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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Fui novamente tia!

 

Cerca de 12 anos depois, voltei a ser tia!

É certo que será apenas por afinidade, por parte do meu marido. Mas não sou menos tia por isso. 

A minha tia (que já faleceu), também era apenas minha tia por afinidade e, no entanto, foi a tia a quem eu estive mais ligada a vida toda.

A minha cunhada deu à luz uma menina!

O que dizem os sonhos?

 

Nunca fui uma daquelas pessoas que procura saber o significado dos sonhos que vai tendo ao longo da vida, assim como nunca fui pessoa para acreditar nas crenças e teorias sobre a interpretação dos sonhos.

No entanto, numa destas noites, sonhei com a minha falecida tia. Ela estava em casa dos meus pais, tal como eu, e estávamos como sempre. De repente, olhei para ela e pensei "mas a tia já morreu, como é que está aqui?". Fiz-lhe uma festa na cara e abracámo-nos as duas, a chorar, confirmando essa triste realidade... E acordei.

Por curiosidade, fui pesquisar sobre o que poderia significar este sonho e, no meio de várias teorias possíveis, encontrei aquela que acho que mais se adequa: como não tivemos tempo de nos despedirmos antes de morrer, o sonho serviu para isso mesmo - para fazer a despedida.

Na passada semana, voltei a sonhar com a minha tia. Íamos as 3 - eu, a minha mãe e ela - a caminhar pela rua. A minha tia estava bem e cheia de apetite. Foi bom vê-la deliciar-se com umas peras acabadinhas de comprar. Então, o mesmo pensamento veio: "mas a tia morreu, como é que posso estar a vê-la aqui?". Olhando como se estivesse fora de mim, percebi que mais ninguém a conseguia ver, porque ela, de facto, não estava ali. Acordei.

Desta vez, não fui procurar saber o que queria dizer este sonho. A minha interpretação surgiu instantaneamente: foi uma forma de saber que, onde quer que esteja, está bem e, por isso mesmo, também nós devemos ficar...

Acabou

 

Foi uma luta breve, mas muito dolorosa para quem a travou, e para quem acompanhou de perto o seu sofrimento.

Hoje, a luta terminou. A batalha não foi ganha. 

Faleceu hoje a minha tia. Ela já esperava, todos nós já esperávamos. Mas, quando acontece, custa-nos sempre a acreditar.

Que descanse agora em paz. E que guardemos sempre a imagem da mulher trabalhadora, humilde e amiga que sempre a caracterizou! Que a guardemos sempre no nosso coração!

Maldito bicho

Todos nós sabemos o que é, todos nós o tememos, todos nós o queremos bem longe da nossa porta.

É certo que ele faz-nos questão de lembrar que veio para ficar, que cada vez tem mais força e ataca mais pessoas. 

Num dia é um actor ou actriz conhecida, no outro alguém que é da nossa terra, vizinhos, familiares de amigos, até mesmo aqui, no mundo dos blogs, ele está presente.

Conhecemos a dor, conhecemos a luta, mas não sabemos como é lidar diariamente com ela. Ficamos sensibilizados, chocados, sem saber como seria se um dia nos calhasse a nós.

Falo, como já devem ter percebido, do cancro. Foi esse que, depois de ter andado pelas redondezas, resolveu agora aproximar-se mais e atingir a minha tia.

Ninguém merece passar por isso, e a minha tia, sem dúvida, não merecia! Não somos do mesmo sangue, é minha tia por afinidade. Mas isso é um mero promenor. Desde pequena que convivo com ela. Os natais, eram sempre passados com ela. E quantas vezes brinquei com as minhas primas lá em casa. Sempre foi uma mulher simples, alegre, brincalhona, trabalhadora, lutadora. Sempre esteve lá pronta a ajudar. Quase todos os dias a víamos quando tinha o café ao pé da nossa casa. Quando deixou, era frequente vê-la em casa dos meus pais, ao fim de semana, a jogar às cartas com o meu tio e com eles!

No momento de escolher alguém para minha madrinha de baptismo, foi a ela que escolhi. Não pelo dinheiro que tem, mas porque era aquela que, para mim, fazia mais sentido.

Agora, sem ninguém estar à espera, acontece-lhe isto. E não é que eu deseje mal a alguém, não desejo. Mas há tanta gente ruim neste mundo que ainda cá fica, enquanto que pessoas como a minha tia partem.

Os médicos não foram muito animadores - não vale a pena operar. Hoje vai saber a que tratamento se irá submeter. Fica a dúvida permanente - valerá a pena o sofrimento que o mesmo vai provocar, ou será em vão, servindo apenas para adiar o destino que se adivinha?

Há que ter fé, esperança, e acreditar que ela, contra todas as contrariedades e prognósticos, vai vencer esta batalha.

Ontem fui visitá-la - é sempre um momento complicado. Vê-la de repente numa cama, quase sem se poder mexer, com o desânimo estampado no rosto, apesar de disfarçar. Nem sabemos bem o que havemos de dizer, se não tocar no assunto, ou se falar abertamente. Não foi fácil, principalmente quando as lágrimas lhe começaram a cair.

É frustrante para ela, que sempre foi activa, precisar agora de ajuda para coisas tão simples como caminhar ou tomar um banho. 

A minha filhota, tão querida, acabou por animar um bocadinho quando se virou para a tia e disse "já sabes que para a próxima tens que pedir ajuda ao teu marido"!

Quanto a mim, fiquei para trás um bocadinho para ficarmos as duas sozinhas e lhe dar uma força, e fazê-la perceber, embora ela saiba, que se a família sofre por ela é porque a ama, e ela não tem que se preocupar com isso, mas sim em lutar e ficar boa, para ainda cá estar muitos mais anos entre nós, como sempre a conhecemos!