Pode a confiança ser sinónimo de desresponsabilização?
"Como está ela?"
"Está bem."
"Tens a certeza?"
"Sim. Foi ela própria que o disse."
"E tu acreditas nela?"
"Sim. Confio nela."
"Confias nela porque é mais fácil para ti achar que está tudo bem, e assim não tens que te preocupar, e podes seguir com a tua vida."
Será que, por vezes, aquilo a que apelidamos de confiar não é, pura e simplesmente, o caminho mais fácil para nos desresponsabilizarmos? A forma que temos de não querer saber, de ignorar, de não saber como lidar com uma determinada pessoa ou situação?
No caso deste excerto, parece-me que existe uma certa verdade nessa afirmação. Não que fosse propositada, ou consciente mas, ainda assim, "olhos que não veem, coração que não sente" e, ao confiar totalmente na enteada, deixando-a agir por sua conta, e presumindo que tudo estaria bem, era uma preocupação a menos, a juntar às que já tinha com o filho, e com o trabalho.
Mas nem sempre tem esse sentido.
Confiar é dar um voto de crédito a quem amamos, para que possam tomar as suas decisões, e agir como acham que devem agir, sem impormos a nossa vontade.
É deixar dar os primeiros passos, e voar, quando assim o desejarem.
A questão, é não deixar eles voar sozinhos, sem saber que rumo seguiram, mas antes deixá-los voar acompanhando, ainda que de longe, o percurso que estão a fazer. É deixá-los cair, se for preciso, mas estar lá para apoiar e minimizar os estragos, em vez de nem sequer saber que eles caíram.