De uma forma geral, muito antes da Covid-19, a vacinação fazia-se com relativa normalidade.
As pessoas seguem o plano de vacinação com confiança, e acreditando que isso lhes vai salvar as vidas, e as dos seus filhos, caso seja necessário sendo que, se não for, também não prejudicam ninguém.
À excepção de uma ligeira febre ou reacção no local da picada, raros são os casos graves de resultantes da vacinação. E uma minoria aquela que insiste em não vacinar.
A vacina da gripe, por exemplo, só a tomava quem queria. Ninguém obrigava ninguém a tomá-la.
Os que tomavam ficavam, muitas vezes, com sintomas da gripe. E diziam "fui levar a vacina, mas acabei por ter gripe". Uns, desistiam. Outros, achavam que era um "mal necessário" em prol de uma protecção, a longo prazo (não muito longo, visto que a vacina é anual), maior e melhor.
As vacinas que são obrigatórias em determinadas viagens, também nunca ninguém as contestou.
Era muito simples: se queriam viajar, tinham que se vacinar. E levavam as vacinas. E viajavam.
Lembro-me, por exemplo, da vacina da meningite, que ainda não fazia parte do plano de vacinação no tempo da minha filha. Tinha que ser paga pelos pais, e havia duas à escolha. Uma mais cara que a outra. Éramos nós, pais, que escolhíamos a que queríamos, comprávamos e levávamos ao centro de saúde, para ser administrada.
Mais recentemente, veio a vacina contra o Vírus do Papiloma Humano (HPV).
Esta mais debatida, por a ela estarem associados alguns efeitos indesejáveis e problemas que teriam resultado da sua administração.
Com esta, muitos pais ficaram receosos, e optaram por não sujeitar os filhos à administração da mesma.
Eu não vi problemas, e a minha filha levou-a logo aos 13 anos.
Mais uma vez, houve hipótese de escolha.
Agora, em pleno século XXI, chegam as vacinas contra a Covid-19.
Vacinas criadas em tempo recorde, ou não fosse grave e urgente a situação que levou a criá-las.
Por vezes, a pressa é inimiga da perfeição. A urgência faz saltar etapas, e ocultar determinadas informações. Ou não conseguir detectar tudo o que pudesse não correr como previsto.
Mas, outras, até se consegue um bom trabalho, e eficaz.
Apesar da pressão exercida sobre a população, para que seja vacinada (e que acredito que seja ainda maior no que respeita a contratações laborais, ou acessos a determinados locais, um pouco como o fazem as escolas com as vacinas que já constam do plano de vacinação), e eventual discriminação para com aqueles que não a querem levar, a vacina não é obrigatória. Pelo menos, na teoria, só a leva quem quer. Na prática, terão que levar aqueles que quiserem aceder a algo, que obrigue a tê-la.
Sendo uma escolha, e havendo várias à escolha, apesar de se afirmar que, se estão no mercado, é porque são todas fiáveis, penso que cada um deveria tomar aquela que preferisse, desde que estivesse disponível.
Outra hipótese seria adoptar uma, gratuita, para o plano nacional de vacinação e, quem não quisesse essa, teria que pagar pela que preferisse, se ou quando estivesse disponível.
Como não é esse o caso, e as vacinas não abundam por aí, cabe a cada um decidir se quer levar já, a que existe, ou se prefere esperar que surjam outras, sujeitando-se às que sobrarem no final, ou a não haver nenhuma.
Não acho que uma vacina deva ser imposta. Muito menos nestas circunstâncias. E com base na falta de escolha, agravada com uma espécie de "chantagem", quando as pessoas já se sentem inseguras.
Mas, da mesma forma, não se pode afirmar que uma vacina não é eficaz, apenas porque algumas pessoas tiveram reacções adversas, com maior ou menor gravidade.
Uma vacina, um medicamento ou um tratamento que foi benéfico para muitos, não deixa de ser bom por algumas pessoas não se darem com ele.
A penicilina, por exemplo, presente em antibióticos ou através de injecções, é uma das maiores "armas" da medicina e, no entanto, há pessoas que são alérgicas, e que podem ter consequências graves em contacto com ela. Mas não é por isso que a penicilina deixa de ser eficaz e útil, e se perde a confiança nela.
Um médico que salva dezenas de vidas, perde uma ou duas. Deixa de ser bom médico por isso?
O que se passa é que ainda não houve tempo para as pessoas ganharem confiança.
Ainda não houve tempo para as pessoas encararem as vacinas anti Covid-19 como uma outra qualquer.
A urgência, não deixa a poeira baixar.
A falta de dados concretos quanto à eficácia ou tempo de imunização, bem como de quanto em quanto tempo terá que ser levada, impede-nos de confiar.
O facto de vir apenas com a promessa de uma eventual menor gravidade na contracção da doença, mantendo-se todas as medidas preventivas como até aqui, faz duvidar da utilidade da mesma.
A verdade é que podemos contagiar, e ser contagiados, ainda que tenhamos levado a vacina.
Uma coisa é certa: tal como em qualquer decisão que se tome na vida, teremos que assumir a responsabilidade pela mesma, e lidar com as suas consequências.
Se levarmos a vacina, e tivermos o azar de ter problemas, vamos sempre pensar "mais valia não ter levado". Se não a levarmos, e formos parar a uma cama de hospital por conta disso, pensamos "porque é que não levei a vacina".
Nada é garantido, nada é 100% seguro e eficaz, e uma acção gera sempre uma reacção, da mesma forma que uma decisão acarreta sempre uma responsabilização.
Resta decidir com confiança, positivismo e com o máximo de informação que seja necessária a essa decisão, seja ela tomada agora, ou adiada.
Imagem: jornaleconomico