Gostar de alguém à distância

Poderá, a distância, invocar sentimentos que, depois, na presença do outro, se desvanecem?
Pode, a distância, levar-nos a sentir coisas que a proximidade aniquila?
É possível gostar-se mais de alguém, quando esse alguém está longe, do que quando está perto de nós?
Será possível duas pessoas darem-se melhor, ou serem mais compatíveis, quando afastadas uma da outra?
Talvez sim.
Porque, quando há distância entre duas pessoas, há conversas, há diálogo, há expectativas, há planos que se imaginam.
Há uma maior comunicação, um maior "à vontade" para exprimir aquilo que se sente.
Há um romantismo e uma idealização de como será quando ambos estiverem juntos. De como as coisas vão acontecer. De como vai ser bom matar saudades. O que vão fazer. Como vão aproveitar os momentos.
No entanto, mal a distância dá lugar à proximidade, tudo muda.
Fica-se com a sensação que, afinal, não se gosta assim tanto.
Seja porque as coisas não aconteceram, exactamente, como seria de esperar.
Ou porque, com a proximidade, vem tudo aquilo que mina um relacionamento - a perda de autonomia e de espaço pessoal, os atritos da convivência, a rotina, a saturação, o assumir que tudo é garantido.
De certa forma, é como se a presença física repelisse, em vez de atrair.
A propósito desta questão li, no outro dia, uma frase:
"A ausência diminui as paixões medíocres e aumenta as grandes, assim como o vento apaga velas e alimenta fogos." - François de La Rochefoucauld.
Talvez.
Mas também é certo que a paixão, qualquer que seja a sua intensidade, é um estado que não dura para sempre. Pelo contrário, é apenas uma fase breve, de transição.
Assim, o que acontece quando ela chega ao fim?
Creio que gostar à distância é sempre gostar pela metade. É sempre uma relação incompleta.
E, como tal, como pode ela satisfazer, ou resultar a longo prazo?
Fica sempre a dúvida se se gosta mesmo da pessoa, ou daquilo que idealizamos dela.
Se se quer uma relação verdadeira, ou a relação que imaginamos na nossa mente e que, depois, na prática, nem sempre corresponde à realidade.
