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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

E se, de vez em quando, "calçássemos o sapato do outro"?

Será que ainda nos sentiríamos assim tão confortáveis?

Sapato - Desenho de marsala1998 - Gartic

 

Se há coisa que me irrita são pessoas que querem impôr "a sua verdade" como uma verdade absoluta.

Que pensam que, aquilo que funciona com elas, funciona com todos.

Que afirmam que, se elas conseguem, os outros também têm que conseguir.

Que acham que, o que é simples e banal para elas, o é para todos.

 

É muito fácil caminhar quando temos um sapato feito à nossa medida, que nos serve, assenta bem e com o qual nos sentimos confortáveis.

Mas, e se, de vez em quando, "calçássemos o sapato do outro"?

Será que ainda nos sentiríamos assim tão confortáveis?

Ou descalçaríamos, na primeira oportunidade, para voltar ao nosso?

 

Pois...

É que isto é muito fácil falar, quando tudo corre a nosso favor.

Mas aquela que julgamos ser a verdade é, por vezes (muitas vezes), apenas a "nossa verdade", a nossa realidade, que pode ser muito diferente daquela que as outras pessoas vivem e, por isso, seria melhor pensar um pouco antes de falar.

Porque a nossa situação, é nossa. Pode não ser a dos outros.

 

Isto aplica-se em quase todas as coisas da nossa vida mas, este desabafo, vem na sequência dos vários comentários que tenho lido pela internet, de pessoas que se julgam donas da verdade e atiram, com quatro pedras na mão, a propósito do encerramento do comércio às 13 nos fins de semana "ah e tal, podem muito bem ir às compras durante a semana" ou "em x país os hipermercados estão encerrados, porque é que aqui faz tanta confusão?", entre outros.

Quase apostaria que, quem diz estas coisas, ou tem disponibilidade de sobra, ou tem um horário flexível, que lhes permita fazê-lo, ou vivem uma realidade diferente, em termos de organização dos serviços, que não é a nossa.

 

Se eu sou contra essa medida?

Acho que, a ser implementada, deve ser para todos e, por esse ponto de vista, acho bem que o Costa a tenha igualado para todos os estabelecimentos comerciais.

Da forma como estava, só prejudicava o pequeno comércio, dando a encher os bolsos aos grandes que, não contentes com isso, ainda queriam alargar o horário. A xico-espertice no seu melhor!

Mas acredito que a concentração no curto período, que é inevitável acontecer (digam o que disserem), vai trazer mais prejuízos que benefícios.

 

E como eu não sei como são as situações dos outros, vou apenas falar por experiência própria.

Sim, vai dificultar-me a vida.

Levanto-me às 06.30 horas para me despachar, a mim, à minha filha, e às gatas, para entrar no trabalho às 09h, pelo que é impensável ir às compras antes de entrar ao serviço.

Tenho uma hora e meia de almoço, que é utilizada, mais uma vez, para tratar do almoço, das gatas, da roupa que tem que secar durante o dia, etc.

Se for às compras nesta pausa, arrisco-me a nem sequer ter tempo para almoçar.

Saio do trabalho às 19 horas, e o que mais quero é ir para casa, arrumar tudo e ir para a cama cedo. Ainda assim, poderia ir a essa hora fazer as compras mas...

Pão, a essa hora, é escasso.

Sopa, a essa hora, nem sempre há.

Coissants, por exemplo, só de manhã.

Ou seja, poder até podia, mas só conseguiria trazer metade das coisas.

Assim sendo, é-me muito mais fácil fazer as compras ao sábado. Ou seria! Num horário normal.

Com esta limitação, vou ter que acordar cedo, no único dia em que poderia aproveitar para descansar, para ver se consigo ter sorte, e não apanhar filas de duas/ três horas, para entrar no supermercado.

E não, não me venham dizer que vá antes ao comércio local, para ajudar, porque até é mais barato, porque não é. Aqui onde vivo não é mais barato. Longe disso.

 

Por isso, antes de abrirem a boca, com base naquilo que é a sua realidade, seria bom as pessoas pensarem um pouco na realidade dos outros.

Porque, se há pessoas que estão desempregadas, reformadas, que entram tarde ou saem cedo, que trabalham ao fim de semana com folgas durante a semana, que trabalham por turnos, que vivem ou trabalham perto dos supermercados e podem lá dar um saltinho a qualquer hora, também há quem saia cedo de casa e chegue tarde, quem não tenha essa disponibilidade, quem só consiga mesmo ir ao fim de semana.

 

Não há nada que não se consiga, com esforço, e vontade, mas também nada é assim tão simples como para alguns.

Em vez de criticar e apontar o dedo, seria bom solidarizarem-se com aqueles que não têm a mesma sorte ou facilidade.

Menos crítica e mais empatia.

Vale para esta medida, em particular, e para tudo na vida, em geral.

 

Quantas pedras temos no sapato?

8003131.jpg

 

Desta vez, depois do teste do balão, veio um outro, também muito importante em diversos aspectos da nossa vida, seja nas relações amorosas, familiares, laborais ou amizades.

A ideia era mostrar que tudo aquilo que nos incomoda, e que teimamos em guardar para nós, não desaparece com o tempo. Pelo contrário, vai acumulando, incomodando cada vez mais, até causar ferida. E, depois, será mais difícil sarar. 

 

Se, por cada coisa, assunto ou atitude, que nos incomoda, magoa, entristece ou com o qual não estamos satisfeitos ou agradados, e sobre o qual nunca falámos com quem o fez, colocássemos uma pedra no sapato, quantas pedras teríamos hoje, dentro do nosso sapato? 

Muitas? Poucas? Nenhumas?

 

 

No entanto, ainda antes de fazermos contas às pedras que fomos juntando ao longo do tempo, é importante perceber porque é que elas não foram deitadas fora mas, em vez disso, acumuladas.

 

 

Porque é que temos tendência a não falar daquilo que nos incomoda? Daquilo que não gostamos? 

Porque é que deixamos tanta coisa por dizer, quando a nossa vontade é pôr tudo cá para fora?

Será porque temos receio da reacção da outra pessoa? De como ela irá interpretar o que dissermos? E de acumularmos ainda mais pedras, além das que já tínhamos?

Ou por medo daquilo que, a menção de uma determinada situação, possa despoletar, à semelhança de um castelo de cartas, no qual temos medo de tocar, ou de tirar uma carta que está mal posta, não vá o castelo todo desmoronar-se?

Será por receio pelos outros, ou por nós mesmos?

 

 

Se acontece algo que não gostamos mas, de certa forma, é tão mínimo ou insignificante que pomos para trás das costas e não voltamos a pensar no assunto, então essa é uma pedra atirada fora.

Mas, se apenas fingimos que deixamos passar mas, à mínima oportunidade, essas situações vêm à superfície, então são pedras no nosso sapato, que nos irão acompanhar eternamente, se não nos livrarmos delas.

E a melhor forma de o fazer, é falar sobre elas com as pessoas que lhes deram origem.

Muitas vezes, uma conversa franca evita desconforto desnecessário, que pode levar ao rebentar do balão de forma explosiva, enquanto poderíamos estar a mantê-lo cheio e leve, com sopros de ar fresco, que o fizessem continuar a flutuar, sem medos.