Todos nós sabemos o que é, todos nós o tememos, todos nós o queremos bem longe da nossa porta.
É certo que ele faz-nos questão de lembrar que veio para ficar, que cada vez tem mais força e ataca mais pessoas.
Num dia é um actor ou actriz conhecida, no outro alguém que é da nossa terra, vizinhos, familiares de amigos, até mesmo aqui, no mundo dos blogs, ele está presente.
Conhecemos a dor, conhecemos a luta, mas não sabemos como é lidar diariamente com ela. Ficamos sensibilizados, chocados, sem saber como seria se um dia nos calhasse a nós.
Falo, como já devem ter percebido, do cancro. Foi esse que, depois de ter andado pelas redondezas, resolveu agora aproximar-se mais e atingir a minha tia.
Ninguém merece passar por isso, e a minha tia, sem dúvida, não merecia! Não somos do mesmo sangue, é minha tia por afinidade. Mas isso é um mero promenor. Desde pequena que convivo com ela. Os natais, eram sempre passados com ela. E quantas vezes brinquei com as minhas primas lá em casa. Sempre foi uma mulher simples, alegre, brincalhona, trabalhadora, lutadora. Sempre esteve lá pronta a ajudar. Quase todos os dias a víamos quando tinha o café ao pé da nossa casa. Quando deixou, era frequente vê-la em casa dos meus pais, ao fim de semana, a jogar às cartas com o meu tio e com eles!
No momento de escolher alguém para minha madrinha de baptismo, foi a ela que escolhi. Não pelo dinheiro que tem, mas porque era aquela que, para mim, fazia mais sentido.
Agora, sem ninguém estar à espera, acontece-lhe isto. E não é que eu deseje mal a alguém, não desejo. Mas há tanta gente ruim neste mundo que ainda cá fica, enquanto que pessoas como a minha tia partem.
Os médicos não foram muito animadores - não vale a pena operar. Hoje vai saber a que tratamento se irá submeter. Fica a dúvida permanente - valerá a pena o sofrimento que o mesmo vai provocar, ou será em vão, servindo apenas para adiar o destino que se adivinha?
Há que ter fé, esperança, e acreditar que ela, contra todas as contrariedades e prognósticos, vai vencer esta batalha.
Ontem fui visitá-la - é sempre um momento complicado. Vê-la de repente numa cama, quase sem se poder mexer, com o desânimo estampado no rosto, apesar de disfarçar. Nem sabemos bem o que havemos de dizer, se não tocar no assunto, ou se falar abertamente. Não foi fácil, principalmente quando as lágrimas lhe começaram a cair.
É frustrante para ela, que sempre foi activa, precisar agora de ajuda para coisas tão simples como caminhar ou tomar um banho.
A minha filhota, tão querida, acabou por animar um bocadinho quando se virou para a tia e disse "já sabes que para a próxima tens que pedir ajuda ao teu marido"!
Quanto a mim, fiquei para trás um bocadinho para ficarmos as duas sozinhas e lhe dar uma força, e fazê-la perceber, embora ela saiba, que se a família sofre por ela é porque a ama, e ela não tem que se preocupar com isso, mas sim em lutar e ficar boa, para ainda cá estar muitos mais anos entre nós, como sempre a conhecemos!