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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Gostar de alguém à distância

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Poderá, a distância, invocar sentimentos que, depois, na presença do outro, se desvanecem?

Pode, a distância, levar-nos a sentir coisas que a proximidade aniquila?

É possível gostar-se mais de alguém, quando esse alguém está longe, do que quando está perto de nós?

Será possível duas pessoas darem-se melhor, ou serem mais compatíveis, quando afastadas uma da outra?

Talvez sim.

 

Porque, quando há distância entre duas pessoas, há conversas, há diálogo, há expectativas, há planos que se imaginam. 

Há uma maior comunicação, um maior "à vontade" para exprimir aquilo que se sente.

Há um romantismo e uma idealização de como será quando ambos estiverem juntos. De como as coisas vão acontecer. De como vai ser bom matar saudades. O que vão fazer. Como vão aproveitar os momentos.

 

No entanto, mal a distância dá lugar à proximidade, tudo muda.

Fica-se com a sensação que, afinal, não se gosta assim tanto.

Seja porque as coisas não aconteceram, exactamente, como seria de esperar.

Ou porque, com a proximidade, vem tudo aquilo que mina um relacionamento - a perda de autonomia e de espaço pessoal, os atritos da convivência, a rotina, a saturação, o assumir que tudo é garantido.

De certa forma, é como se a presença física repelisse, em vez de atrair.

 

A propósito desta questão li, no outro dia, uma frase:

"A ausência diminui as paixões medíocres e aumenta as grandes, assim como o vento apaga velas e alimenta fogos." - François de La Rochefoucauld.

 

Talvez.

Mas também é certo que a paixão, qualquer que seja a sua intensidade, é um estado que não dura para sempre. Pelo contrário, é apenas uma fase breve, de transição. 

Assim, o que acontece quando ela chega ao fim?

 

Creio que gostar à distância é sempre gostar pela metade. É sempre uma relação incompleta.

E, como tal, como pode ela satisfazer, ou resultar a longo prazo?

Fica sempre a dúvida se se gosta mesmo da pessoa, ou daquilo que idealizamos dela.

Se se quer uma relação verdadeira, ou a relação que imaginamos na nossa mente e que, depois, na prática, nem sempre corresponde à realidade.

 

 

Nem sempre a perspectiva reflecte a realidade

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A perspectiva que temos sobre algo, é apenas isso - uma perspectiva. A forma como interpretamos determinada situação, acção ou sentimento.

Não significa, obrigatoriamente, que seja essa a realidade.

Pode ser.

No entanto pode, também, ser muito diferente.

 

Temos uma tendência a interpretar as coisas baseando-nos, por vezes, na nossa própria forma de pensar, de agir, de encarar as coisas, de mostrar o que sentimos.

Pior - queremos, muitas vezes, que as pessoas ajam de acordo com o nosso próprio código, como se não houvesse outra forma, igualmente válida, de se estar na vida.  

Mas existe.

 

E, da mesma forma que gostamos, ou desejamos, que a nossa forma de ser e estar seja aceite ou compreendida, sem interpretações erradas do nosso comportamento, pelos outros, devemos tentar compreender e aceitar a dos outros. 

Alargar os nossos horizontes.

Olhar por outras perspectivas.

Um "eu" perdido

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Olho para o meu "eu", que deixei para trás há uns meses. 

Já não me identifico muito com ele.

Observo o meu "eu" de um passado recente, muito diferente do anterior.

No entanto, também não me revejo nele.

 

O meu "eu", do presente, está perdido. 

Entre aquele que não quer voltar a ser, e aquele que tem dúvidas de conseguir voltar a ser.

Ainda assim, está mais perto de se voltar a fechar, do que abrir.

E isso nunca é bom.

 

Se o pudesse comparar com algo, seria com um gato.

Não com todos, claro. 

Com aqueles a quem sabe bem serem acariciados, ou mimados, mas não em demasia.

Aqueles que, quando passa da fase em que sabe bem, para aquela em que já é demais, retribuem com uma arranhadela, ou uma dentada, estabelecendo um limite, e afastando.

 

O meu "eu", do presente, está perdido.

Entre as dúvidas que se vão infiltrando, os pensamentos contraditórios que se vão acomodando, os sentimentos confusos que nele vão habitando.

Entre a esperança, e a desconfiança.

Entre a realidade, e uma sabotagem mental à mesma.

 

Diria o meu "eu" imaginário, resolvido e assertivo, que devo viver a vida, e entregar-me aos momentos, sem receios. Porque, se sair magoada, isso nada tem a ver comigo, mas com quem me magoar.

No entanto, também esse "eu" me diria que, se estiver numa situação em que não me sinta confortável, então, é porque não é boa para mim.

Há que sair dela. Eliminar esse desconforto, que não levará a lado nenhum.

 

Mas o meu "eu" real, continua perdido.

Como se ainda esperasse a poeira assentar. O mar acalmar. O nevoeiro dispersar.

Para pensar, e perceber, com clareza, que rumo seguir.

 

Dia de S. Valentim

(1 Foto, 1 Texto #72)

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Para os apaixonados, enamorados, românticos incondicionais, casais no verdadeiro sentido da palavra, fará todo o sentido celebrar este dia. Ainda que os sentimentos estejam lá todos os dias.

 

Para os demais, não passa de falsa propaganda.

De uma demonstração súbita de amor por alguém, em forma de flores, chocolates, perfumes, presentes mais luxuosos ou jantares românticos que, no resto do tempo, volta a desaparecer.

 

Hoje, tudo se veste de corações.

As ruas, os estabelecimentos, as plataformas digitais.

 

Hoje, o amor anda no ar.

E qualquer um pode ser apanhado pela seta do cupido.

 

Se bem que, até essas parecem vir, nos últimos tempos, com defeito.

Publicidade enganosa, talvez.

Como quem pensa que está a levar algo bom e bonito, a julgar pela capa mas, depois, quando abre o conteúdo, afinal tem uma desagradável surpresa. 

 

Hoje, o amor anda no ar.

E nos corações de todos.

 

Amanhã, quem sabe, não voa para outras paragens, deixando-nos ainda mais vazios.

Daquilo que já não tínhamos.

Daquilo que pensávamos que poderíamos vir a ter, e afinal, era só uma mentira.

Daquilo que ainda tínhamos e que, esse dito "amor", sem o esperarmos, nos levou.

 

Texto escrito para o Desafio 1 Foto, 1 Texto 

 

Combater a inércia

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Na física, a inércia "consiste na tendência natural que um objeto possui de resistir a mudanças do seu estado original de movimento ou repouso. Isso significa que um objeto que está parado tende a se manter parado, enquanto um corpo que está em movimento tende a manter o movimento."

Na vida, conhecemo-la mais como inação, letargia, preguiça, rotina.

E também acontece quando falamos de demonstração de afectos e sentimentos.

 

É incrível a facilidade com que, da mesma forma que nos sabe bem dar e receber afectos, nos habituamos, em sentido inverso, à ausência deles.

Tal como um objecto que, estando em movimento, tende a manter-se em movimento, se a troca de afectos na nossa vida for regular, se lhe dermos prioridade, acaba por ser natural, e querermos sempre mais.

Mas, se a descuidarmos, se a menosprezarmos, de a deixarmos de lado, torna-se um corpo parado, cuja tendência será continuar parado.

Habituamo-nos à falta de afectos, com a mesma naturalidade. E temos cada vez menos vontade de lhes dar uso, como se fosse algo obsoleto, que já não se usa. 

 

Com a mesma intensidade com que ansiamos por eles - um toque, um abraço, um beijo, uma carícia - e os retribuímos aos outros, também perdemos a vontade de o fazer, e receber, "chutando-os para canto".

Tornando esse gesto algo estranho e forçado.

E, se não combatermos essa inércia, corremos o risco de essa ausência se tornar um caminho sem retorno. 

Uma realidade que nos fará, a longo prazo, mais mal que bem.