Coisas

Há coisas que, quanto mais tempo nos privamos delas, menos sentimos a sua falta.
Mais nos habituamos a não as ter.
Menos necessidade temos das mesmas.
Talvez seja um sentimento ilusório.
Porque, muitas vezes, quando temos a oportunidade de experimentá-las de novo, percebemos que, afinal, ainda gostamos delas.
Que ainda nos sabem bem.
Que nem sabíamos que nos faziam falta.
Ainda assim, com algumas dessas coisas, sabemos que é diferente.
É certo que as adoramos.
Que não queremos que deixem de fazer parte da nossa vida.
Que esperamos que, de vez em quando, possamos usufruir delas, aproveitá-las ao máximo.
Mas não permamentemente.
Como se esse tempo já tivesse passado, e não voltasse mais.
Como se fosse mais prejudicial, do que saudável, ou até extenuante, lidar com elas todos os dias.
Há coisas que nos sabem bem apenas em determinados momentos, porque é nesses pequenos momentos que elas se tornam especiais.
Como se fosse um presente.
Algo que apenas apreciamos verdadeiramente, porque é esporádico e, por isso mesmo, lhe damos mais valor.
Mas que sabemos que, regularmente, o perderia. Seria apenas algo banal.
E, com outras, talvez nos estejamos apenas a enganar.
Talvez não as queiramos a tempo inteiro, por receio de nos habituarmos a elas de novo, e de não conseguirmos abrir mão delas.
Talvez seja mais fácil acreditar que não nos fazem falta, não as tendo, do que sentir a sua falta, tendo-as.
Ou talvez estejamos sob um feitiço, ou anestesia, cujo o efeito facilmente se quebra quando nos voltamos a deparar com elas.



