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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Que demónio é este?...

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Mas que demónio é este, que por aqui ciranda?

Seja ele qual for, que volte depressa para de onde veio.

É impossível andar na rua.

 

Mal uma pessoa sai, fica à mercê dele.

Revoltoso, gélido, sem dar um único segundo de tréguas.

Esbofeteia-nos de um lado. E do outro.

Empurra-nos, fazendo-nos acelerar mesmo sem querer. Outras vezes, trava-nos, como se nos tentasse impedir de seguir caminho.

Desorienta-nos.

 

Já não basta a chama intensa que nos fere os olhos, também ele quase nos cega.

Enquanto nos debatemos com ele, nem nos atrevemos a respirar. Sustemos a respiração, até estarmos em relativa segurança.

Que só chega quando entramos em casa.

Até então, percorremos o caminho o melhor que conseguimos, quase sem o ver, em modo automatico, porque perceber onde estamos e com o que estamos a lidar é doloroso e cansativo demais.

 

Na rua, o demónio anda à solta.

Chama-se vento.

Já deveríamos estar habituados.

Mas o vento nem sempre está assim.

Com esta fúria desmedida. Com esta raiva descontrolada.

A fustigar cada centímetro da nossa pele, e do nosso corpo.

 

Em casa, continuamos a ouvi-lo.

A sentir que ele tenta, de todas as formas, quebrar as barreiras. Chegar até nós.

Mas não consegue.

E nós podemos, então, tranquilamente, abrir os olhos, que demoram a habituar-se à calmaria.

Podemos respirar de alívio.

Podemos descontrair o corpo que, só então, percebemos como estava contraído, e relaxar.

 

Até à próxima luta, quando tivermos que voltar à rua, e enfrentá-lo novamente.

 

 

A flor

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Era uma vez uma flor, com lindas pétalas amarelas.

Nos dias de sol, era vê-la aberta, a receber o calor, a energia, a viver e fazer as delícias de quem por ela passava, e a via por ali em todo o seu explendor.

Já nos dias em que o sol se escondia atrás das nuvens, também ela se mantinha fechada, protegida, para que nada lhe acontecesse.

 

Havia uma menina que, todos os dias, quando por ali passava, olhava para a flor, ora aberta, ora fechada, como se já fosse um gesto rotineiro, e familiar.

E foi assim que começou a reparar que, ao contrário do habitual, nos últimos dias, a flor continuava fechada, sem dar sinal de vida.

A menina estranhou, e decidiu aproximar-se mais da flor.

Foi então que percebeu que a flor não podia mais abrir, porque tinha perdido todas as pétalas. Tinha perdido parte de si.

 

A flor contou-lhe, então, desolada, que num dia em que estava sol, ela tinha aberto, como era habitual, mas não percebeu que um vento forte se estava a aproximar e, quando ele passou por ela, com tal força e velocidade, arrancou-lhe pétala por pétala, sem lhe dar tempo para se resguardar.

 

Tinha "baixado a guarda", confiado, e fora traída.

Agora, era uma flor incompleta, sem graça, murcha, sem vontade de viver.

Nunca mais seria a mesma.

 

A menina, querendo animá-la, disse-lhe que agora, ela seria diferente, mas não menos bonita.

Simplesmente, agora tinha-se transformado numa flor apétala. 

Mas muito mais forte. Uma sobrevivente.

E garantiu-lhe que ia continuar a passar por ali, e admirá-la ainda mais!

Somos parte da Natureza...

(e agimos como ela)

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Porque é que não está sempre sol?

Porque a chuva também faz falta. 

Sem sol, não haveria chuva. E, sem chuva, não haveria sol.

Porque é que não nos sentimos sempre felizes?

Porque a tristeza também faz falta.

Sem felicidade, não haveria tristeza. E, sem tristeza, não haveria felicidade.

 

Podemos viver vários momentos felizes mas a verdade é que as outras emoções, tal como as gotas que se evaporam e formam as nuvens, também se vão acumulando e, quando percebemos, é necessário descarregá-las, tal como a chuva que cai. 

Um céu não está permanentemente coberto de nuvens, sem que o sol volte a espreitar. Da mesma forma, também não nos sentimos sempre tristes, em baixo, deprimidos, sem que a alegria nos volte a contagiar, e levar a melhor.

 

Um vulcão pode estar inactivo durante anos e anos. No entanto, volta e meia, ele entra em erupção. Da mesma forma que nós podemos manter a nossa calma e tranquilidade mas, um dia, podemos explodir.

Tal como o vento, mais suave, ou mais furioso, também nós, por vezes, nos mostramos mais ou menos agitados e, uma vez ou outra, levamos tudo à nossa frente. Ou somos levados.

Por vezes, tal como os trovões, levantamos a voz, discutimos, e as nossas palavras podem cair como raios, nos outros, ou as dos outros, em nós.

Mas, com a mesma rapidez com que acontece, também passa.

Não sem, claro, deixar a marca da sua passagem, do seu efeito.

Umas, mais vincadas e profundas que outras.

 

Também nós, à semelhança de um terramoto, estremecemos, trememos, abanamos o nosso mundo e o dos outros, por vezes, abrindo fendas que poderão não voltar a fechar.

Ou, tal como um tsunami, quantas vezes sentimos que nos vamos afundar naquela imensidade e força da água, contra a qual parecemos impotentes?

Mas, se sobrevivermos, cada um de nós aprende a reconstruir-se. 

 

Podemos estar mais murchos em determinadas alturas, sem ânimo, sem "vida", como as plantas que secam. Mas, noutras, algo nos faz ganhar de novo a vivacidade, arrebitar, voltar a dar e mostrar o melhor de nós.

 

No fundo, somos parte da Natureza. 

E, por isso, agimos como ela.

 

 

Depressão Bárbara: em tão pouco tempo, já fez tanto estrago

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Ainda estava eu na cama, de madrugada, e já se ouvia o vento lá fora.

D. Bárbara a caminho, e os pagens à frente a anunciar a chegada.

Mas o céu estava relativamente limpo e, não custava tentar. Por isso, estendi algumas peças de roupa mais pequenas, deixando o resto para secar mais tarde na máquina.

Se não chovesse até ao almoço, já ficava com aquela enxuta, e poupava na eletricidade.

 

A meio da manhã, vejo o tempo a ficar escuro. 

D. Bárbara deve ter apanhado a via rápida, a autoestrada, ou um qualquer atalho, e estava a chegar mais cedo que o previsto.

Ia enviar mensagem para a minha filha me apanhar a roupa mas, no telemóvel, tinha uma outra, do meu marido, a avisar que o estendal tinha caído, mas que a roupa estava sã e salva, em casa.

Bendito pai que foi despejar o lixo, viu o estendal caído e, com a ajuda da vizinha, me apanhou tudo.

Ou quase tudo...

Quando cheguei a casa, deparei-me com os elásticos do cabelo, o casaco da minha filha e um pano da loiça espalhados pelo chão. E lá foram para lavar de novo.

 

Antes disso, pelo caminho, tive a imensa sorte de um autocarro passar ao meu lado, e me dar um banho!

 

Já em casa, andava a minha filha de espanador e esfregona na mão, porque a chuva tinha entrado no quarto dela e o chão estava todo alagado.

Mas como estava na hora de ir para as aulas, e a chuva não parava, achei por bem chamar um táxi para a levar à escola. Não convém apanhar molhas e ficar doente em casa. Logo agora que está em semanas de testes.

Só que, não havia táxis!

O que eu costumo chamar, não estava por cá, nem o pai. E avisou-me logo que já várias pessoas tinham tentado ligar para a praça de táxis, e ninguém atendia, porque andava tudo a fazer serviços.

Boa! E agora?

Lá andei a pesquisar e liguei para um número de telemóvel que me desenrascou. Menos uma preocupação.

 

Com a casa de volta a uma relativa ordem, pus-me a caminho do trabalho. Nestes dias, costumo ir por uma rua em que tenho prédios com telheiro, onde dá para proteger um pouco mais mas, hoje, com a Depressão Bárbara ao comando, posso dizer que, em 41 anos, nem isso me valeu, e apanhei a maior molha de sempre.

Até ver...

Porque dizem que o pior ainda está por vir amanhã!

 

Alguém que invente aí a aplicação "Stayaway Bárbara", e a mande embora depressa?

É que, em tão pouco tempo, já fez muitos estragos na minha vidinha.

Juro que, se algum dia vier a ter outra filha, Bárbara é daqueles nomes que estão automaticamente fora de questão!