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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

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The Society

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Imaginem que, de um momento para o outro, os nossos filhos se viam sozinhos, no sítio onde vivem, mas sem qualquer adulto presente, e sem qualquer forma de sair desse local.

Imaginem que não conseguiam contactar com ninguém, e não faziam a mínima ideia do que tinha acontecido, nem onde estariam os pais, a família, as autoridades, ninguém.

Apenas adolescentes, sozinhos, sem saber o que fazer...

O que acham que resultaria daí?

 

 

Provavelmente, ficariam assustados.

Depois, aproveitavam a liberdade temporária para fazer o que mais queriam, sem reclamações ou proibições.

Em seguida, começariam a sentir falta de quem fazia tudo por eles, saudades dos pais.

E, com os mantimentos em casa a acabar, haveria uma correria aos supermercados e um açabarcamento de tudo aquilo que pudessem, para sobreviver.

Começaria a haver insegurança, instabilidade, o "salve-se quem puder", e o "cada um por si".

Até que alguém tome as rédeas da situação, e comece a impor ordem, regras, alguma forma de as coisas funcionarem como for possível, sem haver muitos mortos e feridos, sem a coexistência em tais circunstãncias descambar num verdadeiro caos...

 

 

Mas, quem teria autoridade para tal?

Quem teria o direito de se assumir como líder perante os restantes?

Quem assumiria a responsabilidade de guiar, gerir, ditar a vida de todos, de tomar decisões e pedir a colaboração dos restantes?

Existe sempre quem queira o poder para si, mas não saiba o que fazer com ele, e se deixe manipular. Existe sempre quem queira o poder para si, para o usar em nome dos seus próprios interesses e, muitas vezes, para o mal.

Há quem não o queira, mas o mesmo lhe venha parar às mãos. E há quem o herde, e tenha que geri-lo para o bem de todos, apesar das constantes críticas, oposição, revolta.

 

 

A ideia seria criar uma espécie de democracia. Mas, quanto tempo leva a democracia a tornar-se uma ditadura? Principalmente, quando se vive um clima de insatisfação, de descontentamento, de aparente resignação e concordância, mas com o desejo de que tudo seja diferente, agarrando-se a promessas de melhor vida e melhores soluções?

 

 

Conseguiriam os nossos filhos aguentar-se? Viver desta forma? Passar a fazer tudo aquilo que, antes, tinham quem fizesse por eles, quem decidisse por eles, quem os guiasse e orientasse? Estariam dispostos a cumprir regras, a seguir ordens, a partilhar, a contribuir, a pensar no colectivo, e não no individual?

Quanto tempo levaria a desafiarem-se, a atropelarem-se, a agredirem-se, a matarem-se uns aos outros?

 

 

É isto que acontece em The Society, com os adolescentes de West Ham, que ali vivem, a terem que, sozinhos, criar uma sociedade que lhes permita sobreviver, até que consigam perceber o que se passou, onde estão, o que aconteceu a todos os adultos, e se é possível voltar tudo ao normal, antes de morrerem.

É preciso garantir a segurança de todos, racionar os recursos, distribuir funções, manter-se ocupados e distraídos da tristeza e receio que sentem ao se verem totalmente abandonados e entregues à sua sorte.

 

 

Vai ser a oportunidade para alguns, de se tornarem melhores pessoas, de se descobrirem e perceberem quem são e o que querem da vida, de crescerem... Mas também vai mostrar como as pessoas podem perder o seu carácter, mediante as circunstâncias, e agir de uma forma que nunca esperaríamos.

No fundo, não muito diferente da sociedade em que vivemos.

E quando quem não deve, assume o poder, pode-se esperar tudo...