Sabem quando uma tempestade ou catástrofe ocorre e, depois de passar, nos deixa a braços com os destroços?
Pois a pandemia não é muito diferente.
Ouço muitas pessoas falarem do ano 2021 como o ano em que tudo será melhor, tudo será diferente, em que, quem sabe, nos vamos ver livres, da pandemia.
Eu não o vejo assim.
Se 2020 foi o ano em que ela passou por nós e nos atingiu com mais severidade, 2021, com ela ainda presente, será o ano em que vamos estar a avaliar os estragos, a lidar com os destroços por ela deixados, a ver o que é possível salvar e o que tem que ser construído de raiz, feito de novo.
2021 é o ano em que lidamos com as consequências, como a ainda maior desigualdade social, com o desemprego no caso dos que ficaram sem trabalho, com as dívidas daqueles que viram os seus rendimentos afectados com cortes e medidas extremas, com todas as outras doenças e problemas de saúde que ficaram "pendentes", provavelmente, com uma crise económica, e sabe-se lá que mais.
Tal como, após uma tempestade, as pessoas lidam com a falta de água e luz, com as dificuldades de acesso, com problemas de saúde pública, dela decorrentes.
E, muitas vezes, esse "pós tempestade" é tão ou mais duro que a tempestade em si e, sem dúvida, mais duradouro.
É preciso coragem. Resiliência. Determinação.
E sim, esperança, também.
Mas, da mesma forma, a noção de que não haverá nenhuma varinha mágica ou feitiço, que nos devolva em meros dias ou meses, aquilo de tínhamos antes.