Podias sempre arranjar outro trabalho, mais divertido! Isto é uma seca. Sempre a mesma rotina, sempre as mesmas pessoas, sempre as mesmas malditas regras. Cada dia igual ao anterior. Não há nada pelo qual anseies. Que te faça querer viver. Olha para estes soldados! Todos iguais. Todos alinhadinhos. Que falta de personalidade!

Pablo: Não diga isso, menina. É apenas sentido de dever, e respeito para consigo e para com a sua família.

Anacleta: Tretas! Vá lá, Pablito. Vamos fugir um pouco à normalidade. Só hoje.

Pablo: A menina é teimosa! Não lhe expliquei já...

 

E parou de falar, ao ver que Anacleta já tinha tirado as roupas de cerimónia, e estava agora com uma t-shirt, calças e ténis.

 

Pablo: Mas o que é isso, menina?!

Anacleta (dando umas tesouradas na farda de Pablo): Isto?! Isto é a nossa desculpa perfeita! Agora que não estamos apresentáveis, podemos faltar à gala, e ir onde quisermos.

Pablo: A menina sabe os problemas que me está a arranjar? A mim, e a si! Ou acha que os seus paizinhos vão ficar contentes consigo?

Anacleta: Quero lá saber. Também já tiveram a minha idade! E, se calhar, também já quebraram as regras. Descontrai, Pablito. Vais ver que vais gostar!

 

Depois de umas horas a satisfazer os caprichos de Anacleta, Pablo dá-lhe a entender que está na hora de regressarem, e enfrentarem as consequências daquele acto de rebeldia.

E lá voltam, Pablo receoso, e Anacleta cansada e pensativa, a caminho de casa.

 

Às tantas, diz Anacleta: Sabes, Pablito, não percebo porque é que as pessoas são todas tão diferentes onde estivemos.

Pablo: Então, menina? Ainda há pouco se queixava de tudo ser sempre igual. 

Anacleta: Eu sei, Pablito. Mas é que se tudo for diferente, não nos encaixamos em nada. Sentimos que não pertencemos a nada.

Pablo: Mas não era isso que a menina queria? Ser alguém diferente?

Anacleta: Sabes que mais? Acho que afinal, até gosto da minha normalidade. É bom estar de volta.

Pablo (pensando para com os seus botões): Pelo menos ganhou juízo.  Sempre serviu para alguma coisa.

 

Anacleta (ao fim de uns instantes, como que lendo o pensamento de Pablo): Mas sabes que, mais dia, menos dia, vamos fazer outra escapadinha! Sabes porquê?

Pablo: Não faço ideia, menina.

Anacleta: Porque é a única forma de nos relembrar daquilo que temos, daquilo que somos, e do quão gratos devemos estar. De nos relembrar de que nem tudo é sempre bom, mas também nem tudo é sempre mau. De querer voltar para onde, antes, queríamos sair. Estás a perceber?

Pablo: Sim, menina. A única forma de lidarmos e aceitarmos a normalidade, é fugindo dela, de vez em quando.

Anacleta: Olha! Até que és um sábio companheiro de aventuras, Pablito! Quem diria...

 

 

Texto escrito para o Desafio de Escrita do Triptofano

 

Também participam:

Maria Araújo

Ana D.

 

 

Mais um dia...

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Outro dia…

Mais um dia…

É assim, todos os dias. Um após o outro.

Sempre iguais… Sempre diferentes…

Acordo. Olho para o lado. E só então me lembro que, agora, já não estás lá.

Estou sozinho.

Levanto-me. É madrugada. Toda a gente dorme. Eu, não. Porque o corpo já não quer mais continuar deitado.

Mais um dia me espera.

Faço o que tenho a fazer.

 

E, depois, já não há nada para fazer.

A não ser ficar a olhar para esta casa vazia.

Para o silêncio. Que só é interrompido pelo eco dos meus pensamentos, e da minha voz.

Que vida esta é a minha, agora, sem ti?

As horas demoram a passar. Ainda falta tanto para me deitar…

E, mais uma vez, perceber que, também nesse momento, estarei só.

 

Por companhia, tenho apenas a televisão que, às tantas, já aborrece de tão repetitivos que são os programas.

Já não tenho olhos para os livros.

Já não tenho pernas para os passeios.

Sou livre, mas sinto-me encarcerado.

Estou vivo, mas sinto que uma parte de mim morreu contigo. 

 

Por vezes, tenho companhia familiar. Distraio-me.

Afasto os pensamentos. Afasto a dor. Afasto as memórias.

É bom. Faz-me bem. Sinto-me abençoado, e agradecido. Mas não é suficiente.

A vida dos outros não pára. Nem eu quereria isso.

Mas a minha vida estagnou. Num tempo diferente.

Que não acompanha os demais. Nem tão pouco espero que os demais abrandem, para me acompanhar.

Não penso em morrer. Mas também não me sinto viver.

 

Estou só.

Horas e horas de solidão.

E, então, está na hora.

Deito-me.

Um último pensamento para ti. 

Adormeço.

Até ao dia seguinte.

Outro dia.

Mais um dia…

 

 

 

Por onde anda o romantismo?

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Não anda!

Quando, para além do trabalho fora de casa, passo cada dia:

- a limpar as leiteiras das gatas 5 ou 6 vezes ao dia

- a controlar a ração das bichanas, dar atenção, brincar com elas

- cozinhar

- fazer camas que mais parece que andou por ali um furacão, de tão desarrumadas que estão

- a lavar camiões de loiça que se foram acumulando ao longo do dia, porque não há tempo para o fazer antes

- a arrumar tudo o que ficou desarrumado

- a ter que estender ou apanhar roupa, para não acumular no fim de semana

- a despejar vários sacos de lixo que vão ficando por ali à espera do uns minutos disponíveis para tal

 

A ter que fazer isto tudo sozinha, porque o marido tem dois trabalhos e só vai a casa comer qualquer coisa e dormir umas horas, e a filha está ocupada com a vida escolar

E repeti-lo dia após dia, ao longo de toda a semana...

... não é fácil ter boa disposição quando a noite ou o fim de semana chegam, e estar em modo romance.

Por norma, estou cansada, desejosa de acabar tudo e deitar-me para ver se descanso e durmo.

Algumas vezes, fico mesmo de mau humor porque queria chegar a casa e poder relaxar, mas não posso. Porque pensava que naquele dia não haveria tanto por fazer, mas afinal tenho o mesmo, ou mais ainda.

 

Deve ser por isso que o romantismo, averso a estas más energias, foi passar férias prolongadas para outro lado. Ou então, tirou licença por tempo indeterminado.

E não é fácil fazê-lo voltar, apenas por meia dúzia de horas, no meio do caos.