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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Segundo dia sem a Tica

 

Na noite em que partiste, sonhei que te pegava ao colo, que estavas bem, e que repetia ao teu dono que tinha sido tudo um sonho, que estavas ali, que era real. E, no sonho, dava para perceber que era a minha imaginação a pregar-me uma partida...

Esta noite não sonhei contigo. Simplesmente, dormi, esgotada, depois do primeiro dia de sofrimento sem ti. O teu dono chegou e chorámos juntos. Ele viu-te, em sonhos. Eu, apenas uma imagem de ti, a dormir como uma bolinha de pelo. Não consegui mais ficar na cama. Estava-se a formar um grande aperto no meu peito, e tive que me levantar, sair do quarto e deixar o teu dono descansar.

Vim aqui para o quarto da tua mana Inês, e doeu muito estar aqui sentada nesta cadeira e não estares ao meu colo durante horas, agarradinha a mim, como sempre fazias. Ao mesmo tempo que ia passando os exercícios para ela, ia olhando para as tuas fotografias.

Obriguei-me a comer qualquer coisa. O pão de leite foi sendo comido com lágrimas salgadas à mistura, e estava difícil passar pela garganta, tal era o nó que me apertava a mesma.

A casa está mais fria sem ti, sentimo-nos frios aqui em casa. Eras tu que a aquecias, que lhe davas vida, que a alegravas.

Continuam a chegar palavras de solidariedade para connosco. Sabias que o nosso amigo Mimo, da Mula, também partiu da mesma forma inesperada que tu? Talvez até o tenhas já encontrado por aí.

Não tive ainda coragem de tirar as tuas tacinhas do sítio onde sempre estão. A tua comida continua intacta. A taça da água no mesmo sítio do costume - onde tu costumavas ir "snifar" água da torneira!

O teu dono acordou. Estivemos a conversar e percebemos que habitam no nosso pensamento sentimentos confusos e contraditórios.

Sinto imensa falta de abraçar um gato, de estar com um gato ao colo, de ter contacto com um gato. Mas queria que fosses tu. Só que tu já não estás cá. E é muito cedo. Trazer outro animal cá para casa era estar a substituir-te, ainda mal partiste. Era estar a trair a tua memória. Não quero isso. És tu que eu quero.

E não seria justo para o animal que viesse, esperar que ele agisse como tu, que já estavas connosco há quase 4 anos. As comparações seriam inevitáveis, a decepção podia vir a acontecer. Mas está aqui um vazio tão grande, e há tantos gatinhos a precisar de amor...É complicado, contraditório, estamos a pensar de cabeça quente e perdida, e sem saber para onde nos virarmos.

Fui à cozinha, e dei por mim a remexer a tua caixa, para ver se ainda haveria areia suja para tirar. Não havia. Levámos os teus últimos cocós para o lixo.

Fomos almoçar fora, e tentámos mudar de assunto mas, inadvertidamente, voltávamos sempre a ti e, às tantas, em pleno restaurante, quase me desmanchei. E não aguentei ao ver a tua foto no telemóvel do dono.

Nas compras, evitámos passar ao pé dos corredores dos animais, mas foi difícil não pensar que já não irias estar à nossa espera, quando chegássemos.

Depois de o teu dono ir trabalhar, ganhei coragem, e fui dedicar-me às tarefas domésticas que tinham ficado por fazer. Peguei na tua mantinha, dobrei-a e guardei-a no nosso roupeiro, onde tu gostavas de te esconder! Ainda tem o teu cheirinho. Isso deu-me um novo alento. Guardei-a ali para te sentir mais perto de nós, para te sentires perto de nós.

O problema é que continuo a alternar entre esses momentos mais esperançosos, e a angústia de não te ter mais aqui.

Vem aí mais uma noite. Só te peço que me dês algum sinal de que estás bem, que continues aqui comigo, que não me deixes...