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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

A experiência traumatizante de um internamento hospitalar

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Ninguém vai, de ânimo leve, para um hospital.

Sobretudo, pessoas com mais idade. 

Pessoas que, felizmente, nunca precisaram de estar em hospitais anteriormente.

Pessoas que acham que está na sua hora. E que já perderam alguém, há muito pouco tempo.

O medo/ precaução do Covid tornou tudo ainda pior, se é que isso é possível.

 

Primeiro dia:

Faz hoje uma semana que o meu pai foi para Santa Maria.

Foi de ambulância. 

Passou pelo covidário, tendo sido, depois, recambiado para a zona dos "amarelos". Onde a minha mãe tinha estado, quando a levámos a primeira vez.

Só que, desta vez, não permitiam acompanhantes.

Ou seja, o meu pai, que não tem paciência nenhuma, sabendo que está numa situação não muito famosa, teve que ficar ali dentro, sozinho, horas a fio, juntamente com todos os outros que estavam em situações idênticas.

O meu irmão estava lá, do lado de fora. Mas, num dia inteiro, foi preciso chegar ao final do dia para que um segurança compreensivo deixasse o meu irmão entrar por 5 minutos, e uma enfermeira simpática permitisse que o meu irmão pudesse ficar com o pai durante cerca de 1 hora.

O meu pai ia falando connosco pelo telemóvel. Estava consciente. Sabia que ia ficar lá.

Ver o filho, no meio de toda aquela situação, fê-lo sentir que não estava sozinho. Nem todos tiveram a mesma sorte.

 

Segundo dia:

O meu pai continuava nos "amarelos".

Pelos vistos, passou lá a noite, e todo o dia de quarta-feira. 

Sozinho. Numa maca, provavelmente. No meio da confusão. Já sem conseguirmos falar com ele, porque ficou sem bateria no telemóvel.

 

Terceiro dia:

A médica informa-nos que o nosso pai passou a noite agitado, e apresentava alguma confusão mental.

Só poderia ser o stress de estar ali internado, pensámos.

A verdade é que, a partir do momento em que uma pessoa está num hospital, começa a perder as suas referências. Toda a sua rotina é alterada. Juntemos a isso a medicação, a saturação, o problema em si, e o estar-se sozinho, sem conseguir falar com ninguém.

O meu pai estava com máscara de oxigénio, a tratar uma insuficiência cardíaca que lhe afectou a parte respiratória e renal e, eventualmente, poderia ter causado danos no cérebro.

Tiraram-lhe o telemóvel porque estava muito agitado. E nós continuávamos sem perceber bem que agitação era essa.

 

Quarto dia:

Finalmente, o meu pai teria uma visita!

O meu irmão poderia vê-lo, durante meia hora.

Foi nesse dia que percebemos a real dimensão do trauma que o internamento lhe causou. Tal foi o choque.

Quem não o conhecesse, diria que tinha problemas mentais. Fez, inclusive, nesse dia, uma TAC ao crânio.

Embora com alguns momentos de lucidez, logo se escapava para outro mundo.

Achava que ninguém sabia onde ele estava, e que o tinham raptado, e mantido ali preso. O que não anda muito longe da verdade. Tiveram mesmo que adoptar medidas de contenção, à noite, e sedá-lo, para que parasse de gritar, e de se levantar para sair do quarto e ir embora.

Dizia ao meu irmão que tinha que ir para o hospital. Que, na "clínica" onde tinha estado (os "amarelos", supomos), não lhe tinham feito nada.

 

Quinto dia:

Teve direito a mais uma visita, desta vez, do irmão. 

Continuava confuso. Muito debilitado.

Queria ir à rua. Sair daquele quarto.

 

Sexto dia:

Nova visita, desta vez, da minha prima.

E começámos a ver a luz ao fundo do túnel.

O facto de ir lá gente vê-lo, talvez o tenha acalmado e, acalmando, reduziram os sedativos. Menos "drogado", o discernimento começou a regressar.

Já tinha um discurso mais coerente, embora por telefone, não se percebesse muito, devido à fraqueza dele.

 

Sétimo dia:

A médica informa-nos que ele já voltou ao normal, estava consciente, coerente, triste por não ver a filha, e farto de estar no hospital.

A TAC não acusou nada.

Está a melhorar e a recuperar do problema, e terá alta em breve, se continuar assim.

 

Oitavo dia:

Hoje, vai ter a visita do genro.

Vamos experimentar levar o telemóvel dele, que entretanto nos devolveram porque ele não o podia ter com ele, para ele voltar a estar contactável.

 

Passaram-se oito dias, que pareceram, a ele e a nós, uma eternidade, com alguns sustos pelo meio. No caso do meu irmão, o choque de o ver pessoalmente num estado que nunca imaginaríamos.

Para uma pessoa como o meu pai, cheio de força interior, chegar àquele ponto de os médicos pensarem que ele tinha algum distúrbio mental, imaginem o trauma.

E, da minha parte, ter que passar por tudo isto à distância, por conta do covid. Dependente de notícias de quem lá ia vê-lo, e da médica, com quem tenho falado sempre, ou de auxiliares. Sem poder vê-lo, descansá-lo, acalmá-lo.

 

Claro que isto não acontece com toda a gente que é internada.

Estava uma senhora, ao lado dele, já mais que habituada a esta andanças, e estava ali na boa, conversando e contando algumas das coisas que tinham acontecido com o meu pai.

Mas pode acontecer a muita gente, sobretudo numa altura em que, aos doentes, é tirado o suporte familiar do acompanhamento, o contacto directo com a família ao longo dos dias, e as visitas são tão poucas, e tão pouco tempo (1 única pessoa por dia, durante meia hora).

 

Eu, continuo de castigo, à espera do certificado de recuperação, para poder entrar no hospital.

Esperemos que ele venha para casa antes disso.

E que não venha com sequelas psicológicas, de toda esta experiência! 

15 minutos a suster a respiração

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Hoje de manhã fui levar a minha filha à escola. Não chovia muito. 

Como ainda tinha tempo, voltei a casa, em vez de seguir directamente para o trabalho. Ainda em casa, vejo um relâmpago. Mau sinal. Oiço o trovão ao longe.

Quando voltei a sair, chovia a potes. Fiz uma paragem na casa da minha mãe, para deixar algumas coisas, e ver se a chuva acalmava. 

De repente, outro relâmpago. E mais dois de seguida. "Estou feita!", pensei.

 

 

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Quem me conhece, sabe que sempre andei na rua a trovejar e nunca tive medo.

Até que, em 2011, por esta altura, apanhei um susto tão grande que me deixou traumatizada. Precisamente quando estava a ir, de manhã, para o trabalho. 

Estava a chover e trovejar. Eu tinha andado meia dúzia de metros quando, de repente, ficou tudo branco à minha volta e, quase simultaneamente, um estrondoso trovão pareceu deitar tudo abaixo.

Só me lembro de ter pensado que tinha morrido ali mesmo "Já fui"! Fiquei em estado de choque!

Desatei a chorar no meio da rua. Consegui ligar para o meu marido e ir falando com ele, enquanto caminhava até ao trabalho. Fui acalmando, embora algum tempo depois ainda tremesse.

A partir desse dia, sempre que tenho que andar na rua com trovoada, entro em pânico. Cada relâmpago, cada salto! 

 

 

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Mas como não tinha outro remédio senão vir trabalhar, lá me fiz ao caminho, aproveitando que a chuva era mais fraca. Foram 15 minutos a modos que a "suster a respiração", até finalmente chegar ao destino, momento em que pude respirar de alívio, são e salva!

A ver a minha vidinha andar para trás

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Desde o acidente que tivemos em 2015, que é conhecido o meu trauma por camiões.

Depois desse acidente, já apanhei três ou quatro sustos, alguns mais por ilusão de óptica, outros mais justificados.

Hoje foi dia de ver, novamente, a minha vidinha andar para trás, à custa de um camião.

O meu marido entra na rotunda, partindo do princípio que o dito cujo, como não fez pisca, seguiria em frente. Eu também esperava que assim fosse, mas não. O camionista, mesmo não tendo feito pisca, virou para o nosso lado, e foi por um triz (e porque o meu marido entrou devagar talvez já a prever essa situação) que o camião não chocou connosco.

A Viagem de Arlo

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Desde que ouvi falar pela primeira vez deste filme, que o quis ir ver ao cinema. 

Na altura, acabou por não se proporcionar. No entanto, no passado domingo, como tínhamos gravado, decidimos ver os três, para terminar a tarde em família, no quentinho. 

Posso dizer que é dos melhores filmes de animação que já vi, e recomendo a quem ainda não teve oportunidade de o fazer!

 

 

 

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Tudo começa com o nascimento de três dinossauros, perante um pai e uma mãe expectantes por ver pela primeira vez as suas crias. Eram três ovos de tamanhos diferentes. Os dois menores, escondiam bebés de tamanho normal e muito activos e traquinas. O terceiro ovo, o maior, para surpresa dos pais, trouxe um pequenino dinossauro, muito medricas, e sem saber muito bem o que fazer agora que saíra do ovo - Arlo.

 

 

 

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Arlo era, de certa forma, discriminado pelos irmãos por ter medo de tudo, e não conseguir fazer nada do que era suposto, como deveria ser feito, atrapalhando assim o trabalho deles também. Os pais, para guardar o produto das colheitas para o inverno, construíram uma espécie de celeiro em pedra, e era lá que colocavam as marcas das patas, quando assim o merecessem, por terem feito algo de grandioso.

Já todos tinham deixado a sua marca, menos Arlo. E isso deixava-o triste.

 

 

 

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Um dia, o pai dá-lhe uma missão: apanhar a "criatura" que lhes andava a roubar a comida armazenada. Se ele conseguisse fazê-lo, teria direito à sua própria marca.

No entanto, Arlo deixou a criatura fugir, ao invés de a matar. O pai, frustrado e tentando mostrar ao filho como devia ter agido, acaba por ir longe demais e, quando se apercebe disso, é tarde. Num gesto que quase se poderia interpretar como um pedido de desculpas, e para salvar a vida do filho, acaba ele por morrer. E Arlo fica com um trauma que dificilmente irá ultrapassar.

 

 

 

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Sem o marido para fazer o trabalho mais duro, sobra para a mãe de Arlo e os irmãos tentarem terminar as colheitas antes que chegue o inverno. Arlo continua a não ser de grande ajuda, embora tente sempre dar o seu melhor. 

Um dia, ele apanha a "criatura" dentro do celeiro, e decide ir atrás dele para o apanhar de uma vez. Mas um acidente acaba por levar Arlo para longe da família.

 

 

 

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É a partir desse momento que começa a viagem de Arlo, para voltar à sua terra, tendo que aprender a conviver com a "criatura", a superar medos, a enfrentar o perigo, e a perceber que há muito mais coragem dentro dele, do que ele próprio imagina.

 

 

 

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Como seria de esperar, embora parecesse improvável num primeiro momento, Arlo e Spot tornam-se grandes amigos e companheiros, defendendo-se um ao outro quando mais precisam.

 

 

 

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E a despedida será o momento mais doloroso. Se, no início, Arlo ainda tentou desviar Spot da família, que julgava morta, percebe depois que é junto dela que Spot deve ficar. Mesmo quando Spot tenta ir com ele, Arlo mantém-se firme, e impede-o.

Porque a verdadeira amizade é mesmo assim - querer que os nossos amigos fiquem bem.

 

 

Conseguirá Arlo encontrar o caminho para casa, e para a sua família? Conseguirá, finalmente, concretizar o seu sonho e colocar a marca no celeiro? Será ele capaz de pôr para trás das costas aquelas imagens que o paralisam, e fazer o que realmente quer?

 

 

A mensagem que retiramos deste filme é também a de que, quando necessário, vamos buscar forças onde nem sabíamos que as tínhamos, quando nos vemos sozinhos, somos obrigados a desenvencilhar-mo-nos da melhor forma, para sobreviver, e enfrentamos os maiores medos que possamos ter, para salvar aqueles que amamos. 

No fim, percebemos que somos alguém completamente diferente daquela pessoa que mostrámos no início, que achámos ser no início. E isso é tão bom!

Uma das piores viagens que já fiz

 

Comecei com fé e confiança mas, pouco tempo depois de estar na estrada, tudo mudou.

Passei de alguém que ia sempre distraída e não se apercebia de nada, a alguém que não consegue parar de olhar para a estrada, para os carros e para tudo o que acontece à volta.

Assustei-me várias vezes, o meu coração disparou outras tantas, chorei algumas vezes, fui rígida e tensa como uma estaca e ansiosa para que chegássemos ao destino.

Não apreciei a música, nem as belas paisagens que ia encontrando pelo caminho.

Na praia, pude finalmente descomprimir, relaxar um pouco e preparar-me para o regresso. Curiosamente, custou-me menos vir para casa, à noite.

Dizem os especialistas que estes traumas levam o seu tempo a passar. Espero que não seja muito.

A verdade é que não estamos seguros em lado nenhum, mas eu não me sinto segura na estrada. Sinto-me muito pequenina e frágil dentro de um carro. Pelo menos num autocarro estou lá em cima!

Não sei se algum dia me voltarei a sentir como antes do acidente mas, enquanto isso, tenho que continuar a andar e esperar que a cada viagem tudo se torne menos difícil.