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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Todos nós lá chegaremos, mas...

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... não é fácil.

Está a fazer três anos que o meu pai foi diagnosticado com insuficiência cardíaca, e insuficiência renal.

Desde então, já algumas vezes se foi abaixo, já algumas vezes tememos o pior, e outras tantas, deu a volta e mostrou vontade de por cá continuar.

Desde então, foram algumas as viagens, consultas e um segundo internamento a deixarem-no debilitado, mas de volta a casa, para recuperar.

Desistiu das consultas, rejeitou as eventuais cirurgias, e rejeitará, provavelmente, quando chegar a hora, a hemodiálise.

 

Nestes três anos, com os problemas de saúde a pregarem umas partidas, ficou mais dependente.

A cabeça também não está nos melhores dias. Embora ele tenha plena consciência da sua situação e dificuldades.

É difícil ter uma conversa normal com ele, faz muitas confusões, esquece-se do nome das coisas, temos quase que decifrar o que ele quer dizer.

Para falar com alguém ao telefone, tem que ter alguém para lhe "traduzir" o que, do outro lado, está a ser dito.

 

Ultimamente, queixa-se dos pulmões.

Nota-se a respiração acelerada.

O cansaço.

Uns dias dorme. Outros, nem por isso.

Mas não quer ir ao hospital. Não o censuro. Nem obrigo.

Ele conhece os seus limites e, sempre que se viu aflito, pediu para ir.

Mas a verdade é que, queiramos ou não, está o relógio a andar, em contagem decrescente.

 

Ontem, lembrou-se que tinha que cortar o cabelo.

Pediu ao meu tio para marcar hora no barbeiro.

Num dia de temporal.

Foi apanhar o autocarro da vila, duas horas antes. Não sei, sequer, se passou.

Não sei se não cai, se não escorrega por causa da chuva, se não se engana no barbeiro.

E ainda vai ter que esperar, na rua, que este abra.

 

Sei que vai apanhar frio.

Provavelmente, chuva.

Não sei como vai para casa. 

Pedi para, caso estivesse a chover, chamar um táxi.

Teimoso como é, ainda é capaz de ir a pé.

E, depois, é mais cansaço, e mais uma noite com dores, pelo esforço.

 

Eu sei que ele quer manter e dar uso à pouca autonomia que ainda tem.

Mas, por vezes, isso depois, se correr mal, traduz-se em mais dependência.

 

Não posso ligar para ele, porque ele nem saberá atender o telemóvel (já confunde as teclas) e, mesmo que o atenda, não me ouvirá, pelo que não serve de nada.

Enquanto isso estou eu, aqui, com o "coração nas mãos".

 

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