Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada...
Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!
Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada...
Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!
Será que todos os jovens que estão em centros educativos ou outras instituições do género são delinquentes?
Será que todos os jovens que ali vão parar são mal-educados, pouco inteligentes, e sem vontade de mudar de vida?
Qual será a história de vida de cada um destes jovens, e de que forma essa história contribuiu para aquilo que hoje são?
O que estará por detrás de cada acto?
Serão, esses jovens, os casos perdidos da sociedade?
E o que acontece a quem sai fora da norma, e desses padrões definidos? A quem é diferente, a quem tenta ser diferente, a quem quer mudar?
Que influência poderá exercer a maioria, sobre as excepções, levando-as ao mesmo caminho?
Para aqueles que resistem, resta-lhes a solidão, o isolamento. Algo que eles até preferem, e a que já estão habituados.
Até ao dia em que, ainda que com pouca vontade ou contrariados, tenham que lidar com outros seres, como forma de terapia. Não com outros humanos, mas com animais. E, de um momento para o outro, surpreendemo-nos com o que daí resulta.
Héctor é um desses jovens, com 17 anos, detido num centro de menores por delitos que tem vindo a cometer, o último dos quais o furto de algo que a avó, internada num lar, precisava para ter uma melhor qualidade de vida, uma vez que o aquecimento no seu quarto tinha avariado.
Como lhe fizeram ver, em tribunal, os fins não justificam os meios, mas é fácil perceber que Héctor não rouba por diversão, por prazer, e muitas vezes nem sequer para ele próprio.
Este adolescente é conhecido pelas suas fugas planeadas, que lhe garantem o isolamento que ele tanto quer.
Desde logo se vê que Héctor é um jovem inteligente, perspicaz, com um grande sentido de família, apesar de a sua estar separada, e uma enorme dificuldade de socialização, vivendo ali no centro sem amigos.
Quando lhe é proposto, tal como a alguns dos seus companheiros, tomar conta de animais vítimas de maus tratos, e treiná-los, Héctor não fica muito entusiasmado mas, com o tempo, acaba por criar uma bonita amizade com o cão “Ovelha”.
Até que, um dia, o “Ovelha” não vem. É-lhe explicado que o cão foi adoptado, e que ele poderá treinar outros, que também precisam.
Mas Héctor só quer o seu “Ovelha” de volta, e torna a fugir do centro, para recuperá-lo.
Só que o jovem está prestes a fazer 18 anos e, se se meter em algum problema ou sarilho, não voltará para o centro educativo, nem será julgado como menor.
E é assim que Héctor, com a ajuda do irmão, de quem há muito está afastado, parte numa aventura para descobrir o paradeiro de “Ovelha”, juntamente com a avó, que está prestes a falecer.
Mais do que recuperar o seu amigo canino, poderá Héctor voltar a ter de volta o seu irmão, como antes?
E se nunca encontrar o “Ovelha”?
Estará Héctor a colocar em risco a sua liberdade, em vão?
Pedro Vicente é psicomotricista, mas desde sempre teve a música na sua vida.
Encontrou, no contacto com crianças, jovens e adultos com necessidades e capacidades especiais, a chave para aceder ao mecanismo que transforma emoções em canções. Tem, assim, na música, um poderoso aliado terapêutico.
Para ficarem a conhecer um pouco melhor este artista, e o trabalho que desenvolve, deixo-vos com a entrevista que Pedro Vicente concedeu a este cantinho, que muito prazer me deu fazer, e a quem desde já agradeço pela disponiblilidade!
Quem é o Pedro Vicente?
Um lisboeta de 27 anos, muito grato pelo privilégio de viver, e que o procura retribuir vestindo-se sempre de um sorriso sincero e brincalhão.
O Pedro é psicomotricista de profissão. Pode explicar-nos um pouco em que consiste esse trabalho?
Com uma ação centrada no corpo em movimento, mediado pela relação entre a emoção e a cognição, o psicomotricista tem como missão garantir que cada ser humano, independentemente das suas potencialidades ou dificuldades, adquire as competências necessárias para se adaptar da melhor forma ao contexto em que pretende viver, sentindo-se plenamente realizado, na perceção de si mesmo e na relação com os outros.
O que é que surgiu, em primeiro lugar, na sua vida: a psicomotricidade, ou a música?
A música! Com os primeiros passos, vieram as primeiras gravações, num gravador a pilhas oferecido pelo avô. A psicomotricidade chegou mais tarde, mas foi determinante para a afirmação do papel da música na minha vida.
Hoje em dia, estas duas paixões estão aliadas, tendo o Pedro desenvolvido um programa de aprendizagem de piano e canto destinado a crianças com perturbações do Espectro do Autismo e outras perturbações do desenvolvimento. Que impacto tem este programa no desenvolvimento e vida destas crianças?
O meu programa, adaptado especificamente a cada aluno, tem como objetivo final o domínio do instrumento e da voz o que, por si só, constitui uma resposta à procura dos pais, que não encontram este tipo de solução no ensino tradicional.
Para os meus alunos, a música tem funcionado como um facilitador de todas as aprendizagens, com resultados na melhoria da atenção, comunicação, socialização e comportamento.
As emoções que sente ao trabalhar com crianças, jovens e adultos com necessidades e capacidades especiais são facilmente transpostas na composição de uma música?
Acredito que todas as pessoas e ligações que criamos são especiais e é na diversidade de contextos e contactos que se encontram os ingredientes necessários à espontaneidade que inspira as (minhas) canções.
Apesar de ainda estar a dar os primeiros passos na música, é já extenso o seu reportório de canções, com letra e música originais. Considera que faz cada vez mais sentido um artista ser, em simultâneo, compositor, autor e cantor?
Do ponto de vista prático é muito mais imediato quando se pode criar e reproduzir no mesmo movimento. É um privilégio poder interpretar palavras e melodias que saem do próprio coração e ter a liberdade de modificar a composição ao sabor do estado de espírito.
Nunca planeei ser compositor ou cantor, tudo surgiu quando as canções naturalmente me começaram a encontrar.
O caminho a que agora me proponho é o de mostrar esta música que quer falar através de mim, mas seria um gosto escrever para outros intérpretes e não excluo a possibilidade de poder vir a dar voz aos temas de outros compositores.
O seu primeiro álbum “Espera”, foi gravado em 2016. No entanto, o lançamento em formato digital ocorrerá apenas este ano, a 27 de outubro. A que se deveu esta “espera”?
O fator espontaneidade que marca, não só as canções que o integram, mas a própria gravação do álbum, impôs um período de maturação profissional, pessoal e artística necessário para que o lançamento pudesse ter a máxima entrega. Um outro motivo revela-se no caminho que foi necessário percorrer, por alguém 100% dedicado a uma vida profissional fora do meio artístico e que, agora, finalmente, se sente a chegar à casa de partida.
Mais do que uma “Espera” minha, é uma espera destas canções que têm ganho intensidade, enquanto aguardam a sua oportunidade de correr o mundo e chegar aos corações que mais precisam de as acolher.
Em palco, no âmbito da promoção do seu trabalho, tem a acompanhá-lo a banda “Os Vértice”. Como aconteceu essa junção?
Amigos, que se deixaram encantar por estas canções e se juntaram para as levar a palco por uma causa solidária.
"Mais um Segundo” é o single de apresentação deste primeiro trabalho. Do que nos fala este tema?
De amor…de um amor que é intenso e descontrolado, visceral e espiritual, que tem tanto de impossível como de inevitável, de um amor que faz parar o tempo e nos faz cometer as maiores loucuras, que nos leva a dar a volta ao mundo num só abraço…ou seja, um amor comum como só o amor sabe ser.
Tanto o nome do álbum como o single de estreia remetem-nos para a ideia de tempo. De que forma é que encara o tempo na sua vida e na sua profissão?
No mundo cada vez mais apressado em que vivemos, torna-se imprescindível alertar para a importância de “Esperar” e encontrar tempo para ver, ouvir, sentir, tocar, amar…tempo para fazer e “Ser Feliz”.
Quais são as expectativas relativamente ao lançamento deste trabalho?
Espero que este primeiro álbum funcione como um cartão de embarque, que me leve junto das pessoas, com quem quero partilhar, pessoalmente, a sinceridade destes onze temas, e de muitos outros que me deixam sempre com um sorriso rasgado, que pretendo espelhar nos rostos de quem me ouvir.
Onde é que o público poderá encontrar, e ouvir, o Pedro Vicente?
A partir de 27 de outubro em todas as plataformas digitais!
Por agora, podem acompanhar o meu canal de YouTube ou a minha página de Facebook (Pedro Vicente Music) onde, em breve, anunciarei o meu concerto de apresentação!
Muito obrigada, Pedro!
Muito obrigado!!!
Pedro Vicente
Nota: Esta conversa teve o apoio da editora Farol Música, a qual cedeu também as imagens e o lyric vídeo.
Ainda me custa aceitar que não vais mais brindar-nos com as tuas turrinhas, beijinhos, companhia e brincadeiras.
Mas já me vou sentindo um pouco melhor. A fonte já vai deitando menos água, e menos vezes por dia.
Por vezes, sabe-me bem estar aqui em casa, na casa que partilhámos enquanto cá estiveste, e sinto-me bem. Como se soubesse que também estás ali comigo, como se sentisse a tua presença. Mas claro que ainda dói, quando penso que não te posso ver, nem tocar.
Ontem, enchi-me de coragem e fui estender roupa no quintal. Lembrei-me de quando ias ao meu colo lá fora, e eu tinha que estender e apanhar a roupa só com uma mão, porque a outra era para te agarrar!
Apareceu a Boneca. Dei-lhe o resto da comida que tinha ficado intacta na tua taça. Ela ainda petiscou, mas depois assustou-se e foi embora.
Temos falado muito de ti, e das tuas manias, dos saltos que davas para a parede, como se estivesses a fazer parkour, da forma como te escondias e esperavas que eu passasse para te atirares às minhas pernas, de quando me desafiavas para brincar à apanhada!
E parecemos uns maluquinhos, a falar para as fotografias como se estivesses mesmo ali, em vez de um pedaço de papel.
Continuo a vir cá a casa de manhã, depois de deixar a Inês na escola, e ao almoço. Há hábitos que demoram o seu tempo a perder-se.
Mas sinto falta de me despertares, como costumavas fazer, sempre que eu ficava uns minutos na ronha, em vez de me levantar quando o outro despertador tocava!
Este fim de semana, vamos visitar uma associação de amiguinhos felinos. Vamos ver como nos sentimos na presença de outros felinos. Mas cada vez sinto menos falta de ter aqui uma gatinha por perto. Quem eu queria eras tu. Como não podes estar, ficam as tuas recordações.
A não ser que me pregues uma partida e me faças, involuntariamente, deixar cativar por alguma bichana.
Pedi-te um sinal, e esta noite sonhei contigo! Estavas bem, a brincar. Peguei-te ao colo e pude abraçar-te e despedir-me de ti. Contigo, trazias dois gatinhos pequeninos. E acordei... Queria mais, queria continuar a sonhar contigo. Quero continuar a sonhar contigo. E quero que consigas comunicar comigo todos os dias, de alguma forma. Sinto-me mais confortada se o fizeres, embora logo em seguida volte o aperto no peito, e o nó na garganta.
Hoje fui comer Nestum e, inevitavelmente, senti a tua falta ali na bancada à espera que te colocasse um pouco no prato, para comeres comigo.
Fui arrumar o roupão da Inês, e pensei que foi aquele o último roupão que te tapou, antes de te levarem da nossa casa. Sabias que a Inês até pôs uma foto tua no seu telemóvel?!
E nós também queremos espalhar fotos tuas em cada divisão desta casa. Talvez se torne menos doloroso passar aqui os dias, e percorrer cada divisão sem a tua presença. Assim, temos-te mais perto e podemos falar contigo. Chamem-nos loucos...
Recolhi todos os teus brinquedos do chão, guardei o teu peluche favorito e o teu copinho das ervas, e tirei a tua cama da cadeira da entrada. A almofada ainda tem as tuas pegadas!
Também já temos um título para o teu livro "Tica - a nossa eterna princesa"!
Estivemos a ver algumas imagens tuas, e também de outros gatinhos. Vimos uma gatinha preta e branca, a quem deram o nome provisório de Tomatada (não me perguntes porquê), tem 6 meses, e vai ser esterilizada na próxima semana. Nós achamos que ela tem cara de Becas. É muito patusca e bonita, mas não quero estar já a trazê-la para cá.
O teu sonho pode até ter sido um sinal de que queres aqui um outro animal para nos alegrar e sofrermos menos com a tua ausência. Mas quem eu queria mesmo aqui eras tu...
Hoje, arrumámos também a tua tacinha da água. A da comida, ainda se mantém. Tem que ser aos poucos...
E descobri um pelo teu nos lençóis, enquanto fazia a cama :) Juntámos aos teus outros vestígios que foste deixando pela casa.
Quero desde já pedir-vos desculpa pela quantidade de posts que tenho escrito e sei que ainda vou escrever, sobre a Tica.
Não quero fazer do blog um muro das lamentações, até porque nada a irá trazer de volta. Mas escrever, e deitar tudo cá para fora é uma das formas de me ajudar a superar a sua perda.
Sabem quando uma pessoa leva uma pancada, ou se magoa, e na altura acha que até não dói assim tanto, mas passadas umas horas arrefece, e as dores tornam-se insuportáveis?
A noite em que a Tica morreu foi como essa pancada. O primeiro dia sem a Tica está a ser complicado, e as dores começam a fazer-se sentir.
Levantei-me de manhã, como nos restantes dias, para ir trabalhar. Não tenho a Tica na entrada, em cima da máquina de secar, para o pequeno-almoço vegetariano.
Vou desembaciar a janela da sala, e só depois me lembro que a Tica não vai para a janela. Choro sem parar, porque preciso. Porque dali a pouco tenho que acordar a minha filha, e nessa altura preciso de estar calma. Mentalizo-me que a melhor forma é não pensar em nada. Respirar fundo, e abstrair os pensamentos temporariamente.
Volto a chorar enquanto conversamos com o veterinário, e ele nos explica o que, provavelmente, terá acontecido. Volto a recompôr-me, para entrar no trabalho.
Por lá, as lágrimas vão caindo esporadicamente, e às tantas já nem sequer estou a ver bem o que está escrito no monitor do computador.
A meio da manhã, aproveito um momento mais calmo para ligar aos meus pais e dar a notícia.
Ao almoço, tudo parece melhor, vou buscar a minha filha à escola, e vamos almoçar. Mas, assim que chego perto de casa, olho para a janela onde a Tica estava sempre, à nossa espera, e vou-me abaixo.
Volto para casa dos meus pais e decido não voltar à minha, na hora de almoço. Preparo-me para a tarde de trabalho, que volta a ter altos e baixos. Mas há clientes e telefonemas para atender, e tenho que me abstrair.
À noite, saio do trabalho, e as lágrimas voltam a cair. Misturam-se com a chuva que cai, e quase nem me importo se me estou a molhar ou não. E também não quero saber se estou na rua a chorar que nem uma perdida. Faço-o, porque quando chegar a casa tenho que estar calma.
Passo pelos meus pais para ir buscar a minha filha, e vamos para casa. Por momentos, ainda tenho a preocupação de fechar a porta depressa, para a Tica não fugir. Só depois percebo que isso não vai acontecer.
Inconscientemente, tento ver se ela estará a dormir na nossa cama, ou na sua mantinha na sala. Mas sei que não a vou encontrar.
Jantamos, e enquanto a minha filha não vai com o pai, ficamos na sala a ver TV. Num canto do sofá, olho para o monte de roupa que tinha secado ontem, e lembro-me de como a Tica gostava de se deitar em cima dela. Nunca mais irá fazê-lo.
Quando a minha filha se vai embora, tenho mais uma recaída. Tudo se mantém na mesma. Até o saco com a areia suja de chichi e o cocó, que ficou por despejar. A caixa que não vai mais utilizar. A taça da comida, a da água, o vaso das ervas em cima da máquina...
Vou para a sala escrever. E penso que, se estivesse entre nós, já estaria enroscada no meu colo, a dormir. Também isso não voltará a acontecer.
O meu marido, a trabalhar mas preocupado por eu estar sozinha, liga-me, e choramos os dois ao telefone, com saudades da nossa "minguinhas".
Tenho que me deitar e tentar dormir. Desta vez, a Tica não irá para cima de mim, nem pedir-me para ir lá para dentro da cama para dormir enroscada a mim, na conchinha.
Está a ser muito duro. Mais do que com a Fofinha.
Só queria que, de alguma forma, ela me desse um sinal...de que está bem, de que gostou de estar connosco, de que foi feliz, de que não sofreu quando morreu, de que apenas saiu para não morrer à nossa frente...
Tenho uma vontade enorme de voltar a enchê-la de beijinhos, porque todos os beijinhos do mundo ainda seriam poucos. Tenho vontade de tê-la novamente ao colo, e cantar-lhe a sua música. Sinto necessidade de abraçá-la, de a cobrir de mimos, nem que fosse uma última vez.
Ando às voltas na cama...de tanto chorar, hei de ficar esgotada, e adormecer...
Amanhã, espera-me outro dia. A vida continua, mesmo que eu queira ficar parada no tempo. Hei de sobreviver, com algumas rugas a mais, e os olhos um pouco mais inchados que hoje...