Gosto de comunicar, de pesquisar, de entrevistar mas, nem uma única vez, pensei seguir a área do jornalismo.
Muitas vezes o meu marido diz-me: devias investir nessa área. Ao que eu lhe respondo sempre: o facto de gostar de uma coisa, não quer dizer que tenha que fazer dela profissão ou carreira.
Da mesma forma que ele, apesar de gostar tanto de animais, não tem, obrigatoriamente, de ser médico veterinário, por exemplo.
Claro que haverá áreas que interessam a determinadas pessoas e que, por isso mesmo, querem seguir porque isso as realiza e faz felizes. E que o ideal, sempre que possível, é trabalharmos em algo que gostemos. Mas não tem que ser uma regra. Até porque, gostanto de diferentes áreas, não seria fácil exercê-las todas ao mesmo tempo.
Assim, e escolhida aquela que mais queremos ou nos agrada ou, simplesmente, aquela que, não nos agradando, é a que tem melhor saída profissional, há que mostrar o que valemos, dar o nosso melhor, decidar a nossa vida a ela, até porque é ela que nos dá o sustento.
Mas há quem leve a sua carreira a um extremo, de quase abdicar da sua vida, pelo trabalho. Muitas vezes, durante anos a fio.
Até há bem pouco tempo, era essa a tendência, sobretudo por parte das mulheres, que além de tudo o resto, queriam afirmar-se e mostrar o que valiam, num mundo de homens.
Hoje em dia, parece-me que a tendência se está a inverter.
Parece-me que, hoje, as pessoas estão a abdicar das suas carreiras, para recuperar a vida que naõ viveram até agora.
Há cerca de 2 anos, um conhecido do meu marido abdicou da sua carreira de engenheiro, e do belo salário que ganhava, para se tornar recepcionista num ginásio, e treinador de futebol de crianças nos tempos livres.
Aquilo que perdeu em dinheiro, ganhou em descanso, em horas com a família, em paz, e a fazer algo que gosta. E não se arrepende.
Da mesma forma, o médico veterinário que fundou o Hospital Veterinário aqui da vila, que estudou tanto para se formar, que lutou tanto para se dedicar aos animais e ter um hospital a seu cargo, desistiu porque já estava farto.
Colegas do meu marido, seguranças, com mais idade, já começam a acusar o excesso de trabalho, as noites fora de casa, o pouco tempo para a família, e a preferir postos e horários mais suaves.
Até mesmo eu, quando tive oportunidade de ir para um trabalho a ganhar um bom ordenado, pouco depois de terminar os estudos, disse que não. Iria sair de casa de madrugada, e chegar à noite. Não dava para mim. E era solteira na altura, e sem filhos.
Hoje, ainda menos abdicaria, a não ser por extrema necessidade, do tempo que ainda vou tendo com a minha filha, por uma carreira profissional, por um emprego bem remunerado, mas que me tirasse a liberdade que hoje tenho.
E por aí, do que abdicariam mais facilmente: qualidade de vida, ou da carreira?