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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

O fruto proibido...

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... é sempre o mais apetecido!

Já dizia o ditado, e é verdade.

Basta, a uma pessoa, não ter à sua disposição alguma coisa, para a querer.

 

Como aquelas crianças que fazem birra, e não descansam enquanto não convencem os pais a comprar um determinado brinquedo, apresentando mil motivos diferentes pelos quais o devem fazer e, depois, quando finalmente o têm na mão, brincam 2 ou 3 vezes, e perdem o interesse.

 

Porquê?

Porque já o têm.

Porque já satisfizeram o seu capricho.

E talvez porque, afinal, não queriam assim tanto. Ou queriam, mas não pelo brinquedo em si. Apenas para dizer que tinham. 

 

E isto aplica-se a tudo na vida. 

Seja bens materiais, oportunidades, ou relações.

 

Quantas vezes, temos as coisas ali à nossa frente, e nem ligamos, até deixarmos de ter, e percebermos que, afinal, queremos.

Mas, até quando?

Será um sentimento real, ou apenas a frustração da perda?

Será um mero erro cometido, que agora se quer corrigir, para não mais voltar a errar? Ou apenas um impulso do momento?

Será um desejo verdadeiro, ou pura teimosia? Inveja de quem possa vir a dar valor àquilo que desperdiçámos? 

Uma resolução reflectida e amadurecida de quem, realmente, não quer voltar a desperdiçar o que antes ignorou? Ou um capricho passageiro?

 

 

Todos nós lá chegaremos, mas...

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... não é fácil.

Está a fazer três anos que o meu pai foi diagnosticado com insuficiência cardíaca, e insuficiência renal.

Desde então, já algumas vezes se foi abaixo, já algumas vezes tememos o pior, e outras tantas, deu a volta e mostrou vontade de por cá continuar.

Desde então, foram algumas as viagens, consultas e um segundo internamento a deixarem-no debilitado, mas de volta a casa, para recuperar.

Desistiu das consultas, rejeitou as eventuais cirurgias, e rejeitará, provavelmente, quando chegar a hora, a hemodiálise.

 

Nestes três anos, com os problemas de saúde a pregarem umas partidas, ficou mais dependente.

A cabeça também não está nos melhores dias. Embora ele tenha plena consciência da sua situação e dificuldades.

É difícil ter uma conversa normal com ele, faz muitas confusões, esquece-se do nome das coisas, temos quase que decifrar o que ele quer dizer.

Para falar com alguém ao telefone, tem que ter alguém para lhe "traduzir" o que, do outro lado, está a ser dito.

 

Ultimamente, queixa-se dos pulmões.

Nota-se a respiração acelerada.

O cansaço.

Uns dias dorme. Outros, nem por isso.

Mas não quer ir ao hospital. Não o censuro. Nem obrigo.

Ele conhece os seus limites e, sempre que se viu aflito, pediu para ir.

Mas a verdade é que, queiramos ou não, está o relógio a andar, em contagem decrescente.

 

Ontem, lembrou-se que tinha que cortar o cabelo.

Pediu ao meu tio para marcar hora no barbeiro.

Num dia de temporal.

Foi apanhar o autocarro da vila, duas horas antes. Não sei, sequer, se passou.

Não sei se não cai, se não escorrega por causa da chuva, se não se engana no barbeiro.

E ainda vai ter que esperar, na rua, que este abra.

 

Sei que vai apanhar frio.

Provavelmente, chuva.

Não sei como vai para casa. 

Pedi para, caso estivesse a chover, chamar um táxi.

Teimoso como é, ainda é capaz de ir a pé.

E, depois, é mais cansaço, e mais uma noite com dores, pelo esforço.

 

Eu sei que ele quer manter e dar uso à pouca autonomia que ainda tem.

Mas, por vezes, isso depois, se correr mal, traduz-se em mais dependência.

 

Não posso ligar para ele, porque ele nem saberá atender o telemóvel (já confunde as teclas) e, mesmo que o atenda, não me ouvirá, pelo que não serve de nada.

Enquanto isso estou eu, aqui, com o "coração nas mãos".

 

Quando duas peças parecem não encaixar

(A propósito do Dia Mundial do Puzzle)

Puzzle grande com fotografia

É fácil dizer "se tentarmos, se fizermos um esforço, se nos decidarmos a isso, se realmente for isso que queremos, conseguimos".

Não é bem assim.

Simplesmente, há peças que encaixam, e outras que não.

Tentar encaixar duas peças de um puzzle, que já percebemos que não podem ser encaixadas, é negar o evidente, e ignorar o óbvio.  

Claro que podemos insistir. Forçar. Mas de que adianta? Elas continuarão sem encaixar. Com sorte, ainda acabam por ficar danificadas.

Ou, então, podemos sempre tentar moldá-las para que se ajustem. Tirar um bocadinho daqui. Acrescentar um bocadinho dali.

Mas, para quê? Por pura teimosia?

As peças deixam de ser o que são, perdem uma parte de si, ganham outra que não faz parte de si, só para se encaixarem?

E, ainda que encaixando, será que farão sentido? 

Então, talvez se deva, em vez de insistir em encaixar duas peças que, simplesmente, por mais que se tente, não encaixam, procurar a peça certa.

Porque ela estará algures por aí. Pode é demorar mais tempo a encontrá-la.

 

A idade traz limitações?

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É errado pensar que a idade traz limitações?

Ou, errado, é não reconhecer e aceitar essas limitações?

 

Não será regra.

Nem excepção.

Cada pessoa é diferente da outra, e o que acontece com uma, pode não acontecer com a outra.

Vemos por aí tanta gente nova, já com tantas limitações.

E tantos idosos que parecem ter mais vitalidade e juventude que os mais novos.

 

A idade é apenas um número?

Sim. E não.

Sim, porque não tem que nos definir, nem às nossas capacidades. Tão pouco tem que fazer-nos sentir de forma diferente, a cada número que é somado ao anterior.

Não, porque, queiramos ou não, o envelhecimento faz parte da vida, assim como tudo aquilo que ganhamos, ou perdemos, com ele.

Pode não se fazer sentir na mente, mas ser visível no corpo.

Mas, mesmo na mente, ela revela-se, muitas vezes, sob a forma de maturidade, e pela forma de encarar a vida.

 

A idade, por si só, não representa, automaticamente, limitação.

Ainda que saibamos que há limites naturais para determinadas acções, dependendo da idade de cada um, certo é que, muitas vezes, somos surpreendidos.

Há coisas que desafiam a lógica, o natural, e a idade.

E, por isso, não há qualquer problema em nos pôrmos à prova, em nos testarmos, em querer fazer isto ou aquilo, porque assim o desejamos, sem que a idade, por si, se interponha como obstáculo.

 

Mas quando a idade, realmente, acarreta limitações, devemos ignorá-las?

O avançar da idade, e aquilo que ele faz ao nosso corpo e à nossa mente, pode ser suficiente para nos brindar com limitações.

Nesse caso, é errado não reconhecer, aceitar e adaptar a essas limitações.

Podemos sempre tentar ignorar, ou contornar essas limitações.

Isso não significa que a mera força de vontade e determinação (que muitas vezes se transforma em teimosia e obsessão) consigam, de facto, levar a melhor.

 

 

 

A subida

Pode ser uma imagem de natureza, céu e lusco fusco

 

"Parar é morrer", dizem.

Mas, por vezes, para não morrer, é preciso parar.

 

Naquela subida, que parecia não ter fim, ela subia, insistia, passo a passo, sem parar, ainda que todas as forças lhe estivessem a fugir pelo corpo porque sabia que, se parasse, por um minuto que fosse, já não conseguiria continuar.
 
No início, movia-a a coragem, a determinação, a força.
Depois, a perseverança. 
E, à medida que ia subindo, a obstinação. A vontade de superar o desafio.
Que logo se transformou em teimosia. Em sobresforço, contraprodutivo.
Uma espécie de testagem dos limites, que já há muito acusavam estar a ser ignorados.
 
Mas, depois, deu-se por vencida. Parou. Sentou-se, esgotada.
Ali permaneceu, por bastante tempo.
Acreditava mesmo que, dali, já não conseguiria sair.
Que tudo tinha sido em vão.
 
Ainda assim, restava-lhe uma centelha de orgulho. De dignidade. 
Algo a impelia fazer uma derradeira tentativa. Porque há coisas que não devem ficar a meio. E seria mais fácil chegar ao destino, do que retornar ao ponto de partida.
 
Quando se tentou pôr de pé, ficou surpreendida.
As dores já não se faziam sentir tanto. Já não se sentia tão cansada.
Não faltava assim tanto para alcançar o topo. Não custava tentar.
 
Motivada e esperançosa, retornou à subida, acabando por alcançar o objectivo a que se tinha proposto.
E assim, depois de vencida, acabou vencedora.
Mas como saber se as subidas que iniciamos têm uma meta ou se, pelo contrário, são eternas e infinitas? 
 
Na verdade, não sabemos.
Mas, se não acreditarmos que elas nos levam a algum lado, de que nos servirá subi-las?
Se não existir topo, de que adianta escalar?
 
 
 
Inspirado neste texto!