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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Sentir a "dor" dos filhos

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Dizem que as mães sentem as dores dos filhos.

Seja ainda dentro da barriga, se algo não está bem.

Seja cá fora.

Ora pelas cólicas, ou pelos dentes a nascer, quando são bebés.

Ou quando apanham aquelas doenças típicas da infância, e ficam murchinhos.

Ou quando temos que os deixar na escola, entregues a estranhos, e os vemos pedir para não os deixarmos.

Seja quando têm dificuldades, ou quando se chateiam com os amigos.

Ou quando querem concretizar um sonho, e não conseguem.

Estamos sempre lá, e sofremos com eles.

Da mesma forma que ficamos felizes quando estão felizes, ficamos tristes quando estão tristes.

 

Até ontem, estava feliz, porque a minha filha também o estava.

Mas a felicidade depressa escapa por entre os dedos.

A dela, foi-se.

O que era para ser uma surpresa boa, tornou-se um pesadelo.

E, ontem, experimentei um outro tipo de dor que, até aqui, desconhecia: a dor dos desgostos de amor dos filhos.

Não é nada comigo, mas sinto-o como se fosse. Ou ainda mais.

Ela chora. E eu choro com ela.

Ela está triste. E eu, também, por ela.

Não posso fazer nada para mudar o desfecho, e trazer-lhe de volta os momentos felizes.

Só posso estar ao lado dela, como sempre, e apoiá-la.

 

Sim, este é o primeiro namorado.

E ela é nova.

Ainda há-de viver outros romances.

Mas este amor era o primeiro.

E estavam tão felizes...

Histórias Soltas #26: Emoções desvairadas

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Lidar com uma emoção de cada vez é uma coisa.

Dá tempo para assimilar.

Para tentar compreender.

Para "digerir".

Para contornar, combater ou eliminar.

Com tempo...

 

Lidar com todas ao mesmo tempo, é bem diferente.

Sem que nada o faça prever, elas chegam.

Desvairadas.

Descontroladas.

Desembestadas.

 

Chegam como uma avalanche.

Que arrebata.

Que engole.

Que desnorteia.

 

Num momento, uma euforia que surge, sabe-se lá de onde.

Capaz de fazer pairar. Quase voar.

Acreditar que ainda não é tarde. 

Que tudo pode mudar. 

Que tudo é possível.

Uma leveza, bem estar e paz, carregada de esperança.

Uma euforia que não é habitual. E que se estranha.

Mas sabe bem.

 

No momento seguinte,  uma tristeza sem motivo.

Sem razão.

Aquele aperto no peito.

Aquele nó na garganta.

Lágrimas que caem fora de horas.

Que não fazem sentido.

 

E, quando a montanha russa de emoções para, depois de várias voltas e loopings, tudo volta ao ponto de onde partiu.

A realidade do costume.

O "voltar à Terra".

O corpo a dar sinal de que não se deu bem com toda esta loucura. 

A pedir descanso, para recuperar.

 

E, depois, é como se nada tivesse acontecido.

Nenhuma emoção estranha.

Nada de anormal.

Tudo está no lugar de sempre.

Que, muitas vezes, não é lugar nenhum...

 

 

 

Músicas que nos tocam: Christmas Lights, dos Coldplay

 

A primeira vez que ouvi esta música estava eu a sair do trabalho, e era a que tocava no momento na rua.

Não a conhecia.

Mas mexeu comigo.

Quando dei por mim, estava com lágrimas nos olhos.

 

Talvez o momento não tenha sido o melhor: tinha acabado de saber que o pai de um amigo do meu marido tinha falecido.

E isso fez-me solidarizar-me com ele, porque acabámos por passar por situações semelhantes e, inevitavelmente, as lágrimas eram por ele, que tinha acabado de perder o pai, e por mim, que perdi a minha mãe.

 

No entanto, hoje voltei a ouvi-la.

E voltou a tocar-me.

Definitivamente, é uma música que me comove.

 

Que me transmite nostalgia, saudade, desilusão mas, ao mesmo tempo, esperança.

Que me deixa triste mas, ao mesmo tempo, me faz sorrir.

É difícil de explicar.

 

Mas não o são todas as músicas que nos atingem o coração?! 

Fomos roubados na praia de Carcavelos

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Será que posso voltar atrás no tempo, ao momento em que as férias ainda não tinham começado?

É que isto não está a correr nada bem. E ainda só estamos na primeira semana.

 

Depois de receber notícias não muito boas, relativamente a um problema de saúde (que falarei num outro post), tínhamos que ser roubados.

Ou, como o meu marido diz, furtados, porque não envolveu violência.

Para mim dá no mesmo: ficámos sem as coisas, e com o prejuízo.

 

Foi burrice e estupidez?

Foi!

Foi excesso de confiança?

Foi!

Foi ingenuidade?

Foi!

 

Foi um pouco de tudo.

Já sabemos a fama que a praia tem.

E, mesmo assim, fizemos tudo mal. 

Mas, que raio, sempre fomos às praias da Ericeira, Troia, Peniche e por aí fora, sem problemas, e sem medos.

Mesmo nesta praia de Carcavelos, ainda no outro dia lá tínhamos estado. E correu bem.

 

Mas, nesta quinta-feira, estava tudo contra nós.

A minha filha não estava com vontade nenhuma de ir à praia.

Mas eu insisti. Primeiro erro.

O tempo aqui em Mafra estava mais para outono, e Carcavelos era a praia mais próxima, com bom tempo.

 

Quando chegámos, a minha filha queria ir mais para a frente no areal, para junto das pessoas, e mais perto do mar.

Mas eu achei que aí estaria mais frio, e acabámos por ficar mais atrás, e mais isolados. Segundo erro.

 

Colocámos protector solar, tapámos as mochilas com as toalhas, e fomos ao banho. Terceiro e decisivo erro.

 

Quando voltámos, uns minutos depois, a mochila da minha filha tinha desaparecido.

Logo a dela, da pessoa que nem sequer queria ir, e que tinha avisado para não ficarmos ali.

Portanto, ficou sem mochila, sem telemóvel, sem os óculos, sem os fones, sem o casaco, sem a toalha da praia, sem uns objectos sem qualquer valor para o ladrão, mas com valor sentimental para ela, e só não ficou sem roupa para vestir, porque tinha posto o vestido dela no meu saco.

Podiam ter levado a mochila do meu marido. Era velha, e só tinha comida dentro. Mas não.

E podemo-nos dar por felizes de não terem levado tudo.

 

Nessa tarde, houve pelo menos 3 vítimas deste "trabalho de verão".

Quando chegámos à PSP, estavam dois homens a apresentar queixa. Tinham sido roubados, e acabaram por encontrar a mochila na estrada, mas sem nada. 

Depois de apresentarmos queixa, fomos correr a praia, os estacionamentos, os caixotes do lixo, a estrada, para ver se tinham largado a nossa mochila em qualquer lado, depois de levarem o que queriam.

Mas não tivemos sorte.

 

Apenas encontrámos uma mochila num caixote do lixo, com um casaco dentro, que mais tarde fomos entregar na PSP, no momento em que outra das vítimas apresentava queixa, precisamente, o dono da mochila que tínhamos encontrado. Esse homem, nem as chaves do carro tinha.

 

Claro que me culpo por toda esta situação, mesmo sabendo que o único culpado foi o ladrão.

Mas fui eu que insisti.

Fui eu que quis contrariar aquilo que era suposto.

Não queria que nada estragasse as férias. E, no fim, ficámos com elas estragadas.

 

Sim, eu sei que eram só bens materiais. E que, felizmente, não nos aconteceu nada.

Mas a tristeza da minha filha era evidente.

Ela, que não queria ir, foi a única prejudicada. A que ficou a perder.

E, agora, ficou com medo de ir à praia, seja ela qual for, e voltar a perder as suas coisas.

 

Mesmo que ela diga que agora é seguir em frente, e que não vale a pena estar remoer no assunto, não me esqueço.

O telemóvel e os óculos, compram-se novos. É uma despesa que não estávamos à espera, que nos arrasa com o orçamento, mas é o preço a pagar. E mesmo assim, não conseguimos iguais. Que era o que ela gostava.

Mas tudo o resto, provavelmente, nunca vamos conseguir recuperar. São objectos com muitos anos, e que já não existem.

 

Sabe-se lá o que o ladrão fez com elas, se deitou para o lixo o que não interessava, se deixou em algum sítio para ser encontrado, se alguém encontrará e, se sim, se se dará ao trabalho de ir entregar à PSP. São muitos "ses", e muito pouca a probabilidade de vir a aparecer o que quer que seja.

 

Sei que não há nada a fazer.

Mas estou mesmo triste com tudo isto.

E vamos ver o que o resto das férias nos reserva...

 

 

 

 

Da guerra...

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A guerra…

Procurei, calmamente, escapar dela.

Eu.

A minha família.

Os meus amigos.

E todos aqueles que aqui estavam, tranquilamente, a viver a sua vida.

 

Não a antevi. Não a percebi.

Para falar a verdade, nem sequer a concebi. Não a imaginei.

E, no entanto, parece que ela estava implícita.

Nas entrelinhas que não vi.

Nas letras pequeninas que ignorei.

 

Falava-se disso, é certo.

Mas acontecer mesmo, não acreditava.

Não queria acreditar.

Até ao dia em que aconteceu.

E percebi que era real.

 

A guerra…

Procurei, racionalmente, contorná-la.

Tentei esconder-me. Mas não o consegui fazer.

Arrisquei enfrentá-la. Afinal, sou forte.

Mas ela fintou-me.

E avisou-me do que me esperava, se continuasse.

 

A guerra…

Procurei, seguramente, afastar-me dela.

Deixando tudo para trás.

Anos de vida. De lutas. De conquistas.

Tudo o que tinha construído. Alcançado.

Não havia tempo.

 

A guerra…

Procurei, apressadamente, salvar-me. E aos meus.

Com o receio, a angústia, e a tristeza a inundar-me.

Com a sensação de perda. De fracasso. De luto.

De lágrimas nos olhos. O coração, nas mãos, apertado.

E uma dor no peito, impossível de descrever.

 

A guerra…

Porque é que, simplesmente, não nos deixam?

Porque é que, simplesmente, não nos respeitam?

Porquê, nós?

Sempre os mesmos.

Os que ficam. Os que partem. Os que já nada podem fazer.

 

A guerra…

Procurei, desesperadamente, fugir dela.

Mas, por mais que fuja, ela persegue-me.

Nenhum lugar é seguro.

Mesmo que assim o creia.

Sinto que não passa de uma ilusão.

 

Mesmo quando me dizem que está tudo bem.

Que estou em segurança, e já não corro perigo.

Sinto que, a qualquer momento, uma bomba pode rebentar.

Um míssil pode cair.

A morte me pode levar.

 

A guerra…

Procuro ter fé. Ter esperança.

Acreditar que o pior já passou.

Que já não corremos perigo.

Mas não passou.

Porque os traumas ficam para sempre.

 

Os traumas.

As marcas.

O medo.

A destruição à nossa volta.

O que se perdeu, e já não se recupera.

 

Perde-se a liberdade.

Perde-se a inocência das crianças.

Perde-se a alegria.

Perde-se a segurança.

Perde-se um povo.

 

A guerra…

Procuro, deste lado, acreditar que vai acabar.

Com um sentimento de gratidão.

Por ter tido a oportunidade de sobreviver.

Ou, quem sabe, desolação.

Por ter perdido os meus, pelo caminho.

 

Do outro lado, os que ficaram de livre vontade.

Para defender a nossa terra.

Ou foram obrigados a ficar.

Para lutar nesta guerra.

Com as armas que têm, e que não têm.

 

A guerra...

Espero, um dia, regressar.

À minha terra. Ao meu país. 

Ter tempo para recomeçar a vida, que ficou suspensa.

Até lá, resta rezar para que mais nenhum inocente sofra.

Nesta guerra que nunca quisémos. E nunca pedimos...