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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Submersa...

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Longe vão os tempos em que nadava e boiava, livremente, à superfície.

E que, livremente, mergulhava.

Quando lhe apetecia. Ou quando, por algum motivo, precisava de ir ao fundo.

Mas logo voltava à superfície. Até porque a maré nunca estava muito alta.

Lá fora, divertia-se com tudo o que via. Com todos os seres que consigo conviviam, e partilhavam o espaço.

 

Depois, um dia, começou a ter que ir mais vezes ao fundo.

Não por sua vontade, mas por necessidade. Havia responsabilidades. Obrigações, que era necessário cumprir, e que dependiam de si.

E o mar, inesperamente, encheu-se de mais água, vinda não se sabe bem de onde. 

A cada dia que passava, água e mais água.

As vindas à superfície foram diminuindo, até que deixaram de acontecer.

Agora, a vida era passada de forma submersa.

 

E, bem vistas as coisas, talvez o hábito e a resiliência sejam tão grandes que se tornou mais fácil viver assim.

Sabe-se lá como, e se, ainda conseguiria ir à superfície, e sentir-se da mesma forma que antes. Divertir-se, da mesma forma que antes.

Quando já nada é como antes.

Quando, ao fim de tanto tempo, se movimenta e orienta melhor lá em baixo.

 

Até poderia tentar.

Mas a sensação é a de que, à semelhança de quem está soterrado e tenta escavar para sair do buraco, mas só lhe cai mais e mais areia em cima, soterrando ainda mais, sempre que pensa sequer em experimentar vir à tona, mais o mar se enche, mais água lhe cai em cima, mais difícil se torna, e menos vontade tem.

 

Além disso, há amarras a prender.

Como quem vai criando raízes, por estar muito tempo no mesmo sítio.

Como quem fica enredado na teia e, mesmo quando parece que está a soltar-se, há sempre um fio que impede. Ou que só solta, se tiver outro alguém a quem possa agarrar temporariamente.

E há todo um mundo que depende de si. Há todo um peso nas suas costas que, para que possa tentar sair dali, ainda que por instantes, alguém tem que estar disposto a carregar ou, pelo menos, partilhar.

Também isso não é fácil.

Porque há sempre quem desafie, quem chame para a superfície, mas poucos são os que querem aceitar a contrapartida.

 

E é por isso que, até lá, continuará a ser uma vida submersa...

A Ilusão do Iceberg

 

Quem está de fora, nem sempre vê, ou quer ver, o que está na origem daquilo que é mostrado.

Quando o que está visível é apenas a superfície, poucos são os que pensam naquilo que poderá ter dado origem à mesma, nos alicerces, na base de tudo, nas raízes de onde se obteve alimento, no que está abaixo da superfície, no que está para além daquilo que conseguimos ver. 

E, se é verdade que, em muitos casos, muitas superfícies não passam mesmo de isso, sem nada por baixo, e podem desaparecer tão depressa como surgiram, também é verdade que, muitas das mais belas superfícies são apenas o resultado de algo muito maior, que dificilmente se verá, mas que está lá.

 

 

A relva não é mais verde do outro lado!

 

Não é raro queixarmo-nos da nossa vida, e de tudo o que dela faz parte. Também é frequente, em determinados momentos, invejarmos as vidas, os acontecimentos, a sorte e a felicidade das outras pessoas. Fazendo lembrar aquele ditado que diz que "a relva é sempre mais verde do outro lado" - aquele onde nós nunca estamos!

Mas não é, de todo, verdade. E, com um outro ditado, é fácil derrubar essa teoria "quem está no convento é que sabe o que vai lá dentro"!

Porque nem tudo aquilo que parece, é. E, muitas vezes, o quadro bonito que os nossos olhos vêem, representa somente isso - uma pintura que mascara a realidade. Ou somos nós que nos deleitamos tanto com a superfície, que não queremos observar mais a fundo para perceber o que a pintura representa.

 

Isso acontece, frequentemente, em vários aspectos e a vários níveis como, por exemplo, em relação aos nossos filhos.

Por vezes, damos por nós a desejar que eles fossem mais como esta ou aquela criança que conhecemos. Porque é mais calma, porque é mais desembaraçada, porque não faz birras, porque se entretem sozinha, porque não tem mau feitio... Mas desengane-se quem pensa que os filhos dos outros não têm defeitos. Porque têm! E é perfeitamente normal!

Faz parte de todos nós. Cada um é como é e, se há certos aspectos que se podem melhorar, outros pertencem ao nosso carácter e não os podemos alterar.

E digo isto porque, nestas semanas, em que tenho convivido mais com crianças além da minha filha, constatei isso mesmo. Há crianças que tendem a portar-se bem e a ser bem educadas quando lidam com pessoas que não conhecem bem e com quem não têm confiança. Mas isso não significa que, no seu ambiente familiar, na sua zona de conforto, sejam assim. Por outro lado, há crianças que lidam com essas mesmas pessoas estranhas como se de colegas da mesma idade se tratassem, embora aparentem ter uma boa educação. Há crianças cuja espontaneadade revela inocência, e outras autoridade.

A verdade é que, nem os nossos filhos são tão maus, nem os dos outros tão bons como queremos acreditar. E quem diz os filhos, diz tudo o resto. Apenas temos que valorizar mais os aspectos positivos, aceitar os defeitos e sentirmo-nos gratos por tudo o que temos!