The Society
Imaginem que, de um momento para o outro, os nossos filhos se viam sozinhos, no sítio onde vivem, mas sem qualquer adulto presente, e sem qualquer forma de sair desse local.
Imaginem que não conseguiam contactar com ninguém, e não faziam a mínima ideia do que tinha acontecido, nem onde estariam os pais, a família, as autoridades, ninguém.
Apenas adolescentes, sozinhos, sem saber o que fazer...
O que acham que resultaria daí?
Provavelmente, ficariam assustados.
Depois, aproveitavam a liberdade temporária para fazer o que mais queriam, sem reclamações ou proibições.
Em seguida, começariam a sentir falta de quem fazia tudo por eles, saudades dos pais.
E, com os mantimentos em casa a acabar, haveria uma correria aos supermercados e um açabarcamento de tudo aquilo que pudessem, para sobreviver.
Começaria a haver insegurança, instabilidade, o "salve-se quem puder", e o "cada um por si".
Até que alguém tome as rédeas da situação, e comece a impor ordem, regras, alguma forma de as coisas funcionarem como for possível, sem haver muitos mortos e feridos, sem a coexistência em tais circunstãncias descambar num verdadeiro caos...
Mas, quem teria autoridade para tal?
Quem teria o direito de se assumir como líder perante os restantes?
Quem assumiria a responsabilidade de guiar, gerir, ditar a vida de todos, de tomar decisões e pedir a colaboração dos restantes?
Existe sempre quem queira o poder para si, mas não saiba o que fazer com ele, e se deixe manipular. Existe sempre quem queira o poder para si, para o usar em nome dos seus próprios interesses e, muitas vezes, para o mal.
Há quem não o queira, mas o mesmo lhe venha parar às mãos. E há quem o herde, e tenha que geri-lo para o bem de todos, apesar das constantes críticas, oposição, revolta.
A ideia seria criar uma espécie de democracia. Mas, quanto tempo leva a democracia a tornar-se uma ditadura? Principalmente, quando se vive um clima de insatisfação, de descontentamento, de aparente resignação e concordância, mas com o desejo de que tudo seja diferente, agarrando-se a promessas de melhor vida e melhores soluções?
Conseguiriam os nossos filhos aguentar-se? Viver desta forma? Passar a fazer tudo aquilo que, antes, tinham quem fizesse por eles, quem decidisse por eles, quem os guiasse e orientasse? Estariam dispostos a cumprir regras, a seguir ordens, a partilhar, a contribuir, a pensar no colectivo, e não no individual?
Quanto tempo levaria a desafiarem-se, a atropelarem-se, a agredirem-se, a matarem-se uns aos outros?
É isto que acontece em The Society, com os adolescentes de West Ham, que ali vivem, a terem que, sozinhos, criar uma sociedade que lhes permita sobreviver, até que consigam perceber o que se passou, onde estão, o que aconteceu a todos os adultos, e se é possível voltar tudo ao normal, antes de morrerem.
É preciso garantir a segurança de todos, racionar os recursos, distribuir funções, manter-se ocupados e distraídos da tristeza e receio que sentem ao se verem totalmente abandonados e entregues à sua sorte.
Vai ser a oportunidade para alguns, de se tornarem melhores pessoas, de se descobrirem e perceberem quem são e o que querem da vida, de crescerem... Mas também vai mostrar como as pessoas podem perder o seu carácter, mediante as circunstâncias, e agir de uma forma que nunca esperaríamos.
No fundo, não muito diferente da sociedade em que vivemos.
E quando quem não deve, assume o poder, pode-se esperar tudo...