Valéria, na Netflix
Dizem que “Valéria” é uma espécie de “O Sexo e a Cidade”, mas em espanhol.
Nunca vi “O Sexo e a Cidade”.
Por isso, não consigo comparar ou identificar semelhanças, para além das óbvias – quatro amigas, cada uma com os seus próprios problemas e dilemas mas que, ainda assim, tentam apoiar-se umas às outras, nem sempre com sucesso.
Valéria
Confesso que me identifiquei bastante com a Valéria.
Em primeiro lugar, pelo gosto comum pela escrita, embora ela queira fazê-lo a nível profissional, e eu apenas por lazer.
E em segundo lugar, pela crise no relacionamento que Valéria e Adrián enfrentam, ao fim de 6 anos de casamento.
Neste momento da sua vida, com ele a perder o trabalho como fotógrafo, e ela a resistir, o quanto pode, aceitar um emprego que lhe dê o dinheiro que lhes faz falta, para ter tempo de escrever o seu romance, cada um está mais focado nos seus próprios projectos e objectivos, sem mostrar grande interesse pelo outro.
Desentendem-se por pequenas coisas, pensam de formas cada vez mais diferentes, e situações ou gestos que antes gostavam, ou não ligavam, agora incomodam. Parecem já nada ter em comum.
Está instalada a rotina, e foi-se embora a surpresa, a partilha, a cumplicidade, a sintonia.
É no meio desta crise que surge Víctor, um homem que vai provocar ainda uma maior instabilidade vida da protagonista.
Víctor é homem de várias conquistas, e nenhuma delas duradoura. Traz aquilo que falta ao casamento de Valéria mas, passada a fase da novidade e do deslumbramento, acredito que Valéria sinta falta do outro lado, que o casamento proporcionava, e que uma aventura nunca trará. Ou talvez não...
Afinal, ela é considerada pela família como "a falhada", aquela que tem muitas ideias mas não leva nenhuma avante, que é diferente do resto da família, que não sabe o que quer, nem sabe tomar boas decisões.
E no final, terá duas decisões pela frente que ninguém gostaria de estar no lugar dela, para tomar!
Lola
É uma mulher desinibida, descomplicada, que gosta de aproveitar os pequenos prazeres que a vida lhe dá. Afirma-se satisfeita com o seu caso, com um homem casado, baseado exclusivamente, em sexo, mas iremos facilmente perceber que até Lola precisa de mais do que isso numa relação.
É a mais extrovertida, e doida das amigas. Por vezes, quer tanto ajudar a “desencalhar” estas, que acaba por ser inconveniente.
Adora o irmão, que tenta ajudar sempre que pode, mas não quer saber da mãe, que os abandonou quando eram pequenos.
O ressentimento que sente pela mãe é tanto, a par com o orgulho, que recusa qualquer tentativa de aproximação.
Não condeno que ela não consiga aceitar o que a mãe fez, que não consiga ter vontade de dar uma nova oportunidade.
Mas parece-me que deveria libertar-se desse ressentimento e mágoa que sente, até mesmo para ser mais feliz.
Carmen
Carmen é uma excelente profissional, com uma mente extremamente criativa, mas que não tem tido sorte ao amor.
Quando ele finalmente lhe bate à porta, e acontece no meio laboral, torna-se difícil separar as águas, sobretudo quando um tem mais sucesso que o outro.
Carmen é aquela personagem que vem mostrar que, por vezes, a “traição” vem de onde menos se espera e que, muitas vezes, os conselhos e opiniões que mostramos em relação a um determinado assunto, quando se aplica a outra pessoa, nem sempre são aqueles que seguimos, quando nos diz respeito a nós.
Nerea
É uma lésbica com muitas dificuldades em "sair do armário", pelo menos no que respeita aos pais, com quem vive e trabalha.
A determinado momento, Nerea vai sentir-se excluída e ignorada pelas amigas, que parecem só querer falar de si próprias, sem se importar com o que ela tem a dizer sobre si mesma e, por isso, vai afastar-se e cultivar outras amizades e projectos.
O final pode muito bem ser retomado no ponto em que ficou, e dar origem a mais temporadas, até porque ficou muito por explorar no que respeita a cada uma das personagens.