Existem dias perfeitos?
Ou dias imperfeitos, vividos por pessoas imperfeitas, que resultam em momentos perfeitos para cada um de nós, ainda que possam ser imperfeitos aos olhos dos outros?
Numa destas semanas, recebi um email da Wook a anunciar o livro "Fala-me de Um Dia Perfeito". Li a sinopse, gostei, e adicionei à minha (cada vez maior) lista de livros a comprar.
Uns dias depois, recebo um email da Netflix a informar sobre a estreia do filme "Fala-me de Um Dia Perfeito". Vi que era sobre adolescentes mas, pelo resumo, não dava para ver muito mais. No final do dia até sugeri o filme à minha filha.
E foi nessa altura, ao pesquisar mais sobre o filme, que percebi que era a história do livro que eu tinha na minha lista. Embora com ligeiras diferenças.
Como o filme não me custava nada, acabei por vê-lo antes de ler o livro.
Tinha lido que, no fim de semana anterior, este tinha sido o filme mais visto na Netflix. Queria perceber se, realmente, valia a pena.
E, sinceramente, não correspondeu às expectativas. Foi um filme, para mim, muito imperfeito, apesar das intenções perfeitas que lhe terão dado origem.
Se a intenção era alertar para a dificuldade em lidar com a perda de alguém que amamos e perceber como é difícil utrapassar essa perda, tudo isso foi muito mal explorado, e pareceu demasiado simples.
Se a ideia era consciencializar para a dificuldade em lidar com traumas do passado, e ultrapassá-los, também esse aspecto foi pouco desenvolvido e aprofundado.
Se pretendiam mostrar um pouco da beleza do estado de Indiana, também não foi um objectivo muito bem conseguido.
Se este era para ser um filme romântico, não se viu por ali muito romance, nem uma grande história de amor.
Se era suposto tocar-nos, emocionar-nos, a mim, não conseguiu.
Em certas partes, estava a dar mais sono, que outra coisa.
Parece que estavam com alguma pressa, juntaram ali tudo o melhor que conseguiram para fazer o mínimo sentido e pronto.
Como um puzzle, em que algumas peças não são bem dali mas, com jeitinho, até cabem e, à distância, ninguém percebe que não estão no sítio certo.
O meu destaque vai para a interpretação de Justice Smith, que conhecemos de outro filme do género (bem melhor que este) - A Cada Dia - na pele de Theodore Finch.
Um jovem de 17 anos, com um passado ainda por resolver, que ele não consegue esquecer nem lidar com, e que o faz parecer, aos que o rodeiam e não o conhecem verdadeiramente, o "anormal".
Será ele o responsável para voltar a fazer Violet sorrir, e ultrapassar os seus problemas, após a morte da sua irmã.
E é ele que me leva a uma questão: "Podemos ajudar os outros, ainda que não nos consigamos ajudar a nós próprios? Servirão os conselhos que damos aos outros, apenas para eles, e não para nós? E porque, apesar de fazermos tudo para ajudar os outros, não nos permitimos, de forma alguma, ser ajudados?"