"Titan" - o documentário
Não sou muito fã de documentários.
E este não foi excepção.
Demasiado extenso. Demasiado "secante". Demasiado técnico.
Talvez estivesse à espera de algo mais emocional, pelos testemunhos dos familiares.
Ou de uma espécie de simulação do que aconteceu, desde a entrada no submersível, até à implosão.
Mas não foram por aí.
O que se retira, do documentário, é que muitas pessoas sabiam dos problemas, dos erros, das infracções. Muitas vezes, denunciadas. Mas de nada adiantou.
Muitas das pessoas contratadas aceitaram pelo desafio, em termos profissionais e pelo que o conceito significava, ou porque tinham algum fascínio pelo Titanic.
E, dessas, muitas saíram por incompatibilidade de ideias, valores e objectivos, com o "patrão".
A veneração e entusiasmo depressa deram lugar à noção dos riscos, da falta de segurança, e do contornar das regras.
Perceberam que não se tratava de algo feito em prol de todos, mas apenas pelo ego de um só.
Stockton Rush, o CEO da Oceangate, é descrito como um homem que tinha um sonho, e quis torná-lo real. Até aí, tudo bem.
Mas é também descrito como o homem que afasta quem não está com ele. Como dizem, uma crítiica ao projecto, era interpretado como uma crítica a ele próprio e, por isso, quem não estava com ele, estava contra ele.
É descrito como uma pessoa que fazia questão de mostrar que era ele que mandava, que era ele o patrão, e que era dele a última palavra.
Stockton Rush queria fama, a qualquer custo.
E era arrogante!
Segundo ele, ele não morreria no submersível. Ninguém morreria nele. Da mesma forma que, ironicamente, o Titanic era inafundável!
O dinheiro faz destas coisas: dá às pessoas aquela espécie de direito "quero, posso e mando".
E, aos outros, a ousadia de se aventurarem nestas expedições, a qualquer preço, só pela extravagância. Porque podem pagar para tal.
Porque ficariam na história. Só não sabiam a que custo.
Em suma, a tragédia do Titan, aconteceu por negligência técnica, erros humanos, ambição desmedida, e por se privilegiar o circo mediático da inovação em vez da segurança.
No fundo, uma "criança mimada" a brincar com as vidas dos outros (e com a sua própria, como se acreditasse que era imortal), numa brincadeira que, um dia, correu mal.
Afinal, já diz o ditado que "tantas vezes vai o cântaro à fonte que um dia lá deixa a asa".
Do sonho, restam os destroços.
Os materiais.
E os emocionais.
E uma investigação que já dura dois anos, ainda não está concluída, e em que, provavelmente, ninguém será responsabilizado.
Até porque cada um dos que pagava por uma viagem destas, assinava um termo em como "abdicava" da sua vida.